sexta-feira, 21 de novembro de 2008

COISAS

Casapapeltijolocarrotelevisãosofátelhadofiotomadamesaportaestantevolanteba ncoespelhoprédiomotoplásticolivromáquinacomputadorcâmaracâmerabonecag ravadorbonéjeanscolarcamisetatenisquadromimeógrafomolduraimpressoravent iladorcaixadesomtrincoaliançalatãogasolinapurpurinaquadronegroanelmotortra torgradepiscinasalãocadeiralençolpalholcurralredematracabrincocolchãoantena rádiofornomicroondasgeladeiradvdcddisquetependrivechipcelularfilmenovelaa rquivoarmárioálcoolnobreakcortinalâmpadatrofelmedalharetroprojetorfotograf iaretratorelógiopulseiracaboplugrackchuveirovasopiacestodobradiçabalcãocop ocolhergarfofacafacãoconchapanelacanecafrigideiratoalhaguardanapocamabici cletamáquinadecosturapisoazuleijojanelavidrocaixatanquetorneiraralofossacan otubocanetalápiscadernodesenhocalcinhavestidoalicateenchadafoiceenchadãoc aminhãopácarriolacordabandeiraarmabombaposteasfaltopneucalçadaavenidap alácioteatroauditóriogovernoigrejaeditalindústricartazoleritefutebolmicrofonef oneipodmp3mp4mp5mp6mp*soutienuísquicervejavinhovodkacachaçapontem ontecirurgiahospitalcolaesmolamolaargolabolaruelaparafusoporcapregotramel acadeadoelocorrentepenteatédenteescovavaralpastadedenteoucremedentalroup atoucasapatoartefatoartesanatoaparatojornalrevistalistamanualbiblialinguiçacar niçaenlatadoempanadodefumadoserroteserraserrinhaarcoflechadardomartelova ssourarodorodinhotesourapantufacobertaestufacorreiacorreioemailbolsamalava lisepastaalçabalsacalçachinelodinheiromoedaregistrocartórioplacasuspensÓrio meiapilhabateriacartografiapiercingcircomacadocainclusivetapiocarecheiolong avidacfcnavemíssilaeroportousinaperfumeretroprojetorscannerhelicópteroGuer rafronteiradivisacintocelaseladinamiteóculosobturaçãobússulatelefonemeGafo neborrachatintaapagadorcadarçosaialigaelásticoembalagemmarmitapotetuppe wareloterevoluçãohélicebarcoremoloteriaprêmiocontadosesinucaesnuquepebol imdamastrilhaxadrezgamãotrancacanastraburacoapostashampoobanheiracoton etepapélhigiênicobidêesponjafitacrepedurexfaxxêroxbraçadeiragrampoarame mangueirafuradeirapúlpitopalcoteatrorocksambafandangoforróvaneraxotebossa novajazzbluesclubeescritóriolaboratóriooratórioaltarpasseataescolasacolacartol aouchapéucongeladorfoldercurrículodiplomapostoóleograxafoguetegaiolacoba iaagulhaluvalojaoficinaconsultórioônibusarcomprimidogiletecorpetecorvetech evetesorvetepalitomercadobarpapelariaeditoragráficalocadoralanhouseeletônic acruzesquinapaçofarolsarjetaquebramalasoulombadabrinquedoviolãoviolaguit arravioloncelotrompeteviolinopercussãoóperaorquestraconcertoconsertopreco nceitovenenoaduboaradocharreteoecarroçaacademiaesconderijoencanamentopi socimentoborrachariacalaulaqueijoguardaroupaguardachuvaguardacostaguard avolumeguardasolaerosoltrangtransgênicomúsicabarulhoentulhofomejustiçaei njustiçapolíticapolíticoscorrupçãocoaçãocontodefadas.Fazemoscoisasporqueso mosouascoisasquefazemoséquenosfazemserquemsomos?

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Amanhã tudo pode ser

Amanhã será um lindo dia... (plágio) kkkkk
Talvez nem tanto assim.
Mas será dia,
Estaremos lá a espera daquilo que buscamos.
Conhecer pode até não ser o objetivo.
Que seja então lucrativo.
E o dia passará.

Amanhã a manhã será bela.
Ao nascer do dia tudo pode ser.
Mesmo escondido atrás de montanhas.
Nuvens carregadas de chuva e pedras.
Porém, assim mesmo, lá estaremos.
Encontrando algo que nem procuramos.
Entendimento e sapiência.
Deslizes que indicam o outro.
E a manhã passará

Voltaremos mais amigos assim.
E que os trabalhos sejam árduos,
Tarefas complicadas que se auto-explicam.
Pois assim seguiremos nosso caminho.
Sempre encontrado uma pedra,
preciosa ou nem tanto assim.
Hoje ainda não.
Mas amanhã tudo pode ser.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Despedida

Flores, vento, capim, estrada
Choro, lama, escuro nada
Fogo, lenço, chuva, sorte
Cama, porta, piso, morte

Passo, carro, vela, folha
Mala, meia, mesma escolha
Viagem, retorno, mesmo lugar
Escada, degrau, trôpego andar

Vale, nuvens, ladeira, lança
Desce, sobe, para, avança
Sussego, espera, grito cedo
Sussurro, dor, credo, medo

Casa, fim, tijolo, caixão
Linha, pó, faca e algodão
Canto, manto, pranto, santo
Reza, presa, preza, pesa

Mania, agonia, quando se for
Tristeza, desespero, quando fechar
Alivio, descanso, assim que chegar
Saudade, amizade, de quem ficou

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O fim! Quando?

Quando todos tiverem sonhos bons. Quando a vida por trás dos objetos puder ser notada. Quando os caminhos forem facilmente trilhados. Quando as esperas não se tornarem opressoras. Quando os amores vividos não mais puderem atormentar. Quando as tormentas passarem depressa. Quando os ódios sentidos se direcionarem apenas às injustiças. Quando o homem puder conviver em paz com o diferente. Quando o diferente se tornar igual. Quando pudermos ser respeitados do jeito que somos. Quando as lembranças das tristezas vividas forem guardadas a sete chaves. Quando pudermos resgatar o melhor de nós. Quando existir a partilha. Quando não houver mais nada de ninguém. Quando as crianças puderem sorrir livremente. Quando a liberdade deixar de ser sonho. Quando todos participarem. Quando os pais compreenderem seu papel. Quando os filhos derem valor aos pais que têm. Quando mulheres e homens se realizarem. Quando as árvores cortadas criminosamente deixem de nos assombrar. Quando os animais, finalmente, tiverem onde se esconder. Quando as florestas não estiverem mais ameaçadas. Quando os índios puderem viver dignamente. Quando as favelas se tornarem-se livres dos traficantes. Quando a guerra entre os homens não for feita sob nenhuma justificativa. Quando pudermos nos livrar do petróleo. Quando a hipocrisia for uma palavra impronunciável. Quando a corrupção deixar de rondar sobre nossas cabeças. Quando a geografia não mais separar povos irmãos. Quando a religião deixar de escravizar deuses. Quando o nosso gosto pelo samba tenha o mesmo valor que o rock. Quando não tivermos mais vontade de comer mc fritas. Quando os golfinhos forem mensageiros da paz nos oceanos. Quando as bombas nucleares forem desativadas. Quando nossa tecnologia estiver voltada para o bem. Quando as imagens que vemos não nos enganarem. Quando as nossas amizades forem verdadeiras. Quando não houver mais frio nem fome. Quando não houver mais oprimidos e opressores. Quando não existir mais cercas e barreiras. Quando as vítimas das guerras forem lembras com vergonha. Quando os políticos ladrões forem colocados na cadeia. Quando as oportunidades forem iguais pra todos. Quando alcançarmos o improvável. Quando os homens ouvirem mais com o coração do que com os ouvidos. Quando a humanidade ficar sempre de prontidão e atenta. Quando a escravidão for abolida finalmente. Quando as letras formarem apenas palavras de paz. Quando o responsável pelas mazelas humanas não for o diabo nem o destino. Quando o mundo perceber que pode mudar e que pode dar tempo. Quando o mundo perceber que não há mais o que fazer.

Será tarde demais.

Será o fim.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Gelocortante sonho

Acordou assustado às quatro horas da madrugada. A noite estava escuramente negra. Havia sonhado com árvores, cores e túmulos. Não entendia. Não compreendia todas aquelas imagens que insistiam em voltar a sua mente. Elas falavam com ele e suas folhas dançavam com os barulhos da noite. Havia flores também e elas pediam, imploravam pra que acordasse. Mas não acordou naquele momento. Naquele momento precisava ir até o fim. Todas as cores do mundo tinha cheiro de açúcar e mel. Flores e cores espalhadas pelos milhares e milhares de túmulos do seu sonho. Estava perdido no meio deles. Elas caiam de um céu impossível de imaginar. Caiam de alturas invisíveis. Caiam. Sobre sua cabeça dormindo. Coroa de cores que o faziam rei. Império decrépito de imagens inúteis. Paredes e tetos de sonhos impossíveis. Mas não acordou. Começou gritar e gritou o mais alto que pode. Ninguém o escutou. Não havia nada ali. Abriu um a um todos os túmulos e quando terminou estava cansado. O tempo do sonho passou. Passou e pesou sobre suas costas. Eras e eras de esforços em vão. Descobriu que estava mesmo sozinho. E sozinho ficou olhando pras suas flores. Cores e túmulos. Desistiu de olhar para trás e seguiu. Tristemente desamparado das idéias que tinha. Queria ter encontrado alguém. As lápides estavam vazias e sem alma. Seus donos haviam apagado todos os vestígios. Sussurros há muito esquecidos. Ele não quis mais escutar. Deixou tudo como estava e apenas sonhou. Não viu e não mais ouviu o que tinha pra dizer. Afastou-se dali, daquilo que o tinha afastado da vida por tempos sem medida. Ousou, uma última vez, olhar pra trás. Estava acordado sonhando. Uma bela mulher o olhava. Linda como as flores que insistemente caiam. Seus cabelos eram negros como aquela escura noite. Mas emitia um som luminoso o balançar daqueles cabelos. E sorriu. Riu pra ele. E pode sentir de sua boca o cheiro mesmo das flores. Falava sem dizer, pensava em sua mente. Entendeu então aquele estranho sonho. Era real e o sonho era a madrugada em sua cama e o frio gelocortante da solidão.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Cativo de mim

