sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sociedade Hipócrita



Sociedade hipócrita vivendo dentro de uma redoma de vidro, protegida de todos os males advindos da verdade. A verdade é uma doença que está doente e condenada à morte. Ninguém mais acredita nela, pois é muito mais cômodo viver alienado achando que somos eficientes, competentes e justos. E o que nos imuniza desse mal terrível é o fato de termos Deus no coração. Essa justificativa é a única salvação para que não nos envolvamos com nada e consequentemente não assumamos risco algum. Ficar em cima do muro é decisão da maioria, pois é uma posição estratégica, de onde podemos observar a batalha ilesos, pra depois escolhermos o exército vencedor.

Sociedade hipócrita que vai seguir assim até o final dos tempos. Sempre achando que é muito mais fácil se calar e se omitir a considerar seus próprios erros e aprender com eles. É muito mais fácil se esconder atrás da cortina ou debaixo do tapete. A fé existente não permite que exista ou coexista junto com a mentira e a falsidade a crueza da realidade. As desgraças humanas apenas são escamoteadas em beneficio de uma humildade desgraçadamente prejudicial à vida e aos direitos individuais e coletivos das pessoas.



Sociedade hipócrita que se julga superior e que pensa que está no caminho correto. Com posturas de neutralidade e um pseudo discurso de paz, prega subliminarmente a teoria do não envolvimento com problemas que, se resolvidos, tirariam sua tão desejada inércia e preguiça.

Sociedade hipócrita e desgraçada que perpetua a semente da corrupção como se fosse uma planta preciosa e que nunca deve morrer. Quando o senso comum diz que devemos nos calar e fechar nossos olhos é porque não pode existir outra verdade. Aprendemos a ser assim e somos frutos do maldito meio onde nascemos, crescemos e vivemos. Acostumarmos-nos com isso é uma missão muito difícil e não mudaremos nossos conceitos agora. E ninguém deseja efetuar essa mudança, já que consciente e inconscientemente achamos que estamos no rumo certo.

Sociedade hipócrita e putrefata onde impera a Lei de Gerson e outras leis menores e maiores que imputam aos mais espertos e bons de coração todas as virtudes humanas. Mas seria uma grande injustiça comparar os humanos racionalmente animalescos aos animais irracionalmente humanos.

Sociedade hipócrita que ama o mal. Que quer se dar bem. Que goza com as desgraças. Que despeita os direitos do homem. Que é surda, cega e muda. Que repete os erros do passado. Que não compreende que tem que mudar. Que não se arrepende dos males que causa. Que vive esperando a oportunidade certa de se promover.

Sociedade hipócrita e sem escrúpulos, eu também faço parte de sua famigerada história.

sábado, 21 de novembro de 2009

AS TRÊS PORQUINHAS E O LOBO COR-DE-ROSA

Numa madrugada bastante quente, num escuro porão de uma pequena casa, numa rua bastante deserta, de uma cidade muito pequena, a mamães porca deu a luz a vinte e três leitõezinhos. Foi uma alegria imensurável na casa. O papai porco ficou muito contente, comprou caixas e mais caixas do melhor charuto, para distribuir aos amigos. Dizia ele que agora sim seu sangue seria transmitido para a eternidade. Durante aquele dia aconteceram alguns fatos interessantes, que mudariam o rumo de nosso singelo conto de fadas. Vamos a eles então.

Na primeira hora após o nascimento, o pai, em sua alegria e  contentamento por ter uma prole tão  extensa, correu ao porão para abraçar a mamãe porca e pisoteou treze leitõezinhos. Que desgraça, o motivo de tanta alegria se tornara abruptamente um motivo de tristeza. Estavam lá, no mesmo dia do nascimento, treze pequenos caixõezinhos para enterrar os presuntos. Dos dez que sobraram, duraram apenas até às seis da tarde, pois a mamãe num ataque histérico de fome, tresloucada, num momento de pura e sintética crise de gulodice aguda,pisoteou mais sete leitõezinhos. Foi uma tristeza geral na casa. Mais sete caixõezinhos, foi muito difícil para o papai porco. Todos os vizinhos enviaram flores e condolências à família. Mamãe e Papai porco então resolveram que aqueles três que sobraram deveriam ser cuidados como se estivesse m e uma redoma de vidro.

Às dez da noite, lembraram-se que ainda não tinham batizado os danadinhos e nem tinham visto ainda se eram meninos ou meninas, digo, leitões ou leitoas. Pra surpresa e felicidade geral, eram três lindas leiotoazinhas. Nova alegria e uma grande festa pra comemorar a sobrevivência delas. Esse dia ficou marcado na história da família porco e trinta e cinco anos depois ainda seria lembrada com saudades pelas ilustres heroínas de nossas história.

Num dia de domingo, de bastante calor, Flávia, Marilene e Aderlei, esse era o nome delas, resolveram que estava na hora delas romperem com os laços familiares e que já não aguentavam viver às custas do pai, que por sua vez estava um porco muito chato e gordo. Nem pediram autorização, apenas arrumaram suas malas, que não eram poucas, e saíram, sem rumo. O vento na cara e o gosto pela liberdade.

Haviam andado mais de dois quilômetros e meio e do alto dos seus cento e oitenta quilos, Flávia decretou que não mais moveria um passo. Estava muito cansada e seus pés estavam em carne viva de tanta bolha de sangue. Minha nossa!! Abram um parentes nesse ponto, caros leitores, como era gorda essa Flávia... mas voltemos à nossa historieta. Bem, naquele ponto ficou Flávia, a mais gorda e preguiçosa das três. Ali ela ficou, olhou ao seu redor... e um pouco abaixo de onde estava havia um pequeno rio e ela pensou: "Temos um rio, e rio significa água, água significa bastante comida nas margens, significa também que em algum lugar deve existir uma ponte e ponte significa casa de graça". Com esse pensamento ela caminhou rio abaixo até encontrar uma ponte, onde estabeleceria sua residencia, com sombra, comida e água fresca.

As outras duas leitoas, que não mais podemos colocar no diminutivo, caminharam mais dois  quilômetros e meio e foi a vez de Marilene protestar. Ela, aos berros, falou à sua irmã: Daqui num saio e daqui ninguém me tira. Ela ficou então. Aderlei seguiu sozinha sua jornada. Na rua, sozinha, Marilene pôs-se a pensar no que faria da vida, agora que estava sozinha. Olhou ao seu redor pra se localizar e viu no final da rua uma grande oportunidade de se dar bem. Uma casa de madeira vazia e ela não pensou duas vezes, foi até lá, arrombou a porta e tomou posse, como se aquilo fosse terra de ninguém. Aquela casa seria seu castelo dali em diante.

Aderlei, a que persistira em sua caminhada, seguiu por um longo tempo, pra dizer a verdade mais dois quilômetros e meio, e parou também. Mas essa era uma porquinha diferente das outras duas e ela tinha outra ideia do mundo. Resolveu então pedir emprego, pois o trabalho poderia dar tudo o que ela precisava naquele momento. Trabalhou durante algum tempo servindo cafezinho numa multinacional até que se envolveu com um senador da república, o famoso Doutor Leitão. Sua vida mudou completamente e foi morar numa mansão.

