terça-feira, 29 de setembro de 2009

Montanha

No alto das mais altas montanhas existem seres inexplicáveis. Seres misteriosos que quase nunca são vistos. Seus braços se abrem apenas algumas vezes ao ano e ninguém está lá pra ver e sentir. Seu cheiro doce é carregado suavemente pelo vento que desce a montanha. Sua imagem é tão bela quanto a mais belas das imagens. Mas ninguém acredita em sua existência pelo fato de nunca termos visto tal fenômeno. Somente podemos acançá-los através dos nossos sonhos e somente nos sonhos é que vivemos integralmente a aventura que é poder vê-los nascer, crecer e ir embora. Mas nunca estaremos preparados pra viver em sua companhia. Temos outros compromissos a honrar e não podemos nos desligar abruptamente de nossos senhores. Não somos livres pra escolher aquilo que nos dá prazer. Permanecemos sempre parados ao pé da montanha, olhando pro alto, desejando estar no topo, mas nunca teremos coragem de escolher entre o que temos em nossas mãos agora e a incerteza do que encontraremos lá no alto. Nenhuma beleza vai nos seduzir a esse ponto. Nem o fato de presenciar o fato histórico do desabrochar único de uma vida pode nos retirar a sonolência, que nos faz permanecer algemados ao mastro de um navio, à deriva em alto mar, em uma noite de terríveis tempestades. Afundaremos e morreremos sem nunca ter ao menos nos permitido desejar romper as cordas que nos amarram. E os seres continuarão lá. Ironicamente olhando pra nossa tristeza escolhida. Opitada e decidida. Eles permanecerão lá, mesmo depois de partirmos pra longe da montanha. Contemplarão todas nossas equivocadas escolhas, mas nunca, nunca verão fazermos a escolha certa.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Utopia

Que toda a dor venha acompanhada pela humildade necessária ao aprendizado.
Que toda a noite seja o sonho esperançoso de um novo dia.
Que o dia seja vivido como uma surpresa causada pelo presente.
Que todos os sonhos possam ser um dia realizados.
Que todo o choro de criança não seja por fome, dor ou solidão.
Que o sorriso dos nossos avós não escondam suas tristezas.
Que o sexo seja feito com prazer.
Que as festas não nos façam deixar de ser quem somos.
Que a marca das roupas não corrompam a consciência.
Que os celulares possam finalmente ser utilizados para a comunicação entre as pessoas.
Que a fome se transforme em um sonho há muito tempo sonhado.
Que o meu desejo não seja realizado com prejuízo de outros.
Que reconheçamos Deus existente em cada um de nós.
Que a morte não seja encarada como um ponto final.
Que as feridas jamais deixem cicatrizes profundas.
Que o fogo possa aquietar as almas infelizes.
Que a sede que sentimos não seja apenas de água.
Que a água sirva pra saciar a sede e lavar as almas.
Que a luz, tão preciosa, seja a emissária de novos tempos de paz.
Que essa paz, razão de tantas discórdias, possa ser compreendida em seus mais puros significados.
Que os símbolos que hoje utilizamos sejam ordenados de maneira a significar apenas o amor.
E que esse amor nunca mais saia de nossas bocas e abraços como palavras hipócritas e mentirosas.