Saio despretensiosamente, com toda a vontade que tenho de sair da rotina que aprisiona-me numa gaiola com grades que falam o tempo todo aos meus ouvidos que eu não tenho mais o que fazer a não ser esperar uma longa e extraordinária espera. Já ao portão escuto-o dizendo baixinho consigo mesmo: lá vai ele outra vez, buscar algo que nem ele mesmo sabe o que é. Escuto e percebo na fala mansa daquele portão, que é testemunho semivivo da minha vida, da vida que luto por abreviar. Não reajo, pois nas considerações que faço, compreendo aquele velho portão e vejo-o como mais uma barreira que me prende e ao mesmo tempo percebo que o que ele diz é realmente o que ele vê. Saio assim mesmo, pois não tenho medo do que verei, ouvirei e testemunharei lá fora. Calçada, meio-fio, asfalto, pedra, árvores e carros. Passo passeando por entre eles e sobre eles. Nem as pedras que piso deixam de me olhar com olhos de reprovação, que insistem e negar minhas vontades. Dizem, elas, todas ao mesmo tempo, que eu não posso esperar mais, tem que ser hoje e agora. Tenho que mudar meus objetivos, pra que eu possa sustentar meus ideais, que por sua vez já não se sustentam em nenhum apoio concreto. Nos muros em que as palavras fazem seu papel, vejo apenas aquilo que elas dizem pra ele. E as palavras são pra mim. Quero deixar de escutar. Não quero mais ouvir. Apenas fugir disso tudo que me persegue e insiste em me lembrar que eu não tenho nada a perder e por isso não há motivos para temer. Temor do nada que me aguarda. Medos que não satisfazem minha consciência, mas que não me deixam tomar uma decisão final que contemple minhas paixões. Todas as perguntas que faço a mim mesmo não podem ser respondidas se não eu não tiver coragem de tomar minhas próprias decisões independente dos fantasmas que me assombram. Todas as viagens que faço, faço por que sonho, mas só em sonhos posso. Toda a luta minha se dá num campo de batalha onde ninguém pode alcançar e às vezes nem mesmo eu consigo localizar exatamente onde é. As confusões que se travam inequivocadamente são os motivos de todas as minhas buscas. Os medos que sinto de fugir e de deixar tudo pra traz, são os problemas que me perturbam consciente e inconscientemente. Mas eu não desisto de lutar. Resistir ao chamado que é feito diariamente é extremamente difícil, mas vou seguindo, até agora, conseguindo. Não sei até quando, nunca sei até sempre, posso afirmar que vou permanecer inerte diante de todas as situações que me afrontam, jogando em minha cara meus problemas e as soluções pra eles. Eu, por minha vez, não consigo vê-los. Tudo a minha volta diz que eu preciso partir, sair, optar, mas eu insisto em sentir medo daquilo que não posso dominar, mesmo não havendo menor importância se é preciso. Vou ficando por aqui, assim mesmo, porque tenho medo realmente. Acabo então recuando, volto ao portão e entro novamente. Não importa se os acontecimentos subsequentes irão influenciar terrivelmente na pessoa em que me tornarei. Doce ou amargo. Não estarei aqui pra ver todo o arrependimento de não ter tido coragem de agir na hora certa. Pegar meus sonhos com as mãos e transformá-los em pássaros cativos é o que tenho que fazer. Faço. Simplesmente apenas porque é dessa maneira que podemos criar todas raízes que podem nos sustentar e também, ao final de tudo, nos destruir.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Rês

Queres vós que nós, humildes teus servos, façamos tal coisa, que com a certa certeza que temos, irá de ser contrário aos instintos que são nossos em querer continuar querendo sobreviver. Quando estás aqui não somos ninguém que possa falar ou fazer, pois a ti temos que prestar homenagens e obediência. Agora, pede-nos que entreguemo-nos de corpo e alma à causa vossa, sem ao menos compreendermos o que disse vós, a nós. Agora, também, mais do que ontem, queres que lutemos em vossas guerras, santas por justas causas, como quem não tem amores a dar satisfação. Desse modo maneira, continuas a purificar sua própria essência para que não possamos jamais comparar-nos a vós, vocês. Não acreditamos totalmente nas palavras fraternais que de sua boca saem, pois quando abres vossa bocarra, mostras vossos dentes, e estes, são de fera que tem fome. Mesmo assim, apesar do medo que às vezes contorna-nos, seguimos em frente, direto e reto. Fazendo o que temos que fazer somente torna-nos a cada dia mais homens individuais e menos coletivos, para sobrevivência vossa. Nós e vós, sempre juntos, mas sempre distantes, porém, como sempre, no tudo há que se obedecer à regras que não nos permitem deixar de obedecer. Escravos teus por todo sempre. Tu nos permites viver com tudo aquilo que é suficientemente pouco. Por muito que fazes vós, parece-nos muito mais ainda. Que felicidade, termos vós em nossa útil vida de servidão, onde somos, com alegria verdadeira, o chão onde pisas e pisarás, o sangue que corre em vossas veias. Sem reclamações prestamos todas as homenagens, e de todas elas, vós sois digno. E nós indignos. Todos os agradecimentos e presentes são insignificantes perante vós. Nossas comemorações constantes são para festejar vossa ilustre existência e sem ela não seríamos nós mesmos. Vós ordenastes que fôssemos todos cegos e cegamente obedecemos. Vós impusestes a nós a vontade que fôssemos todos surdos, e não mais escutamos. Vós quisestes que não mais víssemos e então nunca mais enxergamos. Vós, finalmente, ordenastes que pra todo o sempre permanecêssemos calados e assim o fizemos. Seguimos assim, inexoravelmente, nessa vida nossa de rês, rumo ao fim, para a glória eterna vossa.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sis t'ema

Olha amor, não posso mais ficar preso às suas correntes. Eu te amo e sei que vou sofrer longe de você, sofrer demais, porém a dor que vou sentir não me faz desistir de desistir de você. Por que você nunca me amou, você apenas me usou e tenho certeza que ainda vai continuar usando, se eu resolver ficar, assim como fez com todos os outro antes de mim e depois também com certeza fará. Não aguento mais beber coca-cola, mesmo sem querer, só porque você me obriga, isso não pode ser amor. Não posso mais permanecer desejando poder desejar que qualquer coisa esteja aos meus pés, ao meu alcance, somente por que você me diz que eu posso e que eu tenho direito de desejar o que quiser. Não suporto nem mais um minuto olhar pra todas as coisas que você gosta expostas nas tantas vitrines por aí. Detesto todos os feriados prolongados e comemorativos, justamente por estar enojado desses teus anseios exagerados em gastar mais do eu ganho. Enfim, isso não pode ser amor. Isso, obrigatoriamente tem que ser ódio. E pra me livrar de você eu prefiro morrer, mas antes disso quero te fazer um pedido: Por favor não chores no meu velório. Você deve sorrir, aliás, você vai sorrir, pois você terá muitos motivos pra isso, afinal, com certeza, meu caixão será do melhor que o dinheiro pode comprar, repleto de lindas, perfumadas e caras flores.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Blá, blá, blá caminhandante

Ele não tinha jeito não de que iria parar mais não. Andava andava parava nunca não. A estradona olhava ele lá longe o fim não tinha. Era muito larga também e ele podia bem aqui andar ou ali e de um lado pro outro sempre atravessava. Mudava muito de idéia e ideiando sempre trocava de lado. Do lado de cá da estradona comprida tinha poca sombra, poca árvore, mas muito tinha comida, poso e sede nem passava. Do lado de lá tudo do contrário era bastante. Tinha poso muito também, mas era debaixo das grandes grandalhonas árvores que lá tinham. Comida poca e do lado de lá a caminhada era difícil muito mais. Vivia então ele atravessando a estradona buscando o que tinha do outro lado. Assim, dessa maneira fazendo poco andava, parava quase. A travessia muito perigosa ficava a cada passo em frente que dava. Havia perigos muito perigosos que podiam por fim à jornada sua. Mas ele perseverava bastante. Prosseguir preciso fosse qualquer sacrifício e ele fazia isso, mesmo tendo que arriscar a vida dele...

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Blá, blá, blá artístico

A arte é para o homem o que o homem talvez seja para deus. Mas somente talvez. A arte como expressão da criatividade talvez não conserve em si tal significado. A arte como beleza. A arte como diverso. A arte como aquilo que pode despertar nos homens sentimentos com infinitas possibilidades. O homem cria, artes e manhas. O homem é a arte que cria não como propósito primeiro de mostrar pra quem quer que seja aquilo que criou, mas sim pra interpretar a si mesmo, com objetivo de entender quais são os propósitos de tudo e todos que o rodeia. O homem cria... recria, copia e transforma, etc. Recria o que foi transformado em algo que já não tinha sentido de ser nomeado como arte. As cópias também são arte. Talvez tudo seja cópia de alguma coisa. De onde os grandes artistas tiraram suas obras primas senão dos originais guardados em suas mentes, mesmo que em frações de segundos de inspiração, naqueles momentos que, talvez por loucura ou por extrema exatidão de sentidos tiveram a lucidez de contribuírem com a humanidade com seus legados, sejam eles escritos, musicados, inventados, pintados? Mas sempre cópias do que já existia dentro de si mesmos...