Esse foi o destino destas três irmãs. Mas como tudo na vida muda e se transforma. Um dia apareceu na história um lobo, mas esse lobo não era mal, ele se autodenominava o representante número um do movimento GLBT e esse lobo cor-de-rosa era amigo íntimo do Senador, o Dr Leitão, que inclusive e não muito de se estranhar esse relacionamento, acreditava-se que o tal senador era do mesmo movimento. Eis que a imprensa deu um fragrante no digníssimo político com o lobo-cor-de-rosa num motel e o escândalo foi inevitável. Televisão, jornais, rádios e revistas deram a noticia. Acabaram com a carreira política de tão promissor homem público. Abriram uma CPI no congresso nacional para investigar quem pagava por essas orgias sexuais. E isso foi o fim dele, convocaram até a pobre da Aderlei pra depor. Ela por sua vez, meteu os pés pelas mãos e disse que mantinha um relacionamento de muito tempo com o réu e que era ele quem bancava suas despesas.

Bem, sem mais delongas, o relator da CPI, pediu a cassação do senador e este teve que devolver todo o dinheiro desviado aos cofres públicos. O senador, sem dinheiro no bolso e com um furo no sapato foi morar com Aderlei. Viveram alguns dias felizes até que bateram em sua porta. Quando abriram tiveram uma ingrata surpresa. O lobo cor-de-rosa estava ali parado, com aqueles olhos enormes, orelhas enormes e boca com dentes enormes e logo foi falando: Eu fui enganado, ultrajado e despejado e agora também quero minha parte, comunico que vou morar com vocês. Os donos da casa ainda tentaram objetar, mas não adiantou, o lobo entrou e se abancou.

Passaram-se alguns meses e chegou pelo e-mail um aviso de despejo. Foi um total desespero e nossos três amigos ficaram sem saber o que fazer, correndo como barata tonta pela casa. Decidiram não sair e resistir até o fim. Até que chegou o fatídico dia e o oficial de justiça veio acompanhado de inúmeras viaturas da polícia para executar a ordem judicial. Não teve jeito, foram gentilmente colocados pra fora através de chutes, pancadas e pontapés. Desolados, tristes e deprimidos caminharam sem rumo durante algum tempo até que Aderlei lembrou de sua irmã Marilene e correram até ela para pedir abrigo.

Ao chegar lá, bateram na porta, não abriu. Bateram de novo e a porta foi ao chão. Marilene então, meio dormindo, meio acordada, declarou solenemente sua surpresa com a visita. E o lobo cor-de-rosa foi logo dizendo: Estamos aqui pra ficar, e nem adianta reclamar, não temos pra onde ir.

Ficaram junto com Marilene apenas um dia, pois poucas horas depois, o lobo fumava um cigarro bem tranquilamente abancado no sofá e deixou cair a bituca no estofamento. Rapidamente virou um foguinho e ele pulava e gritava e sapateava mas o fogo não apagava. Logo virou um fogaréu e os quatro tentaram em vão apagá-lo. A casa foi ao chão em questão de minutos tomada pela desgraça do fogo.

Assim, estavam novamente na rua, desta vez levando Marilene junto. Os quatro perambularam pelas ruas até o outro dia, quando diante de uma encruzilhada, avistaram um rio e logo se lembraram do raciocínio de sua irma, mais gordona e ficaram muito contentes. Seguiram até o rio e foram descendo até encontrar a ponte, onde Flávia morava. A chegada dos quatro foi uma surpresa pra Flávia, mas esta recebeu os convidados com muita gentileza.

- Que bom que vocês vieram me fazer uma visitinha.
- Visitinha que nada, você é que vive bem, com sombra, comida e água fresca. - Disse o lobo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pré Conceito


A vida em uma pequena cidade do interior é realmente surpreendente. Em grande cidades também acontece. Cada dia encontramos, surpresos, coisas que nos fazem refletir sobre questões bastantes complexas, que mexem e interferem diretamente naquilo que somos e que por sua vez interferem indiretamente naqueles comportamentos que, muitas vezes, execramos, mas que involuntariamente acabamos por adotar.
O preconceito, ou seja, os juizos que formamos antecipadamente é algo que as pessoas insistem em afirmar e reafirmar que não existe. Mas é um conceito que escorre como areia entre os dedos, quando se trata da realidade, e esta muitas vezes coloca o sujeito diante de si mesmo como vilão, mesmo sem ele perceber.
Poderia ser mais simples, se admitíssemos que não gostamos do diferente, pois ele não pertence ao mesmo círculo social, não mora numa casa que mereça esse nome, seus filhos não vestem roupa e nem calçam tênis de marca, não tem os melhores brinquedos. Mas isso jamais vai ser admitido, pois a verdade é muito dolorosa para dizer, e ninguém tem coragem de encará-la.
É por isso que em nosso podemos facilmente perceber a exclusão social tão claramente, porque as pessoas negam aquilo que sentem e justificam isso com a afirmação de que são totalmente contrárias ao preconceito.
Mas ele existe, está aí, escancarado em nossas caras. Não há como negar. Quando acabar de ler este texto, levante-se, vá até um espelho próximo e converse com você mesmo, abertamente, sem censura e sem medo, tente arrancar de você a verdade, seus mais profundos sentimentos, coloque pra fora. Verá que todos temos medo do diferente, exatamente por não conhecermos. Mas faça isso sozinho e se for falar em voz alta, procure sussurrar, pois se não você será pego admitindo que é preconceituoso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Inventário

(Menção Honrosa no Concurso de Contos, Poesia e Fotografia - Servir com Arte, da Escola de Governo do Estado do Paraná)

Abriu uma gaveta, procurou incansável uma caneta ou lápis, revirou todo o quarto até que encontrou. Seus olhos brilhavam de contentamento, de posse, agora, do lápis e do caderno. Sentou-se na cama, pegou-o, ergueu-o na altura dos olhos. Anote! - disse ele com a voz estremecida de quem já não tem controle sobre seus atos e pensamentos. Abriu-o na primeira página e começou as suas anotações:

Olho, neste momento, para a parede do meu quarto. Existem inúmeros objetos pendurados. Os pregos martelados ao léu despedaçaram pedaços dela. Penduraram então retratos, alguns, de pessoas que, várias, eu não conheço. Olho agora pra um desses quadros e o que vejo não me atrai nenhum pouco. Um velho de cabelos grisalhos olhando pra mim e sorrindo. Vejo saindo de sua boca apenas uma palavra. Ouço o desenho dessa palavra e sei que nunca me deixará.

Existem mais quadros, todos eles com molduras extravagantes, umas de madeira, outras de metal, uma de madeira com cantoneiras de metal dourado e outro prateado. O espelho também está pendurado. O espelho é misterioso, pois mostra tudo aquilo que agora preciso anotar. Tudo o que quero está dentro do espelho e não consigo alcançar. Preciso descrever e ser exato. Não gosto do espelho. Sinto inveja dele. Ele tem tudo e eu não tenho nada.

À minha direita, outra parede do quarto. Há uma grande janela. E mais pregos batidos enfeitando o que ainda resta do reboco. A janela é enorme, mas eu nunca abro. Prefiro deixar que se abra sozinha. Eu exercito meus pensamentos pensando o que há através dela. Não tem cortina minha janela e não dá pra lugar nenhum. Lá fora sei que tudo é vago. Minha janela é um espelho que não quer me refletir. Fica fechada sempre. Seus vidros estão todos embaçados e eu acho melhor assim. A poeira amarelada já toma conta de todos os espaços vazios. Não posso ver através dos vidros. Vejo.

Mas o que vejo não é nítido e assim me interesso pelas coisas que não posso distinguir claramente. Não há paisagem através deles. Não há perspectivas que me levem a me interessar pela apreciação pura e simples do que não faz parte de mim. Prefiro apenas imaginar e anotar.

Na parede oposta à da janela está meu guarda-roupa. Duas portas e quatro gavetas apenas. Pintado de branco. Embaçado. Encardido. Puxadores de metal nas gavetas e portas, daqueles parecidos com alças de caixão. Do lado esquerdo do guarda-roupa fica a porta, que dá pro corredor, que vai parar na sala e por sua vez encontrar a porta que dá pro mundo. Prefiro meu quarto. A porta fica fechada. Sempre.