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Blá, blá, blá musical

Canções pairando no ar, trazendo consigo uma sensação de liberdade de sentidos experimentada gradativamente diante das notas. As notas que temos e damos ao que escutamos simplesmente poderiam provocar uma explosão de sinônimos insignificantes. O amor falado nas canções pode ser verdadeiro, mas os sentidos podem nos enganar. As tristezas encontradas em grandes quantidades nas belas e melancólicas melodias podem entregar, a quem as ouve, tudo aquilo que elas menos desejam. Porque ouvimos involuntariamente qualquer coisa que possa nos interessar ou que definitivamente satisfaça nossa curiosidade inconsciente. Os sons encontrados no cotidiano são barulhos ensudercedores quando gostaríamos de viver no silencio. O silencio do escuro. Mas o silêncio, além do escuro, não existe. A vida é feita de sons, música, barulho. Notas musicais que se transformam em melodiosas canções juntamente com todos os outros tipos de ruídos, uns fabricados por nós mesmos, outros naturalmente criados, contribuem para que a loucura do silêncio possa tornar-se utópica. Loucura capaz de elucidar mistérios escondidos nos mais profundos silêncios das mais intrigantes personalidades humanas...

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Blá, blá, blá reflexivo

O desespero sentido pelas pessoas quando refletem a respeito da vida é compreensível, principalmente porque, geralmente, as pessoas que fazem esse tipo de reflexão, são pessoas que já conseguiram compreender minimamente alguns signos mostrados propositadamente. É percebido a superficialidade de alguns conceitos que temos como os mais absolutos, e que jamais se modificarão ou que nunca haverão de transmutar-se em alguma outra verdade que não satisfaça nossos próprios egos. Se pensarmos profundamente no nosso trabalho, naquilo que fazemos todos os dias, se analisarmos cada um e todos os aspectos que compõem nossos intermináveis dias, chegaremos a conclusão, talvez, que é em vão. Toda a nossa vida passamos trabalhando, dormindo, tomando banho, estudando, amando, procriando, construindo, destruindo, etc ao infinito. A vida é isso, alguns poderiam afirmar e afirmam. Outros poderiam dizer que a vida não pode ser só isso. Mas então o que é, afinal, que estamos fazendo todos aqui parados no tempo esperando?

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

domingo, 11 de maio de 2008

Super Homem

Nós existimos de verdade e estamos bem perto de vocês. Sabemos voar. Numa fração de segundo podemos ir até o Alaska.. Nos preocupamos com as pessoas. Não queremos que alguém sofra, nunca, jamais. Estamos em qualquer lugar e em todo lugar. Conhecemos o nordeste brasileiro, as geleiras eternas, o deserto do Atacama. Somos, latino-americanos, europeus, asiáticos, somos cidadãos do planeta Terra. Não somos melhor do que ninguém por que somos super homens, mas sim porque todo homem também é. Somos super homens porque evoluímos, caminhamos, avançamos, sempre em frente.

Agora não mais fazemos guerras. Não existem mais motivos para matarmos uns aos outros, se bem que nunca houve, em nenhum tempo ou espaço. Há muito tempo que não dependemos mais do petróleo e isso foi um dos separadores entre o tempo que vivíamos como macacos e agora, que vivemos como super homens. Ao abandonar essa prática, que tanto serviu de motivo pra nos matarmos, passamos a ser melhores, pois tudo empurrava as nações pra sua auto sustentação energética. A partir desse ponto, ao longo das gerações, os países foram percebendo a importância da educação na construção dos super homens de hoje. Não foi uma tarefa fácil, quase desistimos, e agora podemos olhar pra trás com orgulho do que realizamos. Hoje já não existem fronteiras que separam este ou aquele país. O planeta terra é hoje uma só nação, onde todos são irmãos de fato e todos se preocupam com todos. Não existe mais fome, aliás, há centenas de anos que não sabemos mais o que isso significa. A produção de alimentos deu um salto em qualidade e quantidade que produzimos cem vezes mais num espaço dez vezes menor do que o que era utilizado no século vinte e um. Nós não poluímos mais o ambiente.

As crianças de hoje nem imaginam o que isso significa e quanto sofrimento causou até que fosse dada a devida importância as questões de preservação ambiental. Não existe lixo em lugar nenhum, pois tudo pode ser transformado em alguma coisa útil, assim como já havia dito um grande pensador muitos e muitos anos atrás. A natureza agradece nos fornecendo esse planeta maravilhoso onde vivemos. Através das nossas pesquisas cientificas pudemos recriar em laboratório todas, sem exceção, as espécie que foram extintas até o final do século vinte e um. Hoje qualquer super homem pode ver em um zoológico animais que nem mesmo os homens daquele tempo pôde ver. E mais. Pode, se quiser, conhecer todas as riquezas naturais do planeta, intocáveis.

A mata atlântica tropical, as imensas florestas tropicais, como a Amazônia, as florestas temperadas no hemisfério norte. Tudo devidamente reconstruído nos mínimos detalhes, para que devolvêssemos o equilíbrio ao nosso meio ambiente. A flora e a fauna novamente em harmonia e quando falamos em fauna, inclui-se nós também, o super homem, que agora compreende exatamente qual é a sua função na natureza e tem a certeza que não é nenhuma forma de dominação sobre outras espécies, sejam elas vegetais ou animais. Ninguém em nosso tempo sabe, muito menos se lembra, dos problemas ocorridos por ocasião da escassez de água no final do século XXI. Não lembramos porque depois daquele triste episódio da história da humanidade, onde sofremos por ações e decisões equivocadas tomadas por nós mesmo, mudamos e mudamos pra melhor. Buscamos as soluções e elas existiam e eram simples. Hoje nenhuma água é poluída nem desperdiçada. Ao mesmo tempo todos tem água. A água, hoje, é nossa única riqueza. E quando falo em riqueza, percebam que falo em nossa, e é realmente nossa, ninguem é ou se sente dono da água. Não existem pobres. A pobreza também já não faz parte da nossa realidade. Compreendemos a muito custo que não podíamos continuar desejando ser melhores do que os outros. Enquanto uns tinha tudo outros nem com o suficiente pra sobreviver. Demos um basta nestas injustiças, que começaram no momento em que o homem cercou o primeiro pedaço de terra e disse que era dele.

Propriedade privada que signifique opressão ao outro, não existe mais. Direito de propriedade somente é permitido quando se trata da defesa do direito de todos. Pois o planeta não é de ninguém. O planeta em que vivemos somos nós e somente quando percebemos isso, é que pudemos transformar nossas experiências. Todo mundo tem tudo aquilo que precisa pra viver, sem mais nem menos. Sabemos exatamente onde queremos chegar. Conhecemos com a mesma exatidão de onde viemos. E temos certeza pra onde estamos caminhando. Também há alguns séculos, tivemos noticias de nossos irmão de outros planetas. Eles sempre existiram. Existem há muito mais tempo que nós, e pra eles, somos apenas um bebê engatinhando. Engatinhando no sentido de ainda não termos chegado ao ápice da evolução, ao final da jornada, que eles já conhecem desde tempos imemoriais. Estremeçam, pois, leitores deste prepotente texto.

Nós, super homens, não temos fronteiras, barreiras ou impedimentos. Pra onde caminhamos não há volta, pois não queremos mesmo voltar. Apagamos todas as pistas, só nos restando agora avançar. Nosso mundo está do jeito que foi criado há bilhões de anos, e isso só aconteceu porque quisemos isso e lutamos pra restaurá-lo. Assim como nossos ancestrais quase destruíram o planeta, nós o reconstruímos. Para nossa justa sobrevivência.




SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Pensando em que?

Já fazia mais de duas horas que aquele rapaz permanecia sentado. Um banquinho bem abrigado à sombra de uma enorme árvore, daquelas que tem folhas bem grandes e uma deliciosa sombra, e que, não por acaso, não sei o nome. Estava ele. Sozinho. Por um momento achei que estivesse, mas logo percebi a presença incontestável daquela enorme criatura que fornecia sua sobra aquele rapaz. Ele parecia triste, talvez porque a sombra o envolvesse numa espécie de nevoeiro invisível, que parecia impedi-lo de levantar a cabeça. Não ria. Não falava. Às vezes parecia dormir.

De repente alguma coisa mudou. Continuava de cabeça baixa, mas o nevoeiro imaginário, que provavelmente é fruto de minha própria imaginação, se dissipou. Vi caminhando lentamente em sua direção um pequeno pássaro. Não sei qual era. Mas isso também não importa agora. O pássaro parecia estudar cada passo que dava, buscando não assustar aquele pobre rapaz. Bicava aqui e ali. Dava pequenas corridas de um lado para o outro. O rapaz nem percebia. O pássaro percebeu que não corria perigo e avançou. Voou e pousou no assento do bando. Nem assim conseguiu chamar a atenção. Bicou sua mão, mas não foi capaz de tirar aquele rapaz do transe onde se encontrava.

Vi uma luz intensa. Branca. Quase me cegando. Tinha sido um sonho. Olhei ao meu redor e percebi que continuava no mesmo lugar. Naquele lugar horrível. Um quarto todo branco. Com cortinas brancas. Móveis e roupas de cama, tudo branco. Senti um desespero. Lembrava-me do sonho. Parecia sentir a densidade daquela sombra. Abria a janela e fiquei por algum tempo tentando me localizar diante daquilo tudo que estava acontecendo. As pessoas lá embaixo também estava todas vestidas de branco. Todas meio atrapalhadas, andando de um lado para o outro. Havia muitas e enormes árvores. Estavam floridas e suas flores contrastavam com o clima de tristeza que se abatia sobre aquelas pessoas. Fiquei olhando por algum tempo aquela paisagem e no entanto foi como se estivesse num outro mundo e enxergasse aquelas pessoas como anormais. Elas eram anormais. Deu vontade de ir até onde eles estavam. Falar-lhes do meu sonho. Perguntar porque tanta tristeza diante daquele espetáculo que a natureza proporcionava?
Desci até aquele imenso jardim e por incrível que pareça não havia escadas no prédio onde eu estava, mas de alguma maneira tive que desce por algum lugar. Olhei pra cima e tentei localizar a janela onde eu estava há poucos instantes e não consegui encontrar. Não havia janelas. Não havia prédio. Olhei ao meu redor e aquilo foi muito estranho, pois estava bem no meio de uma enorme multidão. Todos de branco. A mesma paisagem que lá de cima, do quarto, parecia alegre e festiva, agora se revelava desoladora e, pra ser sincero, fazia uma grande confusão em minha cabeça, meus sentimentos já não estavam claros. Tentei identificar alguma pessoa conhecida no meio daquele turbilhão de rostos. Em vão. Aquelas pessoas não estavam ali. Elas olhavam pra mim, mas era como se enxergassem através do meu corpo. Me senti nu. Despiam-me com seus olhares invasivos, pareciam estar descobrindo todos os meus segredos. Coisas que eu tinha medo de trazer à toda e agora espontaneamente eu revelava àquelas pessoas. Falava sem me pronunciar. E eles ficavam satisfeitos em conhecer todas as minhas verdades.

Comecei a chorar. Quis desaparecer daquele lugar. A sensação que eu tinha era que eles iriam entram em minha cabeça. Comecei a correr desordenadamente. Descontroladamente em qualquer direção. Não importava. Queria me livrar daqueles olhares indiscretos. Tudo muito rápido e instantâneo. Novamente uma luz branca me cegava os olhos. Sentia os meus sentidos à flor da pele. A mais suave brisa parecia uma tempestade. O calor era insuportável e ao mesmo tempo sentia frio. Uma tremenda confusão, que fez com que minha cabeça parecesse enorme. Achei que fosse explodir. Aquela luz diante dos meus olhos. Somente luz. Não havia mais nada. Nem quarto. Nem cama. Nem gente. Nem eu mesmo me encontrava naquele lugar e o mais estranho é que eu também não me sentia.

Aí está você. Deve ter sofrido bastante. Seu rosto tem uma terrível expressão de sofrimento. Seus últimos momentos devem ter sido muito difíceis. Tem uma aliança na mão esquerda. Tem esposa, então provavelmente deve ter deixado um filho ou quem sabe dois. Qual será o nome desse rapaz? Não importa, talvez seja João, Pedro ou Antonio. Com certeza sua vida foi bem complicada. Sua aliança esta toda riscada e suas mãos são calejadas. Devia trabalhar em serviço pesado, ou na roça, ou quem sabe na construção civil. Pra ir trabalhar tinha que se levantar às cinco horas da manhã. Saia sempre sem tomar café, pois não dava tempo, se tomasse, perdia o ônibus e se perdesse o ônibus também perdia o emprego. E isso não podia acontecer, pois sua família dependia dele. Seu filho ou seus filhos dependiam dele. Provavelmente você foi um bom pai e um bom marido. Um pingente com o nome de uma mulher, provavelmente sua mulher. Você também foi muito romântico, afinal qual homem carrega junto consigo uma coisa dessas hoje em dia?

Não gostava muito de se barbear nem de cortar o cabelo.

Fiquei admirado. Era um sujeito muito ansioso, pois quase não existem unhas em seus dedos. Talvez fosse pela extrema responsabilidade com sua vida. Medo de não conseguir honrar seus compromissos. Medo de perder o emprego. Um enorme medo de ficar doente, e assim não poder trabalhar e ser despedido. Medo, talvez, de envelhecer ou morrer antes de deixar o devido amparo à família.

Pagava aluguel. Uma casa horrível, provavelmente num lugar igualmente horroroso, com condições precárias. Seus filhos nem tinham onde brincar. Na rua não podiam, pois tinha um esgoto enorme a céu aberto. Dentro de casa, nem pensar, pois eram somente dois cômodos e o banheiro, se é que aquilo podia se chamar de banheiro. No seu bolso esquerdo há um recibo de aluguel. Muito caro. Pra você tudo devia ser caro.

Mas agora morreu e não precisa mais se preocupar com nada. Apenas fechar os olhos e descansar. Sua mulher com certeza vai arrumar outro marido, pois ainda é bastante jovem. Vai sofrer e vai chorar bastante. Talvez demore pra esquecê-lo, mas vai conseguir. Porque provavelmente, você que sempre foi tão preocupado e atencioso, deve ter recomendado a ela, que se acaso você morresse, pra que ela não ficasse sozinha. Tinha pedido a ela que arranjasse alguém pra ajudar a cuidar dos meninos. Até isso você deve ter pensado.

Agora aí deitado, inerte. Pensando em que?

Seu pai precisou partir filho. Foi morar no céu, junto com as estrela! Respondia aquela pobre mulher a seu filhos sempre que este a indagava sobre seu pai. Não adiantava tentar remendar a história. O menino, mesmo acreditando em sua mãe e nas histórias que ela contava, sabia que seu pai havia morrido. Não voltaria a vê-lo novamente. A viúva, coitada, toda vez que o menino fazia esse tipo de pergunta, se desmanchava em pranto e ficava inconsolável. Seu marido era um bom homem. Um lutador. Mas do que adiantara todo o seu esforço. Se perguntava a pobre viúva. Morrera jovem, sem ver seus filhos criados. Não conseguiu construir a casa com que sonhara morar desde quando casaram-se. Agora não realizaria o sonho de acompanhar seus filhos na escola, levá-los, tomar a lição, pra, segundo ele – Ser gente na vida, ganhar dinheiro e ter alguma coisa!!! Acabaram, todos os sonhos se foram.

Novamente do alto daquele prédio. Numa janela, dessa vez era muito pequena e estava tudo muito escuro ao meu redor. Somente aquele quadradinho iluminado à minha frente. Não sabia se estava sentado ou deitado, mas parecia estar flutuando e aquela sensação me fez perceber que o sonho ou a alucinação havia acabado e tudo agora se tornava mais claro pra mim. Eu estava acordado. Tinha que estar. Aquilo não podia ser falso.

Através daquela pequena janela comecei ver coisas, no inicio estranhas, mas logo fui me acostumando. Eu vi um rapaz sentado sob a sombra de uma árvore. Uma mulher chorando desesperadamente. Uma casa, minha casa, todo enegrecida. Me aproximei mais e vi também uma criança, porém não chorava. Nos seus olhos eu vi um sentimento horroroso que não devia existir no coração das crianças. Ela sentia saudades e eu vi naquela criança que aquele sentimento se transformaria em algo que ela não seria capaz de dominar. Seria transformada numa criatura amarga e infeliz.

Não consegui entender o porque. Não conhecia a mulher que chorava, muito menos os meninos de olhos revoltados e rancorosos. Mas o homem sentado à sombra me assustou. Olhei bem pra ele. Cheguei bem perto. Olhei dentro dos seus olhos e vi. Me vi. Dentro seus olhos me encontrei. Percebi tudo afinal.

Tudo se apagou momentaneamente. Voltei ao jardim onde já havia estado antes. Agora com mais clareza, soube que todas aquelas pessoas estavam na mesma situação que eu. E elas, individualmente, também não conseguiam ver em mim alguma consciência. Pra elas eu também era mais um doente.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Felicidade

Manelão tinha um galo índio que cantava exatamente às quatro e meia da manhã, todo o santo dia. Ele ficava empoleirado em cima da cumeeira da casa a noite toda, quem via o galo lá durante a noite dizia que parecia uma estátua, pois ele nem se mexia. O galo mal dava sinal de enfraquecer a voz e Manelão já tinha um substituto. Mantinha um time de galos de prontidão para substituição imediata. Dizia ele que “coisa essencial em um sítio era um galo”. Gostava de se gabar de ter no seu terreiro os melhores galos cantadores da redondeza. Só não gostava de gente que colocavam os bichinhos pra brigar. Seus galos eram de serventia apenas pra cantar. Pois pra Manelão horário era coisa séria e ele era extremamente rígido com seus compromissos. Às cinco horas, pontualmente, ele já tinha preparado o café, tomado, colocado um pouco numa garrafa e já estava em pé bem em frente do grande pé de figueira, onde, todo dia ele realizava o mesmo ritual.

Subia no galho mais alto daquela imensa árvore e lá de cima podia olhar toda a sua propriedade, que se estendia desde a barroca do rio Cruzante até o pé do morro da Caçarola, lá longe onde sua vista não alcançava. Rezava, agradecia a deus por tudo que tinha. Agradecia pela sua família, pelos seus bichos, que sempre gozavam de boa saúde. Após isso ele descia. Com muito cuidado, pois já não era tão jovem como na época em que começara com aquele costume.