Do lado direito do guarda roupa fica a parede, com mais alguns pregos maltratando com os mesmos objetivos o reboco. Em alguns deles estão pendurados roupas, sacola, bolsas, etc. As roupas penduradas ali estão todas sujas, pois já não as lavo há muito tempo. Nas sacolas, posso ver daqui, estão guardadas seguramente de mim mesmo, objetos que já não uso mais.

Não me lembro exatamente quais são, mas sei que os coloquei lá. Lâmina de barbear, sapatos, pentes, escova de dente, meias, relógios, anéis, óculos... tudo ali, na segurança das sacolas penduradas nos pregos pregados em minha maltratada parede.

Voltemos ao guarda roupa.

Há atrás daquelas tão horrendas portas, que abri muito, durante muito tempo de minha vida, um vazio que finalmente consegui vencer. Vazio que esconde o excesso de coisas que me eram importantes. Não há mais nada. Antes de começar escrever, abri pela última vez aquelas famigeradas portas. Nas gavetas também não mais nada. Há muito tempo que ali não tem mais nada. Nem meias, nem ceroulas, nem nada. Olhando daqui, posso ver que existe algum objeto debaixo dele, mas não é nada com que deva me preocupar nesse momento, somente quero anotar.

Na última parede, onde me encontro agora sentado na minha cama, fica a cama. Minha eterna e única companheira de uma vida que achei que nunca chegaria ao fim. Minha cama foi e é muito firme. Feita de madeira nobre, vermelha. Muitos colchões passaram por ela sem que ao menos afrouxasse os encaixes. Aqui eu durmo.

Dormi muitas noites que não merecem ao menos serem lembradas. Passei também inúmeras noites acordado olhando apenas pro meu quarto, e ele, acordado como eu, sempre me compreendia. Entendia minhas razões. Nesta parede também há pregos. Mas aqui não há nada pendurado. Usei todos os outros pregos das outras paredes. Eles foram mais que suficientes pra eu fazer a pendurança dos trecos e coisas que já foram meus. Agora não são mais.

Pertencem a ele e elas.

Pregos e paredes donos de mim. Espelho que guarda a vida que um dia existiu nesse quarto. Quadros e retratos que mostram as verdades que não são as minhas. Guarda-roupa me dizendo neste momento, com suas portas e gavetas que eu vivi inutilmente. Mas não acredito nele. Sei que minha vida se esgota agora, mas sei também que tudo o que fiz teve um sentido, teve sentido. Anoto e isso me traz conforto. Minha vida na ponta deste lápis. Resto de esforço pra deixar algo além de um quarto. Despontado como este lápis, me entrego finalmente ao que esperei e busquei minha vida inteira. Minha cama e meu colchão, meu caixão e meu quarto, meu túmulo.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Direcionados?


Nascemos condenados, todos marcados
Livre arbítrio determinando o futuro
E o destino justifica os derrotados
Minha fé, sua fé, nossa fé, nada é puro
Mas onde você vai sem escolher?
Você sempre se decide sem perceber
O controle remoto nunca está na mão
É muito mais fácil culpar a evolução

Toda sua vida você foi conduzido
Induzido, sacudido, impelido e excluído
O que vale a liberdade que foi dada
Com grilhão e algema disfarçada?
Te prendendo na posição de largada
Sem chance alguma de subir a escada
E não há luta, muito menos resistência
Sempre se calando, é a conveniência

Livre arbítrio ou determinismo
No que você crê?
O que pode fazer?
Rompa o limite do pessimismo

Determinismo ou livre arbítrio
Quem é você?
O que vai fazer?
Ficar esperando ou se mexer?

Você pode se orgulhar daquilo que é.
E deve entender aquilo que pode se tornar.
Mas ninguém é culpado pelos seus fracassos.
Você faz o que quiser com aquilo que fizeram de você.

Escrever um livro, plantar uma árvore
É o que vai ficar quando tudo acabar
Ninguém vai lembrar, nem vai perguntar
Você passou por aqui e o que você fez?
Apenas deixou rastros sujos na calçada
Apenas cicatrizes em gente maltratada
Quem você foi jamais será lembrado
Não fique esperando ser contemplado

Pois o melhor prêmio nunca será dado
Tanta coisa a fazer e você aí parado
Arte, música, literatura, o que você faz?
Olha a vida passar, parado de mais
Então não reclame do lugar onde mora
Da roupa que veste, nunca nem agora
É sempre assim que as coisas acontecem
Homens em paz são aqueles que se mexem

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Montanha

No alto das mais altas montanhas existem seres inexplicáveis. Seres misteriosos que quase nunca são vistos. Seus braços se abrem apenas algumas vezes ao ano e ninguém está lá pra ver e sentir. Seu cheiro doce é carregado suavemente pelo vento que desce a montanha. Sua imagem é tão bela quanto a mais belas das imagens. Mas ninguém acredita em sua existência pelo fato de nunca termos visto tal fenômeno. Somente podemos acançá-los através dos nossos sonhos e somente nos sonhos é que vivemos integralmente a aventura que é poder vê-los nascer, crecer e ir embora. Mas nunca estaremos preparados pra viver em sua companhia. Temos outros compromissos a honrar e não podemos nos desligar abruptamente de nossos senhores. Não somos livres pra escolher aquilo que nos dá prazer. Permanecemos sempre parados ao pé da montanha, olhando pro alto, desejando estar no topo, mas nunca teremos coragem de escolher entre o que temos em nossas mãos agora e a incerteza do que encontraremos lá no alto. Nenhuma beleza vai nos seduzir a esse ponto. Nem o fato de presenciar o fato histórico do desabrochar único de uma vida pode nos retirar a sonolência, que nos faz permanecer algemados ao mastro de um navio, à deriva em alto mar, em uma noite de terríveis tempestades. Afundaremos e morreremos sem nunca ter ao menos nos permitido desejar romper as cordas que nos amarram. E os seres continuarão lá. Ironicamente olhando pra nossa tristeza escolhida. Opitada e decidida. Eles permanecerão lá, mesmo depois de partirmos pra longe da montanha. Contemplarão todas nossas equivocadas escolhas, mas nunca, nunca verão fazermos a escolha certa.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Utopia

Que toda a dor venha acompanhada pela humildade necessária ao aprendizado.
Que toda a noite seja o sonho esperançoso de um novo dia.
Que o dia seja vivido como uma surpresa causada pelo presente.
Que todos os sonhos possam ser um dia realizados.
Que todo o choro de criança não seja por fome, dor ou solidão.
Que o sorriso dos nossos avós não escondam suas tristezas.
Que o sexo seja feito com prazer.
Que as festas não nos façam deixar de ser quem somos.
Que a marca das roupas não corrompam a consciência.
Que os celulares possam finalmente ser utilizados para a comunicação entre as pessoas.
Que a fome se transforme em um sonho há muito tempo sonhado.
Que o meu desejo não seja realizado com prejuízo de outros.
Que reconheçamos Deus existente em cada um de nós.
Que a morte não seja encarada como um ponto final.
Que as feridas jamais deixem cicatrizes profundas.
Que o fogo possa aquietar as almas infelizes.
Que a sede que sentimos não seja apenas de água.
Que a água sirva pra saciar a sede e lavar as almas.
Que a luz, tão preciosa, seja a emissária de novos tempos de paz.
Que essa paz, razão de tantas discórdias, possa ser compreendida em seus mais puros significados.
Que os símbolos que hoje utilizamos sejam ordenados de maneira a significar apenas o amor.
E que esse amor nunca mais saia de nossas bocas e abraços como palavras hipócritas e mentirosas.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Independência ou morte

7 de setembro. Dia em que deveríamos comemorar a independencia do brasil e inocentemente ainda comemoramos, festejamos com orgulho e festa o desligamento do brasil de Portugal. Fico aqui me perguntando e muitas vezes as respostas não são nenhum pouco agradáveis. Vejo o que o nosso tão belo país tem se tornado ano após ano, década após década e algumas dessas transformações são nefastas e totalmente prejudiciais. Mesmo assim comemoramos com fogos e flores esse dia.