“Bom dia Janete!!” – berrava Manelão entusiasmado. Janete era o nome da sua única vaca. Única não porque ele não tivesse condições de ter mais vacas, mas é que ele era bastante criterioso na aquisição dos seus bichos. Ele acreditava que se não fosse pra ele ter outras vacas iguais a Janete, ele não queria. – A Janete deveria ser uma raça, fico só imaginando o pasto cheinho de Janetes!!! – suspirava Manelão. Tirava o leite, que era suficiente pra sua família. Dava pro queijo, qualhada, bolo, doce. Quando voltava pra casa o dia já tinha amanhecido. Muitas vezes ele, ao atravessar um pequeno bosque que ficava entre o curral e sua casa, parava e ficava hipnotizado com todos os presentes que Deus havia lhe dado. Os pássaros cantavam as mais belas melodias dentro do seu quintal. As árvores tinham uma beleza sem igual. Ficava alguns segundos nesse estado de transe para logo acordar, ainda tinha que tratar das galinhas e dos porcos.

Aquele dia, como todos os outros, fora um longo dia de trabalho. Porém a noite não seria nada tranqüila. Ele tinha acabado de fazer sua ultima tarefa do dia e estava louco pra chegar em casa, tomar banho, comer e dormir, mas quando colocou os pés dentro de casa, foi recebido aos trancos e barrancos pela sua esposa. Ela estava furiosa. – O que aconteceu mulher? – perguntou Manelão pacientemente. – Não se faça de inocente! – gritou sua mulher descontroladamente.

Já se passaram vários anos de casamento com este homem que eu mal conhecia. Pra ser mais exata, eu ainda não conheço. Manelão!! Vê lá se isso é modo de uma pessoa se chamar. Fui obrigada a me casar com ele. Gostava de outro, mas ele não era ninguém. Não tinha onde cair morto, coitado. Já o tal do Manelão tinha. Quer dizer, também era um pobre diabo, mas segundo meu pai, ele tinha uma bela propriedade, que se estendia desde a barroca do rio Cruzante até o pé do morro da Caçarola. Baseando-se nisso, meu pai não pensou duas vezes em arranjar o casamento entre nós. Foi um tragédia, pra mim é claro, pois o safado do Manelão estava em êxtase.

Uma semana de casamento, no entanto nós ainda não tínhamos nos tocado. Eu era muito arredia e rebelde. Mas ele não se importava. – Uma hora você vai ter que ceder. – dizia ele calmamente. Ele não sabia o quanto aquela paciência me irritava. Tinha vontade de matá-lo bem aos pouquinhos e este sentimento se estendia também ao meu pai, pois ele tinha sido o culpado de tudo. Ah.. Miguelito, se fosse com você tudo podia ter sido diferente.

Detestei o lugar. Meu ódio por aquele homem e o sentimento de frustração me cegava a ponto de eu achar horrível aquelas lindas paisagens que juntamente com a casa, parecia um quadro. Odiei a casa, que era muito bem organizada. Limpa. Bem feita. Num bom lugar e com uma ótima vista. Não gostei justamente por isso. Esperava o contrario. Queria que fosse tudo horrível. Que a casa onde moraríamos fosse um pardieiro, sujo como um chiqueiro. Mas não era. Não tive justificativa pra reclamar. Minha última esperança era de que o famigerado Manelão fosse um péssimo marido, bebesse, me espancasse, assim meu pai me aceitaria de volta. Mas o desgraçado nem pra isso prestara. Era gentil e a cada sua gentileza sua eu respondia com algum objeto na parede. Ele não reagia. – Não tem problema amor, foi só um acidente! – dizia ele tranquilamente. Sua paciência era o combustível para minha impaciência.

Seu Manelão entrou, arrastou uma cadeira, sentou-se num canto da cozinha e ficou olhando pra sua esposa pacificamente. Ela estava num estado de nervos que até ele, com toda sua paciência, estranhou. Tremia-se toda. Gesticulava. Puxava os cabelos. Seu beiço tremia. Manelão se levantou, olhou bem pra ela e disse: Vou tomar um banho e dar um pulinho na cidade, quem sabe quando eu voltar você está mais calma... Ela nem olhou pra ele, continuou naquela posição, como se estivesse presa em um mundo que não fosse seu.

Manelão vestiu sua melhor roupa, calçou os sapatos. Foi até a varanda pra se despedir e teve que correr, se não ela lhe acertava um vaso de flor na cabeça. E lá se foi Manelão, rumo à cidade. Nada tirava daquele homem o otimismo e a alegria. Enquanto caminhava prestava atenção aos menores barulhos. O vento balançando o capim na beira da estrada. O canto dos pássaros noturnos. Olhava as estrelas e a lua. Tudo era belo, a noite era como se fosse, pra ele, a princesa do reino onde o dia era o rei. Ele de vez em quando olhava pra trás pra ver se a luz da varanda já tinha se apagado. Na última vez que olhou ainda estava acesa e aquele ponto era o último que dava pra ver a varanda da sua casa. – Daqui a pouco ela se cansa e vai dormir, amanhã vai ser outro dia! – dizia ele, convicto de que no outro dia tudo voltaria ao normal. E o normal pra ele sempre foi agüentar a fúria dela pacifica e passivamente. Nunca reagira. De maneira nenhuma, a não ser inventar alguma inesperada visita a cidade.

Caminhou durante uns quarentas minutos, no máximo, e conseguiu uma carona. Um caminhão boiadeiro que passava, parou e ele foi sentado em cima da carroceria, com os pés balançando sobre as cabeças dos animais. Até aquilo era motivo de felicidade pra ele. Olhava aqueles animais e sentia pena, mas ao mesmo tempo sabia que era preciso sacrificá-los. Chegando à cidade, o caminhão parou e ele desceu. Agradeceu ao motorista, propôs pagamento pela carona, que o motorista rejeito sumariamente. – Deus lhe pague então amigo!!! falou a agradecido. Atravessou a rua, andou alguns metros e entrou num bar. Nunca tinha entrado ali, só queria comprar cigarros. Mas acabou ficando. Se enturmou com o pessoal. Jogou “esnuque”, baralho e até dominó. Já estava tarde quando resolveu tomar a saideira pra ir embora. Sentou-se num banquinho perto do balcão e pediu a bebida. O dono do bar veio atendê-lo rapidamente. – Rapaz, mas que crise ein!!! – falou todo comunicativo o dono do botequim querendo puxar conversa. Seu Manelão assentiu com a cabeça e não deixou ele levar a garrafa mais. Encheu o como novamente e virou. Seria preciso bastante combustível para o longo caminho de volta ao sítio.

Era um lugar esquisito. Alguma coisa como Bar do Bileque. Notei o nome porque estava escrito em vermelho com letras garrafais na fachada do prédio. Apesar disso era um legitimo botequim de fim de rua. Uma mesa de bilhar, algumas mesas de jogos no fundo. Um balcão enorme, com um monte daqueles banquinhos de pernas compridas encostados perto. Todos os banquinhos, ou quase todos, tinham dono. Figuras de todos os tipos, ali se encontravam os brasileiros. Depois desse rápido reconhecimento do território, encontrei um daqueles banquinhos desocupado e tratei logo de me sentar. Queria comer alguma coisa logo, pois dali a pouco estaria partindo. Ao sentar, fui atendido rapidamente por um simpático senhor. Era o tal do Bileque. Todos o chamavam assim, logo...

O senhor Bileque trouxe o meu pedido e continuou por perto onde estava numa animada discussão com um sujeito sentado ao meu lado. Me interesse pela conversa deles e fiquei prestando atenção.

Falavam de felicidade. Seu Bileque dizia que era feliz, apesar de faltar-lhe algumas coisas. Já o sujeito do meu lado, que por sinal já estava bem alto, fazia uma única reclamação, deus havia lhe dado tudo e até mais do que ele merecia materialmente, mas o grande amor da sua vida não o amava. Continuaram a conversa algum tempo ainda até que seu Bileque olhou pra mim e de supetão perguntou: E você, o que acha? Quase engasguei, pois apesar de estar prestando atenção na conversa, não imaginava essa situação, fiquei sem reação. Era como se eles soubessem o que eu estava pensando e que eu tinha também algumas reclamações a fazer ou sugestões a dar.

O sujeito ao lado, pela primeira vez olhou pra mim. Percebi um homem angustiado. Dentro de seus olhos havia uma felicidade realmente incompleta. Era como se faltasse um pedaço daquele homem. Ele ficou alguns segundos olhando pra mim, como se me estudasse, como se tentasse adivinhar qual seria a minha resposta para sua pergunta, como se eu fosse a solução pra aquele dilema em que vivia sua alma e a extrema contradição da sua vida

O que você faz da vida? Perguntou finalmente. Eu, de passagem por aquele lugar, com a certeza de que nunca mais iria ver tais pessoas, num “insight”, respondi:

- Sou vendedor de idéias.
- Vendedor de idéias, como assim?
- Não vai adiantar explicar agora, por que não tenho tempo.
- Tudo bem, então me vende uma, nem que for uma bem pequena.
- Agora quem não entendeu foi eu senhor. O que o senhor quer exatamente?
- Eu quero ser feliz.
- Ah!!! Isso é muito fácil.

Aquele senhor então olhou pra mim com uma cara de espanto e quis saber se eu era feliz. Respondi que sim e ele fez uma cara que eu sabia que era de inveja e ao mesmo tempo de orgulho. – Me ensina? – pediu, quase num sussurro. Então eu disse que ele já era feliz e que não precisava procurar em outro lugar, pois a felicidade estava dentro dele há muito tempo. Ele então perguntou se sua mulher um dia poderia amá-lo. Após saber toda a história, experimentei uma opinião.