Não teremos motivos nenhum pra comemorar nada enquanto houver sobre tão rico solo brasileiro 1/3 da população caracterizada como gente mizerável, sem nenhuma condição de viver com dignidade. Para o IBGE é tudo muito simples diagnosticar como abaixo da linha de pobreza gente que também faz o brasil, gente que vive e morre o brasil, gente que quer apenas uma chance, gente que quer apenas ser tratado como gente.

Não acredito que tenhamos oportunidade de comemorar o dia 7 de setembro se o povo brasileiro não compreender realmente o sentido dessas tão efusivas cerimônias, com parada militar, fanfarras, desfiles de soldados e de alunos. O os objetivos estão claros, basta querermos ver e olhar a nossa volta ou ao menos tentar acompanhar os noticiários. Basta acordar e ver que toda a festa somente escamoteia uma verdade que é muito dolorosa, mas que devemos saber.

O país está no rumo errado, sendo dirigido por gente equivocada, incapaz e corrupta e nós estamos nos comportando como meros espectadores dessa tragédia grega que se chama brasil e assim concordo interamente com Lima Barreto quando disse que "O brasil não tem povo, tem público".

O que precisa ser feito não é uma tarefa fácil, aliás é quase impossível, mas como quase é uma palavra que é condicionada pela ação, devo acreditar que é possível sim promover uma grande mudança no cenário político brasileiro, simplesmente com atitudes de gente simples, ricos, milionários, abaixo da linha da pobreza ou não, mas que entenda o momento pelo qual passa nosso país e que queira muito que tudo mude pra melhor.

É chegado o momento de colocar um ponto final na farra das pessoas que são eleitas para nos representar e defender os nossos interesses, mas o que fazem é apenas defenderem a si mesmos. Não podemos mais conviver com esses pulhas que aprontam, pintam e bordam às nossas custas e depois ainda tripudiam da nossa opinião, como fez um ilustre senador no congresso nacional.

É necessário que comecemos a nos perguntar porque nos sentimos tão acuados pelas autoridade instituídas quando deveríamos na verdade era reclamar das atrocidades que são cometidas em nome da próxima eleição. Nos calamos diante do abuso da autoridade de vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidente. Temos que sair da concha e iniciar um movimento de expulsão da política desses pseudo-cidadãos que se autodenominam homens públicos e que já deram sua contribuição para o desenvolvimento do país. Expulsar e extinguir essa raça de gente do meio público.

E a única ferramenta que temos para conseguir isso são as eleições, todas elas e em todas as instâncias. Devemos usar o nosso voto para gradativamente ir substituindo as ratazanas da vida pública por homens realmente comprometidos com o interesse público.

Devemos também cobrar de maneira bastante incisiva uma reforma político administrativa para que haja critérios e punições mais rígidos para os aspirantes a algum cargo eletivo como por exemplo:

  • Comprovação documental rigorosa da idoneidade dos candidatos;

  • Extinção da famigerada imunidade parlamentar;

  • Extinção do sigilo bancário de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, ministros de estado, presidente da república, vice presidente, partidos políticos, dirigentes de partidos políticos, diretores de entidades de administração direta e indireta, juizes e desembargadores;

  • Proibição de contratação de parente até a 3ª geração. Impedir que parentes sejam contratados até mesmo por concurso público;

  • Redução drástica de salários, benefícios, e aposentadorias para ocupantes de cargos legislativos a nível municipal, estadual e federal;

  • Introdução de pesados agravantes na legislação penal, cível e tributária para crimes cometidos pelos homens públicos;

  • Obrigatoriedade de comprovada capacitação e experiência aos candidatos ao cargo de direção de entidades da administração direta e indireta.

Talvez demoremos bastante tempo ainda pra conquistar nossa real independência, mas temos que dar um primeiro passo em sua direção. O momento de agirmos e reagirmos contra aqueles que nos oprimem tem passado diante de nossos olhos inertes todos os dias desde que o brasil é brasil, mas principalmente a partir do fatídico grito de independencia.

Temos que dar um basta, pois já estamos cansados de comemorar antecipadamente um futuro melhor para os nossos descendentes, futuro esse que nunca chega. O país do futuro de um futuro que nunca chega e jamais vai chegar se não nos mexermos e quer a mudança agora. Sem casa, sem saúde, sem educação, sem oportunidades legitimas e igualitárias não há futuro.

Então, ao invés de comemorar a independencia do brasil podemos comemorar a nossa independencia diante desses coronéis da política, dos grandes especuladores financeiros, dos corruptos, ladrões e usurpadores dos direitos alheios e dessa forma no dia 7 de setembro ao invés de manifestar nosso grande contentamento, declaremos nossa profunda indignação com a situação e a frustração de ter confiado em pessoas despreparadas.

Brasil

Descoberto há mais de 500 anos, país maravilhoso, localizado no hemisfério sul do planeta azul. Dizem que os primeiros que por aqui chegaram eram de uma grandiosa geração de desbravadores nascida às margens do oceano atlântico, num pequeno, porém grande, país chamado Portugal. Povo tenaz, lançaram-se ao mar sem a menor pretensão de descobrir um tão belo e lucrativo país. E deu-se o milagre. E deve ter sido milagre mesmo, não havia nação que se igualasse em fervor religioso como aquele.

Comenta-se muito por aí que a frota com esses valorosos senhores se perdeu no meio do Atlântico e veio dar exatamente na costa brasileira. Mas comenta-se também que essa versão da história é inverídica e que eles já sabiam da existência de tão maravilhoso lugar, comparado com o paraíso. Por falar em paraíso, como sabiam como era o paraíso?

Bem, aqui chegaram, ancoraram seus navios, descarregaram suas cargas e conheceram, com grata surpresa, os índios, os filhos dos índios e principalmente as filhas e mulheres dos índios. E como eles gostaram das índias!! Foi a maior festa. Festa do cabide com direito a todo mundo nú. Após as comemorações da descoberta e pra comemorar ainda mais, realizaram um ritual religioso, conhecido por missa.

E assim tudo começou. Boas intenções, planejamento, seriedade e muita verdade, com nada de ambição. Pouquíssimo tempo depois esses interessantíssimos portugueses descobriram no meio da infinita floresta uma árvore que podia ser utilizada para fabricação de corantes para tingir as vestes das nobrezas mundo afora. Ganharam muito dinheiro esses pobres portugueses, sem consumir com quase nada da infindável floresta. Mas eles não foram os únicos, pois mais gente queria ganhar um dinheirinho extra com extraordinária planta.

Poderosos transformadores, os holandeses também andaram beliscando uns nacos da famosa e famigerada planta. Contra esses ladrões, os portugueses trataram logo de providenciar uma polícia marítima. Mas logo vieram também os espanhóis com os mesmos objetivos.