- Você podia deixá-la ir. Ela não é sua felicidade. Sua felicidade está em você mesmo. Nas coisas que você dá valor. Na beleza que você vê ao seu redor. E isso ninguém vai tirar de você. Sua esposa, provavelmente também é infeliz e muito provavelmente também não é culpa sua. Parece-me que vocês buscam felicidades diferentes e nunca encontrarão um no outro. Você já é feliz, deixe-a ser também.
Não faço a mínima idéia do por que daquela resposta. Se formou em minha cabeça e fui falando espontaneamente, como se fosse algo que eu realmente acreditasse e que fizesse parte do mel rol de conceitos, ou ainda, talvez eu estivesse repetindo algumas das muitas opiniões sobre a vida expressas nos muitos livros em que já lera. Enfim, o fato foi que aquele homem havia se impressionado com minha fala. Mas antes dele falar alguma coisa, levantei e sai apressado, havia chegado minha hora.

Era tudo que eu queria que ele fizesse. Não agüentava mais. Todos aqueles anos convivendo com Manelão e eu não cedi um milímetro sequer. Era a mesma pessoa do dia do nosso casamento. Frustrada, magoada e ressentida com a vida. Eu fui enganada pelo destino. Mas finalmente tinha me decidido. Abandonei tudo, pois nada daquilo tinha valor pra mim. – Manelão!! – não estava nenhum pouco preocupada com ele. Tinha certeza que, apesar de tudo indicar o contrario, ele sempre esteve olhando exclusivamente para o seu próprio umbigo. Ele teve como evitar tantos anos de sofrimento, tanto meu como dele, mas ele preferiu arriscar nossas vidas nessa tentativa de conquistar o amor à força. Não conseguiu. Teve o que mereceu durante todos esses anos. Não queria que ele ficasse com nada, nenhuma lembrança minha. Desejei nunca ter existido pra ele.

Fui até o quarto, arrumei algumas roupas numa pequena sacola e bem tranquilamente sai. Fiquei por alguns minutos olhando a noite. O céu, as estrelas, a lua. Olhei cada detalhe daquele lugar que tinha passado quase toda minha vida. Apesar do escuro, era como se estivesse dia, pois enxergava nitidamente tudo. O curral e os animais que dormiam naquela hora da noite. Janete ruminando bem tranqüila, encostada na cerca olhando pra mim. O galo empoleirado em cima da casa que tanto me irritara e agora não conseguia imaginar-me sem seu canto. Olhei mais uma vez pra aquilo tudo e fiz o que tinha de fazer.
De longe o clarão daquelas chamas iluminava o caminho. Não olhei pra trás. Já não tinha mais nenhuma ligação com aquele lugar e nada me fazia desviar do meu destino. Agora eu seria a senhora da minha própria vida. Quando vi ele se aproximar, tive a certeza de que tinha feito a coisa certa. Me encontrava, naquele momento, com a felicidade que um dia me fora roubada.

Tudo era negro. Canudos de fumo subiam dos restos do que foram um dia o sitio de Manelão. Ele olhava perplexo. Já havia amanhecido e ele ainda não conseguia esboçar nenhuma reação. Não chorou. Sua casa destruída. Todos os seus animais mortos. Seu galo e a vaca Janete também. Nem quando encontrou seus restos mudou sua expressão resignada. Não restou definitivamente nada de tudo aquilo que um dia tinha sido seu mundo. O mundo de seu pai e de seu avô. Não chorou. Nenhuma única lágrima. Pensou na marida. Provavelmente estava morta também. Não sentiu tristeza, sentiu como se tivesse a libertado
Olhou ao longe e viu o pé de figueira também queimado. Tudo destruído. O pequeno bosque perto também estava queimado. Aproximou-se do que restou daquela grandiosa árvore, subiu até onde deu. Agradeceu. Tinha finalmente encontrado a felicidade. Era finalmente livre pra satisfazer a si próprio.

Sozinho, sem jamais olhar pra trás, agora ele era feliz.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Calçada

Era hora do almoço quando Ariano decidiu que naquele dia não iria almoçar. Não havia tempo pra pensar em futilidades inúteis referentes à gastronomia e à manutenção de suas necessidades básicas, como a reposição das calorias gastas até aquele momento com seu entediante, mas recompensador trabalho, que na verdade consistia em contar e conferir, nunca repetindo o que era contado e conferido. Todo dia era uma surpresa.

Não havia tempo a perder. Passou rapidamente pelo vestiário, trocou de roupa como se tivesse que pagar uma multa exageradamente alta, caso se demorasse nesse ritual, quase fúnebre, em que as pessoas muitas vezes ficam horas e horas experimentando peças e peças de roupas. Fez isso num átimo de momento.

Já na calçada, como um psicótico, olhou para um lado e outro da rua, na direção de qualquer carro, como se quisesse compreender todo o seu funcionamento somente pela pura e simples apreciação do modelo, da cor, dos tamanhos e modelos das rodas, os tipos de pneus. Parecia prestar atenção aos mínimos ruídos dos motores, perceptíveis talvez apenas aos cães.

Gostava de amarelo, achava essa cor a mais bela entre todas as outras e sempre que tentava nunca conseguia encontrar uma razão prática e racional pra esse gosto, tão estranho quanto gostar de assistir jogos de futebol, aos domingos, às quatro horas da tarde, totalmente nu no sofá em frente ao televisor.

Seguiu, instintivamente, na mesma direção em que seguia o primeiro carro amarelo que por ali passou, indo no sentido do Dama do Alvoroço, que era um clube, que ficava na zona leste da cidade. Um clube, porém, não se podia dizer que era um clube social, pois estava mais pra clube anti-social. Na verdade era mesmo um bom e velho clube daqueles em que somente os homens são bem vindos, mais parecendo o Clube do Bolinha.

Andou durante uns quarenta minutos, pela calçada que estava bastante tumultuada. Muitas pessoas indo e vindo, parecendo que todas estavam com os mesmos objetivos, ou seja, atrapalhá-lo. Mas tendo percebido esse estratagema, rapidamente, nosso neurótico e esquizofrênico herói tomou uma difícil decisão, que provavelmente mudaria completamente o rumo de nossa história. Mas não muito.

Dentro do táxi, Ariano olhou e reparou em tudo. Viu que as borrachas de vedação das portas não estavam no lugar, a manivela de subir ou descer o vidro não funcionava corretamente, o assento do carro não era confortável o suficiente, o cinto de segurança não estava dentro das especificações do conselho nacional de trânsito, o motorista não estava decentemente trajado, aliás, trajava uma calça jeans bastante surrada, uma camiseta de um branco um tanto encardido, usava uma boina preta na cabeça à Che e uma barba enorme, que fazia com que aparentasse ter pelo menos uns sessenta anos. Ariano não aguentou e perguntou sua idade. Tinha apenas vinte e dois.

Assim que conseguiu inventariar todo o interior do táxi, Ariano lembrou-se que na pressa de se livrar daquela multidão da calçada, se esquecera de reparar qual era a cor do carro e isso o incomodou bastante. Foi então que abriu a janela e coloco aquela sua enorme cabeça espantada para fora do carro para verificar pessoalmente a cor, sem ter que apelar humildemente para a boa vontade do motorista com sua possível pergunta, que pro motorista podia ser inútil e sem sentido, além do mais não queria atrapalhá-lo na sua tão compenetrada condução do veículo.

O carro era vermelho e ele nem titubeou em pedir para que o motorista parasse o carro imediatamente, pois ele precisava descer bem ali. Mal sabia o motorista que ele não podia ficar um minuto sequer dentro de um carro que não fosse amarelo. O motorista ainda tentou argumentar que ali era muito perigoso pra ele descer, mas não teve jeito.

Na calçada novamente pode respirar aliviado, havia se livrado da maldição de ter que andar em um carro como aquele. Havia andado apenas algumas quadras, mas o movimento na calçada já era bem menor e isso foi constatado com muito contentamento pelo nosso amigo. Havia poucas pessoas andando naquele ponto. Pôs-se a caminhar na direção do Clube do Alvoroço, sem pressa, tranqüilamente com a certeza de que o rio corre para o mar.

Os muros e grades das casas passavam lentamente por ele. Muros altos e baixos. Grades de todos os tipos e cores. Havia alguns em que trepadeiras vigorosas cobriam toda a extensão do muro ou grade, desfigurando totalmente o muro. Nosso amigo caminhava insistente por aquela calçada e achava muitas vezes que ela queria o impedir de passar. Havia muitas raízes e rachaduras e buracos, que contribuíam para que a calçada mais parecesse o front da primeira guerra mundial, com suas trincheiras e enormes buracos causados pelas bombas, e muitas vezes, podia avistar até mesmo pessoas lá dentro, tornando-se os soldados entrincheirados aguardando ordens de ataque ou evasão.
Continuou perspicaz em sua caminhada, pois não podia falhar naquele momento, era necessário que conseguisse chegar naquele lugar que nem mesmo ele sabia onde era e isso estava parecendo uma seqüência interminável de algum experimento onde as coisas sempre terminam onde começam.

Chegou em frente ao Clube do Alvoroço exatamente três horas depois de ter deixado apavorado o seu trabalho sem ao menos pedir ao chefe para sair, nem mesmo explicar os motivos de sua imediata ausência do local de trabalho. Lá estava ele, parado e olhando fixamente para a fachada do clube. Mais uma vez com aquele olhar citado no inicio dessa história que mais parecia um louco ou maníaco a maquinar alguma malvadeza ou loucura, obviamente.

O prédio era uma construção antiga que mais parecia um museu. Havia seis grandes colunas ao velho estilo grego ou romano, talvez um misto dos dois estilos. Essas colunas pareciam funcionar como uma amurada de proteção para os freqüentadores daquele local e assim exercia fielmente sua função, pois pra quem não sabia o que ali funcionava, jamais descobriria num primeiro olhar. A construção era bastante alta, se fosse um prédio deveria ter uns dois ou três andares. De onde ele estava não dava pra ver mais detalhes além da imensa porta cor de ébano, com um grande instrumento daqueles que a gente utiliza para bater à porta, cujo o nome eu infelizmente desconheço.