Rapidamente descobriram outras regiões na costa brasileira e fundaram inúmeras vilas que se transformariam nas imensas, importantes e imponentes cidades de hoje. A realeza então decidiu colonizar de maneira mais competente tão próspero território e criou as capitanias hereditárias e estas foram de suma importância para o desenvolvimento do país. A coisa deu tão certo que num pequeno espaço de tempo criaram-se inúmeras destes mecanismos de gestão democrática Brasil a fora e a dentro também. Os portugas, embalados com o sucesso do empreendimento, digo descobrimento, resolveram melhorar pra fiscalizar melhor e assim surgiram os governos gerais e dessa forma puderam finalmente descansar um pouco, pois podiam contar com gente de confiança para olhar o seu quintal.

Com tudo sobre controle, tiveram tempo de se dedicar a outras formas de conseguir mais dinheiro ainda. Resolveram iniciar um grande plantio de cana-de-açúcar, pois, segundo inúmeras pesquisas, feitas por institutos sérios, indicavam que este era o negócio do século e lá foram os portugueses aprenderem a mexer com cana. E acertaram. O mundo comprava o açúcar a peso de ouro. Porém, assim como a planta que de dava tinta, a farra do açúcar não durou muito.

Bem, nem tudo foi difícil para os descobridores, eles passaram bons pedaços para aqui se estabelecerem de maneira digna. Um desses momentos foi a união do reino da Espanha e Portugal. Esse fato só trouxe alegria aos brasileirinhos, pois agora o Brasil fazia parte realmente de um grande império econômico, militar e religioso. Quanto orgulho para a nossa gente.

Foi então que os holandeses, que já haviam provado das nossas delícias resolveram voltar e tentar algo mais efetivo. Vieram. Permaneceram por tempo suficiente para compreender que aqui não era lugar pra eles e ficaram pouco tempo a nos privilegiar com sua esplendida visita. Os portugueses comemoraram muito com a saída daquele estranho povo que fazia bico pra falar. Comemoram pensando que seu poderio militar tinha intimidado aquela gentinha esquisita. Pensam até hoje que esse fato foi decisivo na expulsão dos homens de bico.

Depois que os holandeses foram embora foi necessário dar uma arrumada na casa e lá foram os portugueses, agora já com alguns brasileiros, assim eram chamados os que aqui nasciam, tratar de questões burocráticas para otimizar a administração colonial. Era necessário um batalhão de pessoas pra que todo o serviço pudesse ser feito a contento e de forma que todas as informações chegassem aos ouvidos do rei fielmente. Foi criado um aparato administrativo e burocrático, com secretários, conselhos e etc e tal que quando tudo passou a funcionar já haviam se esquecido os motivos, de tão complicado que havia ficado. Difícil demais para nossos descobridores.

Veio então a necessidade de mão-de-obra pra fazer essa imensa colônia funcionar. Dessa vez entraram em cena os temidos e destemidos bandeirantes. Esses eram um resultado medíocre da cruza entre portugueses e índios ou não. Os bandeirantes vasculharam o país atrás dos índios e conseguiram cumprir fielmente seu objetivo, pois muitas nações indígenas tiveram o privilégio e o prazer de serem dizimados, escravizados e eliminados por esses valorosos heróis nacionais, que muito contribuíram para o nosso desenvolvimento.

Seu único obstáculo eram os jesuítas, que numa relação de amizade inocente, viviam harmoniosamente com os índios em reduções que mais pareciam fortalezas. Lá dentro os padrecos catequisavam todo mundo e o índio devia achar tudo muito bonito. Todo mundo trabalhava livremente, plantando e colhendo para o bem de todos, já que os jesuítas não tinham nenhum fim lucrativo e sua única e exclusiva intenção era livrar aqueles pobres diabos dos males do cão tão presente nos seus rituais pagãos.

Tudo ia bem, o desenvolvimento se dava a olhos vistos e o dinheiro corria solto como areia no deserto. E foi exatamente nesse tempo que os corajosos desbravadores descobriram ouro na região sul do território que um dia se chamaria Brasil. Isso desencadeou uma euforia generalizada e foi uma corrida desenfreada em busca de tão precioso metal. Nesse surto da febre do ouro, foram fundadas inúmeras cidades litoral a baixo e o ouro extraído dos rios era rapidamente levado à presença do rei. Tudo aconteceu de maneira tão extraordinária que nem mesmos os portugas acreditaram, expandiram o território, conquistaram mais riquezas e escravizaram mais índios. Foi um sucesso.

Passaram-se então vários anos e os brasileiros já não andavam muito contentes com a condição imposta pelos grandes homens. Os índios já não obedeciam como antigamente. Os negros também já haviam começado a se rebelar e fugir. Mas isso era inadmissível e então as autoridades contrataram inúmeros soldados de aluguel para acabar com essa sem-vergonhice e colocar novamente a ordem no país. Tudo foi muito rápido e as mortes foram necessárias para o bem da nação. Depois de tudo efetivamente apaziguado e o marasmo novamente tomou conta dos nossos corajosos descobridores eles partiram atrás de outras fontes de renda e também continuaram com a expansão do território... ...

sábado, 29 de agosto de 2009

Infeliz Mente

O dia amanheceu cinzento e tudo a minha volta estava trágico como no momento em que é necessário sepultar um desejo e um sentimento há muito tempo perdido por entre sombras e furacões. Não pude me desvencilhar dos sonhos vividos com tanto ardor na noite anterior de minha pobre e insignificante vida e dessa forma não consegui enxergar o sol nascendo atrás das montanhas. Não sofri e muito menos chorei, mas as marcas deixadas pelos atos impensados que cometi durante o curto espaço de tempo em que passei por aqui não me deixavam esquecer quem um dia fui e o que agora eu havia me tornado. Tudo que tinha ou tudo o que tivesse conquistado com sangue e suor eu trocaria imediatamente para ter de volta a esperança de retornar para os felizes braços e abraços que um dia me afagaram e me mostraram que eu não estava sozinho. Mas felizmente não há mais tempo pra nada, não há retorno e nem passe de mágica que consiga desfazer os nós onde me amarrei. E quando penso em todas essas possibilidades, considero que realmente é melhor eu ficar onde estou e resignar-me à minha condição de alma penada à procura de um lugar pra me esconder, um buraco no tronco de uma árvore, uma profunda caverna onde a luz seja eternamente esquecida.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Aniversário

Hoje é 7 de agosto. Hoje comemoramos o aniversário de nossa querida cidade. Será que comemoramos mesmo? Parece mais que passamos por essa data com uma grande vontade de esquecê-la. Afinal quase não temos o que comemorar. Todos nós gostamos do nosso lugar, mas o que temos visto ultimamente tem nos decepcionado bastante. A cidade cada vez mais deteriorada. E isso por conta de um revanchismo político descabido, que tem prejudicado cada vez mais a população kaloreense. O povo fica sempre em segundo plano, principalmente quando se trata de beneficiar apenas um indivíduo em detrimento do coletivo.

Até quando a população vai seguir aceitando um comportamento duvidoso dos nossos governantes e equipe? Até quando ficaremos sentados aceitando de bom grado os mandos e desmandos daqueles que estão no poder pra nos representar, mas que só fazem e lutam com vontade quando se trata de justificar seus próprios benefícios.

A cidade não tem mais ruas. A educação está em péssimas condições. Os departamentos estão longe de funcionar a contento. Existem mais funcionários municipais do que a prefeitura pode pagar, por conta de compromissos políticos. Enfim, temos que celebrar nossa vida, pois não temos nenhum outro motivo pra comemorar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Anjos e Demônios

Os anjos que estão nos seus sonhos
vivem em nuvens de algodão,
não passam de seres inúteis,
criados sem imaginação.
Os demônios foram forjados no centro da terra,
o fogo em sua alma reflete em sua força
Anjos e demônios que habitam a sua cabeça,
metades iguais da mesma unidade.
Homens demoníacos que os criaram.
Homens angelicais que os formataram,
e você acreditou em tudo que disseram.
Se tornou um tanto demônio.
Enquanto a morte refletir nos seus olhares,
enquanto a guerra fizer parte da sua vida,
enquanto o sangue escorrer em sua boca,
e enquanto você desejar sempre a tragédia,
você nunca se tornará um anjo.
Pois não é capaz de esquecer o que aprendeu
e pensa que não há mais tempo pra isso.
Você segue seu caminho
com anjos e demônios dentro de você,
mas apenas o mais forte pode vencer
e não há motivos pra deixar o anjo escapar.
Sua parte demônio vai assassiná-lo,
pois os anjos pra você significam prisão,
culpa, pecado, proibição.
Você prefere a liberdade da inconsciência,
que nunca te julga e assim você segue,
tentando saber o que é bom ou mal em você
e ao descobrir, percebe que prefere ser mal.
Maldade que forja os demônios.
Crueldade que faz as tragédias mais reais.
Injustiças que são o lema de sua vida.
Você é o demônio que está dentro de você,
gritando bem alto, querendo sair,
destruindo o anjo que é muito mais fraco
Anjos e demônios... o que você vai escolher?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Extinção

Da pequena escotilha de sua nave de reconhecimento ele podia ver o resultado da última desgraça humana. Em todas as cidades sobrevoadas haviam poucas pessoas vivas e essas estavam entregues à própria sorte, já que não restara ninguém pra poder socorrê-las. Era questão de tempo agora, mais alguns dias e tudo estaria acabado.

Tudo começou com um simples vírus. Uma doença simples, de sintomas aparentemente insignificantes, mas que a longo prazo causaria o fim da civilização humana.

Os homens ao primeiro contato com a ameaça não conseguiram prever os resultados a longo prazo e na verdade era impossível prever, já que o vírus tinha uma capacidade tremenda de adaptação. Essa extrema facilidade de adaptar-se ao meio é que confundiu os cientistas na busca por uma cura eficaz. O vírus mutava-se e transformava-se conforme o meio onde era disseminado.

No início de tudo ele ainda não era mortal, pois ainda precisava de muito tempo até que encontrasse a combinação exata necessária para a formação do estágio final, onde os resultados seriam irreversíveis para a humanidade. Durante muito tempo a humanidade conseguir driblar os malefícios advindos do vírus. Inventaram remédios e vacinas que apenas adiaram o fim catastrófico da espécie humana.

Mas o homem, bem intencionado ou não, acidentalmente ou não, acelerou o estágio final do vírus, manipulando-o em laboratório e provocando a mutação que o tornaria imune aos remédios humanos.

Depois da primeira pessoa infectada com a nova e poderosa versão daquele vírus tão conhecido entre nós, sua disseminação foi muito rápida. A primeira pessoa infectada infectou mais uma e assim numa sucessão interminável a doença espalhou-se pelo planeta de maneira inacreditável. A população no país de origem foi dizimada num prazo de apenas 8 meses. O restante do continente teve um prazo pouco maior, mas não passou de 1 ano. Com essa velocidade assombrosa a população da terra estaria extinta em apenas 3 anos.

E foi assim que aconteceu. Todos os esforços foram em vão pra tentar descobrir uma vacina. Quando achavam que tinham descoberto, a população comemorava com grande euforia a salvação, que estaria próxima. Mas com a vacina, a doença a princípio recuava pra depois retornar com força redobrada, devorando vidas com voracidade.

Muitos países tentaram se isolar, fechar suas fronteiras, impedir vôos internacionais, mas nada pode impedir a disseminação do vírus. Cidades inteiras foram fechadas militarmente na tentativa inútil de conter o foco. Muitas outras cidades foram destruídas pelas nossas próprias bombas atômicas com objetivo de assim matar também o vírus maldito. Cidades inteiras, com toda a sua população , morta sem piedade.

Nas grandes cidades do planeta o caos imperava. A violência antes contida através da repressão policial, agora estava totalmente liberada, pois a sensação de morte pairava no ar e ninguém mais tinha medo de nada.

Assim, caminhamos para o nosso fim. Inocentemente achando que a natureza havia nos pregado uma peça. Uns acreditando que era o juízo final e que Deus estaria recolhendo os justos para uma recompensa, outros se culpando por não ter cuidado do planeta como ele merecia e que tudo aquilo era castigo da natureza.

O fato é que de nada adiantou todos os esforços humanos. Fomos dizimados. Extintos. Mortos como cobaias.

O planeta será melhor sem a nossa espécie se multiplicando livremente. Nós dependíamos do planeta e não conseguíamos compreender isso, mas o planeta nunca dependeu de nós para sobreviver.

Tudo irá voltar ao normal sem a nossa presença e quem sabe daqui a milhares de anos não estejamos novamente entre os animais dessa natureza agora renovada. E com certeza o destruiremos novamente com nossa fome e sede insaciáveis. Com nossos esgotos. Com o nosso lixo. Com nossos automóveis e com a nossa ambição e novamente ser extintos num ciclo interminável de erros que nunca são admitidos.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sela e espora

Em espora de cavalo selado
Tem gente gemendo lá
Gente não é cavalo selado
Pra espora o couro riscá
Gente tem boca pra falá
Boca que pode berrá
Berra sob o cavaleiro
Pra espora nunca mais usá
Se nada disso adiantá
E a espora continuá
Riscando o cavalo selado
Gente pode corcoveá
Tirando os pé do chão
E o cavaleiro derribá
Tudo pode acontecê
Pra gente sobrevivê
Com cavaleiro por cima
Gente sem sabê porque
Mas se tivé corage, sô
Joga tudo por terra
E o cavalo perde o sinhô
Sem espora na barriga
Sem aperto na costela
Carga e chicote nas costa
Nunca mais se aprovô
Gente livre qué vivê
Sem sela e espora
Nem dotô pra obedecê

sexta-feira, 26 de junho de 2009

CIDADÃO PERFEITO

Ei você, cidadão perfeito!! Onde vai com tanta pressa? Ah!! Deve estar indo se olhar no espelho pra admirar sua grandiosa e esplendida perfeição.
Você é o melhor entre os melhores que convive entre nós e só podemos nos orgulhar de ter você em nossa comunidade.
Você é o nosso maior exemplo. Bom filho, bom marido, bom irmão, bom amigo, bom empresário, você é tudo de bom.
Cumpre todos os seus compromissos, os sociais, fiscais, conjugais e até religiosos e por isso se auto denomina o dono da moral e da verdade.
E com razão, pois somente um ser perfeito como você tem propriedade para tanto.
Da sua boca só se ouvem boas novas e todos os autofalantes da cidade não se cansam de repetir suas inequívocas noticias.
Paga todos os seus impostos rigorosamente em dia e se orgulha de nunca ter se envolvido em nenhuma negociata ou roubalheira.
E assim como você, todos os seus companheiros devem ser iguais a você, para que mereçam sua amizade. Dessa forma é necessário que você os defenda cegamente, mesmo que pra isso você precise cometer alguns pequenos deslizes.
E isso deve ser inadmissível para você, afinal você é um cidadão perfeito.
Mas quem sou eu para criticá-lo? Eu só tenho elogios a fazer a uma pessoa como você, que tanto engrandece nossa sociedade.
Devo apenas enaltecer suas inigualáveis qualidades e as muitas e muitas boas ações que os seus companheiros fazem em nossa tão bem organizada cidade.
Parabéns cidadão perfeito e obrigado por você existir em nossas vidas!