O jardim era imenso e bastante colorido, havia inúmeros tipos de plantas ornamentais e não havia nada que separasse a calçada, o jardim e o prédio do clube. Foi nesse momento que aconteceu o inesperado, pra mim é claro. Nosso amigo deu apenas alguns passos em direção à porta quando teve que encarar dos dois lados do estreito caminho por onde passava, canteiros com milhares e milhares de flores coloridas e infelizmente sem nenhuma da cor preferida do nosso herói.

Sem que mudasse qualquer traço do seu já citado rosto de gente louca, ele recuou, deu a volta, porém, se é o que vocês, leitores, estão pensando, não posso garantir que o motivo tenha sido o fato de que nenhuma daquelas pequenas, perfumadas e delicadas flores não ser da coloração de sua preferência. O fato é que ele voltou à calçada, pois estava atrasado novamente, como demonstrava os gestos frenéticos que fazia enquanto olhava pro seu relógio.

... Já na calçada, como um psicótico, olhou para um lado e outro da rua, na direção de qualquer carro, como se quisesse compreender todo o seu funcionamento somente pela pura e simples apreciação do modelo, da cor, dos tamanhos e modelos das rodas, os tipos de pneus. Parecia prestar atenção aos mínimos ruídos dos motores, perceptíveis talvez apenas aos cães....

Mas isso já é uma outra história!

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Assim, amém

Tudo é assim como qualquer outra coisa. Assim estamos parados como pedras. Assim esperamos que as coisas aconteçam. Assim ouvimos tudo aquilo que gostaríamos de dizer. Assim falamos tudo aquilo que devíamos calar. Assim somos muito mais do que na realidade. Assim realizamos todos os sonhos de outrem.

Assim rejeitamos nossos próprios sonhos, pois contradizem nossos conceitos, equivocados, a respeito da verdade. Assim, verdadeiramente, nos preocupamos com as aves, pois não sabemos como vivem. Assim questionamos sua liberdade. Assim escravizamo-nos dia após dia, insensivelmente. Assim, nós humanos, nos tornamos humanamente animalescos. Assim continuamos, prepotentemente, no caminho exato. Assim como a certeza de estarmos certos.

Assim como a pureza que nos é negada. Assim como a negação dos sentimentos sentidos e ressentidos. Assim como as sensações que nos são estranhas. Assim como a estranheza que causa as dores. Assim como as dores que revelam as provas. Assim como as provas de nossas experiências. Assim como as experiências dos reencontros.

Assim e somente assim perpetuamos nossa medíocre existência. Assim como animais que mecanicamente nascem, se reproduzem e morrem. Assim como seres feitos de chuva, vento e barro. Assim como folhas que caem, morrem, pra depois voltarem a serem folhas. Assim pela eternidade morremos. Assim eternamente mortos vivemos como se estivéssemos alcançado a plenitude. Assim, plenamente, estamos sempre parados num ponto qualquer, entre a morte e o ser.

Por assim ser, não somos. Se assim fossemos, talvez pudéssemos voltar a não ser. Quando assim pudermos viver, sem ser, já não haverá humanidade. Humanos assim vivendo. Assim e pra todo sempre assim.

Ontem foi assim. Hoje é assim. Amanhã também será assim. Assim não há chances de mudanças. Pois assim não queremos mudar. Mais do que assim, queremos repetir as lições de ontem. Para assim continuarmos iguais amanhã. Assim não se importando ou se importando com nada.
Assim nada pode nos interromper. Assim como cometas em suas órbitas. Mesmo assim, sem sentido. Assim e sempre assim. Amém.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Costureira

Lá estava ela, sentada imóvel em frente à sua máquina. Os pensamentos daquela mulher envolvidos maquinalmente na sincronia escravizante dos pontos, nas pontas de seus dedos. Mãos e pés. Às vezes esquerda, outras, direita, mas sempre em frente.

Não podia se dar ao luxo de cometer erros, pois erros custavam caro. Dinheiro que ela não tinha. Nunca tinha. Sem errar permanecia na eternidade dos dias obedecendo cegamente ordens que enchiam sua barriga e alimentavam seus filhos. Vivia assim, na infinitude dos tempos que não tinha pra pensar no que estava fazendo.

Levantava-se muito cedo. Todos os dias. O relógio era o companheiro inseparável das noites em que não conseguia dormir.
Os tecidos, as agulhas e o barulho de todas as máquinas do mundo iam morar dentro de sua cabeça. Não conseguia se separar nem por um momento daquele ambiente. Acabava um modelo e começava outro.

Nestas noites repassava detalhe por detalhe todos os passos das entediantes etapas que separavam um tecido sem forma de uma camiseta, calça, blusa ou qualquer outra peça que estivesse costurando naqueles dias.

A sensação de alivio que sentia quando acabavam uma encomenda. A euforia inicial e logo depois o desespero, quando chegava um novo modelo a ser costurado. As caras e bocas dos encarregados cobrando, olhando e vigiando. O ferro, passando as partes antes de serem costuradas. A troca da linha na máquina. O acelerador que nunca funcionava corretamente. Relembrava.

E amanhecia.

A caminho novamente da fábrica. O que a esperaria neste dia? O de sempre. Chegava, cumprimentava, ia até seu lugar, sentava, preparava sua máquina e costurava, a costureira. Até na hora do almoço era a parte fácil, mas a tarde era torturante. O calor e o barulho se multiplicavam.

Mas ela ficaria lá. Ficava lá, pois precisava. O salário não importava mais pra ela. Costurava porque sabia fazer aquilo. Mais nada tinha aprendido. Os fins de semana eram pra ela piores do que a rotina dos dias de trabalho.

Ela não gostava do que fazia, mas não sabia viver de outra maneira. Nasceu pra costurar e assim vivia, a costureira, a costurar.

Seu futuro não existia. O futuro não existia. Ela só olhava o que podia enxergar, sem planos, sem pressa e sempre. Inexoravelmente avançava
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SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Medo

Tenho medo de ouvir
Medo de falar
sua voz me faz sorrir
minha voz me faz calar.

Quando olho pra você
olho sempre pra mim
o que vejo me faz crêr
no que vejo mesmo assim.

Não adianta mais falar
nem tentar me iludir
o que eu quero está lá
onde os sonhos podem ir.

Quero tudo o que é meu
nao me passe pra tráz
com aquilo que é seu
meu ou seu, tanto faz.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A praça

Triste e alegre. A praça com seus pequenos bancos, sempre colocados perto das árvores. Durante o dia as árvores dão sombra ao descanssante, durante a noite fornecem bocados de escuridão aos amantes.

Os bancos da praça, com seus encostos e assentos, decorados com propagandas do comércio e de políticos locais, presenciam inúmeras histórias. Ouvem silenciosamente os passantes passando em frente, no leve passeio à tardinha. Alegram se contagiosamente com a alegria contagiosa dos meninos.

Os bancos ouvem suas alegrias e tristezas, as dos passantes, passeantes. Pronunciam-se silenciosamente a favor da reconciliação dos enamorados. Propõem trégua, diante das guerras travadas acirradamente pelos meninos que ali por perto brincam. Percebem o choro, embalado em muita tristeza, de um ou outro, quando por algum motivo não o deixam brincar. Aconselham os pais nos momentos de reflexão culpada pelo muito excesso rigor como trataram seus filhos, suas vidas, seus amores.

Os bancos da praça, as árvores da praça, os passeios na praça.

O menino, pequeno que era, já brinca na praça. O homem, já velho, que hoje apenas contempla sua vida passando, passeia na praça. Olha os meninos com suas bicicletas, bolas e correrias e reconhece a praça. Ele também já a fez. Ele já foi ela e agora vê os seus meninos construindo o que já, há muito, foi feito por ele. Passa o tempo, passa o vento e a praça não vai a lugar algum além daquilo que significa pros homens e meninos que a fizeram.

Todas as brincadeiras brincadas com sinceridade honesta fazem parte da sua história, da praça. Cada árvore plantada com mãos juvenis foram percebidas por ela. Todas as emoçoes, adultas ou infantis, ainda estão lá, na praça. Cada sorriso exposto no rosto de qualquer menino, homem talvez, que brincava por ali, faz parte dela. Todos os pensamentos que os homens deixaram gravados nos bancos e cascas das árvores também fizeram com que a praça se tornasse a praça. O sol e a chuva de todas as estações do tempo regaram e fizeram crescer a vida em seus canteiros. Permitiram que tudo pudesse ser sonhado, ali. Ela sonhou. Ela se tornou gente. Ou ente? Eis a praça, que sabe todos os segredos. Que conhece os homens que ali brincaram de gente grande. Que sabe dos sonhos dos meninos, que brincam brincadeiras de ser gente grande. Eis a praça. Viva.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Beira de estrada

Sentado na beira de uma estreita estrada de terra, bem pertinho de um pequeno riozinho ele morava. Sozinho ele morava ali naquela solitária casa na beira da estrada. A casa feita de madeira, peroba da boa, de corte rude. Nobre árvore escondia do frio e da chuva aquele homem. Às vezes dava pena de ver, fazia triste figura olhar daquela maneira, ele acocorado, sobre uma pedra sentado, à beira da estrada.

Fumando enrolado o seu cigarrinho de palha, acendido com o binga derramando de querosene. Acompanhado dos muitos mosquitos juntos, ladeado de pequenas pedrinhas que tentava contar inutilmente. Quem passava por ali, já via não o homem, mas apenas a figura que atrás da fumaça do cigarro existia. O que fazia ele ali? Dias todos ali? Onde ele estava? Perguntavam quem passava, os homens outros. Dias que ele não estava lá no lugar costumeiro, estranhavam. Aquele homem vivia só. Sua casa, sua estrada e seu cigarro. Suas coisas. Seu mundo? O sujeito estranho era.