Todos surdos

Músicas, sons e estilos
Pedaços de gente cantada
Manias gerando confusão
Opiniões que diferem em si

Os gostos são iguais
Só mudam os locais
O jeito de ouvir e ver
Também equivalentes

Nada é pra sempre
Átomos em transformação
Rock, rap e blues
Rockrapblues, misturas

Maracatu, frevo, catira
Nuances da mesma origem
No inicio era o verbo
Por sua vez era som

Barulho ensurdecedor
Força criativa e destrutiva
Musica pra poucos ouvidos
Muitos e diversos silêncios

Comunicação igual socialização
É preciso fazer barulho
Escutar os ruídos
Entender a mensagem

Aparelhos auditivos
Interditados em toda parte
Gentes que não sabem
Escolher e entender

Ouvem qualquer coisa
Simplesmente ouvem
Não é preciso separar
Eles ouvem sem parar

Prisão Mental

Todas os escritos não passam de uma grande farsa.
Não falo nada daquilo que realmente sinto.
Não faço exatamente nada de tudo o que penso.
E mesmo assim continuo escrevendo automaticamente
coisas que não me afetam e nem influenciam.
O que me move são os dilemas alheios
que presencio no meu dia-a-dia.
Faço porque é involuntário a atitude.
Escrevo porque quando começo não consigo mais parar
e concluir um pensamento é um exercício de vontade
muito arriscado e difícil pra mim.
Os textos são sobre coisas que tropeçam
em mim de forma aleatória, e eu os agarro
e tomo posse, como se fossem meus.
Mas não são.
As ideias e a inspiração não podem ter proprietário.
Todo processo de criação surge naturalmente
quando as pessoas desejam enxergar aquilo que as rodeiam,
mas aprender a fazer isso talvez
seja muito mais difícil do que se pensa.
Hoje temos milhares e milhares de motivos,
escancarados em nossa face, para produzir alguma coisa,
seja escrito, falado, pintado, encenado e etc e tal.
Aprendemos muito facilmente a ignorar o belo,
o estranho, o diferente, o sobrenatural
e assim transformamos todos esses fenômenos diários em monotonia,
em algo que temos tanto e com tanta freqüência
que não conseguimos mais perceber.
Não estamos preparados pra perceber
as infinitas possibilidades que nos são proporcionadas.
As oportunidades de vermos algo novo no velho
são pequenas porque não queremos verdadeiramente
sair da casca que nos prende e sufoca
nesse pequeno mundo em que nos prenderam quando nascemos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Montanhas de açúcar

No final dessa estrada existe um arco-íris
O primeiro passo é o mais difícil a ser dado
Todos estão com os pés no chão e há bolhas
Bolhas de sabão que pairam no ar
Ar rarefeito e desfigurados que consomem
todos os que estão fingindo que respiram.
Mas o caminho é longo e precisa se trilhado
Ao norte, ao sul ou ao fim do mundo
O que deve ser alcançado são as montanhas
Brancas de açúcar.
Ou de qualquer outra coisa que seja doce
Doce como o fel que se espalha das bocas malditas
Mas o caminho deve ser seguido se interrompimentos.
Ninguém quer morrer sem ter acançado o alto
Por mais que doam os pés, todos querem seguir
E você que está lendo estas inúteis palavras
Deve estar se perguntando, que besteira é essa?
Eu devolvo a pergunta... Que besteira é essa que você está pensando?
Enquanto você apenas lê com preconceito
Seu tempo está passando e as coisas estao se perdendo.
Pare de julgar o que não conhece e corra atrás da sua montanha também.
Cale-se e mova-se.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Desejo e Vontade

O que você quer de mim?
Tudo que faço é pra agradar
Pra te chamar atenção
Mesmo assim não sei mais

O curso que eu quis
Foi você quem escolheu
Todo o bem que eu fiz
Foi você quem concedeu

O que eu sou para você?
Minha vontade nunca valeu
Meu desejo nunca importou
Mas você nunca se calou

A escolha que era minha
Foi você quem escolheu
As verdades que eu tinha
Foi você quem concedeu

Não sou sem sua presença
Não estou sem sua licença
Não tenho nenhuma crença
É a minha experiência

Os meus sonhos realizados
Foi você quem concedeu
Minha vida e meu passado
Foi você quem escolheu

Agora estou aqui, assim parado
Tudo está confuso, estacionado
No que acredito não sei mais
Pois a fé que me movia era a tua.

sábado, 30 de maio de 2009

Coragem

O medo que sai da sua boca jamais vai me contaminar.
Os sonhos que tenho não podem ser negligenciados pelas suas palavras.
A vida desperdiçada pelos seus impensados atos não me impedirão.
Os verbos, tão futilmente empregados, não são signos de verdade
Suas atitudes, ou a falta delas, não podem ser consideradas.
Os caminhos trilhados devem ser belos.
Não pode haver obstáculos intransponíveis.
É preciso saber o momento de avançar.
Sua inercia será o seu fim.
A mediocridade estampada em seus olhos vai te levar.
E eu não estarei junto com você nessa viagem.
Vá sozinho.
E se demore bastante lá.
Não volte... nao te queremos conosco.
Enquanto os sinos da meia noite não baterem para mim, seguirei minhas próprias leis.
Certas ou equivocadas, mas apenas minhas.
Pois a liberdade concedida me permite ao menos pensar.
E da minha mente e mãos só se verão aquilo que acredito.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Homem

O homem é atitude equivocada em muitas situações. É desejo que não traduz sua verdadeira intenção. Sem reflexão, escolhe apenas pelo prazer de exercer alguma autoridade. Acredita realmente na existência de tal poder. Suas palavras muitas vezes podem ser suaves, mas no entanto, são carregadas de outros objetivos, que escondem suas verdadeiras ideias. Não existe um ser masculino no universo que consiga compreender, com a profundidade necessária, a alma feminina. Os sonhos muitas vezes podem parecer os mesmos, mas não são ao menos parecidos. A vida em sociedade talvez não tenha sido suficiente para que essas criaturas conseguissem compreender-se. O que há nos relacionamentos, talvez seja apenas conveniência ou instinto ainda animal. Todos os relacionamentos, sem exceção, tem em sua base uma pequena dose de frustração e isso é conseqüência do fato que o ser humano não está preparado o bastante para admitir suas fraquezas e fracassos. Os homens, como gênero, deveriam viver sozinhos, pois seu egoísmo e seu grande ego não permite que conviva de maneira harmoniosa com outras pessoas. Mesmo aqueles com o espírito mais calmo e supostamente compreensivos, não conseguem compreender com sabedoria a magnitude feminina. As mulheres querem muito mais do que o simples e fácil "eu te amo" e essa expressão é, com certeza a tradução da comodidade masculina, pois dessa forma consegue uma justificativa universal para os seus erros. As mulheres precisam de muito mais do que umas simples declaração de amor, mas contentam-se com esse resto de palavras. Umas aceitam passivamente a falta de amizade, de diálogo, de carinho, de ternura, de amor de verdade. Outras se rebelam contra essa velada falsidade, que pode ser chamada perfeitamente de ditadura do "amor". E as que se rebelam serão as únicas que terão o que contar, pois conseguirao se libertar da escravidão imposta pelos homens, seus homens. O homem, por sua vez, nunca vai se acostumar com mulheres que sonham e lutam pelos seus desejos, porque no mais profundo de sua alma ele ainda é um animal e assim como na maioria dos casos na natureza, ele ainda se acha a mais importante peça do quebra-cabeça. Há um grande aspecto pessimista nesse texto, porém é preciso ter em mente que homens e mulheres convivem, vivem e se relacionam por necessidades alheias à razão. Há que se acreditar porém que, nós homens, possamos mudar, nos transformar, para que enfim compreendamos a feminilidade. Talvez quando o homem reconhecer o feminino em si mesmo, perceberá o quanto é bela a maneira como as mulheres enxergam o mundo, como são sensíveis aos detalhes, como seus sonhos são importantes e como querer atenção e valor não é exigência demais, muito menos implorar. Nesses dias que ainda virão os homens viverão melhor e mais felizes, pois a feminilidade não será algo a ser analisado apenas exteriormente, ela estará dentro de cada homem.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Destino imutável

Instante seguinte à explosão mental
Tudo perdido com ideias vagas
Momentos esquecidos, é normal
Palavras e mentes como praga

Idealismo somente na cabeça
Ações incoerentes na prática
A inércia é apenas uma peça
A realidade virtual é drástica

Colher os frutos do valor alheio
Esperar, sem correr nenhum risco
A paisagem de um belo passeio
Trilhas iguais do mesmo disco

Coletivo inútil e desinformado
Não serve se não há consciência
Egoísmo triste e ultrapassado
Discursos, aparente sapiência

Idas e voltas
Destino imutável
Sem força pra mudar
Esperando a morte chegar

Vidas a solta
Presente flexível
Ninguém quer andar
Não querem se machucar

Poucos tem coragem de encarar
Os mesmos que sempre chamam
Donos do destino sempre a marchar
São os que oxigenam e inflamam

Quando a maioria se acovardar
Estarão lá, diante da dificuldade
Enfrentando os monstros sem parar
Estão em toda parte, qualquer cidade

Presos aos preconceitos irracionais
De gente que se esconde calado
Agredidos com palavras intencionais
mostram o resultado idealizado

Vamos explodir o que restou
Não queremos nenhum conceito
Esqueceremos quem não falou
Pra apagar todos os preceitos

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Finalidade

Você aí parado nos observando

Também está sendo observado

O seu pedestal não vai te salvar

Não adianta nos julgar

Seu preconceito vai te levar

Pra um lugar, outro lugar, nenhum lugar

O que é certo ou errado ninguém sabe

Será que você sabe?

Pra onde estamos indo você também vai

Não adianta se apressar

O tempo, o tempo, o tempo

Pra onde você vai nós também iremos

Em condição de igualdade

Não haverá privilégios

Sem religião, profissão ou classe social

Ninguém chegará na frente

Estaremos juntos nessa

Seu conceito sobre nós não vai te resgatar

Nossos gostos não são problema seu

Como nos vestimos também não

Nossa música te incomoda, nem ligo

Caro colega, o problema é seu

Mas no final estaremos lá juntos

E as surpresas serão muitas

Pois chegaremos por um atalho

Liberdade, livre arbítrio, outras escolhas

Seu caminho é diferente do nosso

Calado, cabisbaixo e obediente

Você não olha para os lados

Não percebe a beleza dos detalhes

A riqueza da simplicidade

Os milagres que enchem nossos dias

Mas no final estaremos lá juntos

Pra onde estamos indo você também vai

Não adianta se apressar

O tempo, o tempo, o tempo

Pra onde você vai nós também iremos

Poderíamos caminhar juntos

Mesma estrada, mesma sombra

Seguir de mãos dadas, como iguais

Mas entre nós há um abismo

E a sua queda seria dolorosa

Mas você nunca vai tentar atravessá-lo

Medo, medo, muito medo

Do que não conhece

De se ver, de repente reconhecendo

Que nós somos iguais

Que nossa liberdade nos nivela

E que no fim tudo vai acabar igual

Pra nós e pra você


sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tudo posso em mim mesmo

Eu não tenho sonhos
Não acredito neles
Eu não tenho ambições
Não penso nisso

Ninguém tem nada com isso
Penso o que quero sobre tudo
Visto o que ninguém veste
Gosto do que é bom

Prefiro o charme das etiquetas
Adoro os nomes estrangeiros
Amigos ao toque das teclas
Tudo gravado na memória

Abuso dos meus direitos
Pego o que é meu e seu
Nem tentem me impedir
Uso todos os meus poderes

Nenhuma mágica me escapa
Capturo qualquer movimento
Percebo olhares sobre mim
Devolvo todas as agressões

Quero toda a paz que mereço
Não existe responsabilidades
Aprendo do jeito mais difícil
Mas não deixo de ser o que sou

Não desdigo o que disse
Não desfaço o que fiz
Não aceito conselhos
Não mudo de jeito nenhum

15

Eu não tenho sonhos

Não acredito neles

Eu não tenho ambições

Não penso nisso


Ninguém tem nada com isso

Penso o que quero sobre tudo

Visto o que ninguém veste

Gosto do que é bom


Prefiro o charme das etiquetas

Adoro os nomes estrangeiros

Amigos ao toque das teclas

Tudo gravado na memória


Abuso dos meus direitos

Pego o que é meu e seu

Nem tentem me impedir

Uso todos os meus poderes


Nenhuma mágica me escapa

Capturo qualquer movimento

Percebo olhares sobre mim

Devolvo todas as agressões


Quero toda a paz que mereço

Não existe responsabilidades

Aprendo do jeito mais difícil

Mas não deixo de ser o que sou


Não desdigo o que disse

Não desfaço o que fiz

Não aceito conselhos

Não mudo de jeito nenhum

sexta-feira, 27 de março de 2009

Três doses

Me surpreendi hoje fazendo careta
Olhei ao meu redor pra conferir
Algumas pessoas riam do que fazia
Outras apenas me viam

Hoje me peguei conversando comigo
Olhei à minha volta pra reparar
Tudo dito, mas alguém não entendia
Algumas até fingiam

Me surpreendi com paredes e teto
Achei que estivesse olhando o céu
Horizonte finito atrás das montanhas
Imagens surgindo antes do remédio

Fui flagrado tentando me esconder
É que o lustre queria me assassinar
Entre as cadeiras, mesas e sofás
Coisa estranha é achar tudo real

Já de madrugada foi que percebi
O sono também já me assombrava
A cama vinha em minha direção
Dormi com violência sob os lençóis

No dia seguinte a dor de cabeça
Era uma dose, mas eu tomei três
O exagero me levou ao consultório
E o que eu tinha? Vejam vocês

... era só loucura!!

A-Voz

Obscuridão de sua inconsciência
As leis que regem seus passos
Quebra e revela os seus mistérios
Voz constante aos seus ouvidos

Todas as janelas estão fechadas
Os olhares foram todos proibidos
Você se esconde covardemente
Vozes impertinentes te corrigindo

Avós são pais menos experientes
A vós entregamos nossas mentes
A voz sempre falando sem dizer

Acorrentadas ao céu da sua boca
Mensagens que não serão livres
Obediência cega e desconhecida
Inconstância frente aos raciocínios

Negue e renegue, não confesse
No submundo dos seus sonhos
Não há nada que não deva rever
Entenda que a voz vai te dirigir

Papelão

Quarto pequeno, cama sem colchão
Ideias inúteis invadem o coração
Precisa querer, mesmo sem retribuição
Enganar a pobreza, complexa missão

Almoço preparado em cima do fogão
Pratos encardidos à beira do balcão
Tudo igual ontem, mesma refeição
Correr da miséria, insana convicção

Pobreza, miséria, barraco, papelão
Sinônimos doentes desta imperfeição
Dores e angústias, só uma fração
Parte de um problema sem solução

Tudo que consegue está em sua mão
O trabalho necessário é escravidão
Em casa comem só migalhas de pão
Alegria, transe em frente a televisão

Continua e perpetua sua condição
Algemado sem motivo e sem razão
A vida inteira esperando a salvação
Vai viver sem conhecer o seu patrão

Pobres miseráveis jogados ao chão
Significam doenças da população
Ignorados, são retratos da humilhação
O inferno seria bem melhor condição