Não sorria, não falava quase, mas em seus olhos, algo dizia que bom era. Levantava bem cedo, ainda com o cheiro doce da enluarada lua. Um pouco de lenha, fogão aceso e logo a casa toda impregnada pela presença da visita diária que saia do fogo. A amiga fumaça. Com a sábia paciência, devagar colocava no fogo a água pro café. Enquanto fervia a água ele podia, apaticamente, lavar o rosto. Antes de aparecer os raios primeiros do sol da manhã, lá ele estava, caminhando sem pressa pela estrada sua.

Café tomado, roupa vestida, rosto lavado e limpa alma, lá ia. Passos seus um após o outro, com paciente insistência. Pra onde caminhava com firmeza tanta e exagerada tal homem? O homem ia, apenas, olhar o que seu era. As pedras da estrada lhe davam passagem. As flores, o mato, as árvores e os bichos lhe compreendiam. Ele ia só.

Mas longe não ia de sua casa, seu mundo nunca deixava. Às vezes queria sair, mas não conseguia fugir do seu esconderijo. A vida daquele pobre rico homem era a rotina de qualquer um invejada. De muitos que querem tê-la com coragem ou covardia. Mas ele não, medo não tinha.

Pensava que poderia ter casado e filhos talvez tivesse tido. Em seguida logo pensava mais nisso não. Uma mulher aceitaria contrariada, viver a sua vida. Ele também contrariado viveria dividindo a sua com ela. E com os filhos.

Vivia só, mais facilmente.

Preferia a tristeza alegre da solidão, onde ele era realmente feliz. Esquecia-se de tudo, todos os pensamentos esvaziados de sua mente. Voltava a ser novamente o homem. Só, em sua casa, com as coisas suas. Seu cigarro, sua companhia com a estrada e o rio.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Corre

O homem corre com o vento soprando às suas costas. Corre como o vento que sopra nas suas costas. O vento sopra, assovia, ronca e estala no caminho, alcançando quem corre. O caminho se perde nos caminhos que levam aos lugares desejados pelos homens. Os lugares estão em algum lugar escondidos, pois, para o homem, são sempre difíceis de encontrar.

Perfeito é o esconderijo pra quem procura e não encontra. Os que procuram também não se acham e continuam tentando, buscando, correndo, tropeçando.... onde está agora aquele? Mais uma vez depara-se com as surpresas preparadas pra ele. Por ele. O que fez, fez tentando evitá-las. Mas agora elas estão lá. No bendito santuário construído dentro de suas consciências. Santuário erguido, derrubado, refeito, demolido e erguido novamente. Num ritual eterno. O ritual se perpetua. Homem que corre atrás e à frente de si mesmo.

Homem que sinaliza sinais que se dissipam ao vento. Homem que aprende e descobre que tem de executar suas próprias ordens. Desígnios de mentes que, confusas, desafiam até mesmo as lógicas das existências. Mas o vento sopra, empurra, conduz. Induz ao erro. Leva ao acerto. Acerta, conserta, dispara, mas não para. Homens, mulheres, não importa. A onda é inexorável, ininterrupta. O homem não pode desistir, não pode delegar.

Sua vida lhe pertence, mesmo que tente negar, ele lhe pertence. Mas não desiste, por que o que ele conhece é insuficiente para fazer com que pare. Sonha sempre, pois nos sonhos ele sempre alcança. Sonha e assim, acordado, pode perceber melhor suas realidades. O que é isso? Sonho ou realidade. Explicar os sonhos através da realidade é mais cômodo, mas fazer com que os sonhos esclareçam a realidade é muito mais estimulante. Pro homem que sai do casulo, que rompe todas as cascas e finalmente sai, isso se torna mais fácil.

Onde está você agora? O homem de quem esse texto ignóbil fala está aqui. Ele nos lê agora. Ele se identifica com os sonhos. Reconhece o vento, percebe que suas buscas são as mesmas. Mas quem é ele? Ele é realidade. É diferença e igualdade. Sinônimo e antônimo das mesmas coisas. É o que quer e o que rejeita. O que aprende e o que ensina. O que constrói e destrói. Mas é, enfim, o que tem capacidade de mudar.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

sábado, 12 de abril de 2008

Reino Desencantado de Maharba

Ziul I era o maioral por aquelas bandas. Mandava em todo mundo. Era o rei. O chefe. Se aquele lugar fosse uma tribo, ele seria o cacique. Tinha uma personalidade bastante estranha aquela pobre criatura. Velhinho coitado, mas não entregava os pontos. Acho até que já devia estar batendo uns pinos, mas quando ele falava geralmente tentava transmitir algo de consciência. Mas na essência era um coitado. Não sabia de nada e achava que sabia.

Escorado no seu título de nobreza, achava que tinha plenos direitos sobre os que estavam diretamente ligados a ele. Seu pequenino feudo ficava numa região inóspita, num lugar onde provavelmente o Judas perdeu as meias, pois as botas ele deve ter perdido em algum lugar mais civilizado. Havia vários tipos de gente sob seus domínios.

Os pobres de espirito eram a categoria mais baixa, a base da pirâmide. Havia também os súditos que gozavam de alguns privilégios e junto com estes havia ainda os súditos que achavam que tinham algum direito. Sobre os pobres de espírito não há muito o que falar, pois eles nem mesmo sabiam o que isso significava. Sofriam calados sem ao menos questionar o porque. Pois atitudes assim não faziam parte da sua realidade. Aceitavam passiva e pacificamente todas as leis de Ziul I, o grande, o maioral. Coitados!!! Não perguntavam, não queriam saber, pois isso poderia enviá-los diretamente ao inferno. Eles não podiam se rebelar, pois isso seria o passaporte definitivo para a exclusão daquela tão perfeita sociedade organizada por Ziul I, o grande, o maioral.

Vamos chamar a Segunda categoria de súditos de súditos menores, para facilitar a explanação. Esses pobres diabos eram os mensageiros de Ziul I, o grande, o maioral. Eram eles a levar as ordens aos pobres de espírito. E faziam isso de maneira bastante duvidosa. Mas mesmo assim seguiam suas vidas achando que mandavam alguma coisa. Chegavam nas aldeias e colocavam suas próprias leis. Faça isso... desfaça aquilo... venha cá.... assim não dá.... e assim por diante. Se olhavam no espelho e se viam como uma classe que tinha poder de levar aos pobres de espírito as leis, regras, dietas e simpatias. Mas no fundo não passavam de meros garotos de recados, pois eles também viviam alienados sem perceber que eram usados o tempo todo. Faziam seu trabalho, eram pagos pra isso, mas não significavam nada no processo, pois a palavra final nunca eram deles. Eles não podiam nem ficar doentes, pois se isso acontecesse, cabeças rolavam.

Pra fiscalizar nessas questões de disciplina, Ziul I, o grande, o maioral contava com uma equipe super especializada, quero dizer treinada e adestrada, em matéria de repressão e sujeição tanto dos pobres de espírito, como dos súditos menores. Esses eram os súditos maiores. Eram num total de três.

Vamos começar pelo começo. Icari era engraçado, mais parecia um bobo da corte. Ele desfilava pelas aldeias, ruas, vielas, estreitos e pátios daquele medíocre reino como se estivesse desfilando em uma passarela de Milão. Sempre fiscalizando. Sondando e bisbilhotando. Dando ordens que muitas vezes nem mesmo Ziul I, o grande, o maioral, ficava sabendo. Pegava no pé dos pobres de espírito e também dos súditos menores, mas o que Icari não sabia era que ninguém dava a mínima pra ele. Nem ligavam para os seus desvarios e sua grande mania de grandeza. Todo mundo fingia que o ouviam e assim que ele se virava, todo mundo quase morria de rir. Nem os pobres de espírito, que não sabiam de nada, respeitavam aquela pobre criatura. Mas ele se achava e seguia sua rotina.

Ileon, era bastante diferente. Muito mais sutil e traiçoeiro. Lidava com situações difíceis com maestria. Nunca ficava por baixo. Tinha o olho e as mãos em tudo. Sabia de tudo. Cuidava da vida de todo mundo sem ao menos mover uma palha. Apenas utilizava a sua extrema facilidade em costurar acordos e dissimular sua própria opinião quando, eventualmente Ziul I, o grande, o maioral, se indispunha com ele. Muito perigoso, até mesmo Icari o temia. Ardiloso, sabia como se livrar das más situações e sabia muito bem como imputar a culpa em algum idiota. Geralmente sobrava pros súditos menores, que entravam na armação sem perceber e quando viam já estavam comprometidos até o pescoço.

E por último Anairda. Esse era o chefe do exército e como todo militar, seguia as regras literalmente. Nunca jogava água fora da bacia, digo, nunca desobedecia as ordens. Estava sempre a disposição de Ziul I o grande, o maioral. Não tinha o menor escrúpulo. Se necessário fosse entregava até a própria mãe. Na verdade era um tremendo de um puxa saco. Que vivia de bajular o rei. As vezes (muitas vezes) contrariava suas próprias idéias, objetivos e planos, somente para agradar o chefinho. Quantas e quantas vezes foi pego falando consigo mesmo se deveria ou não executar tal ordem. Mas no fim sempre obedecia, não importando o quanto aquela ordem contrariava suas próprias convicções.

Para concluir essa pequena e idiota história sobre um lugar esquecido e tão medíocre quanto esse texto, digo e repito o que vi durante os muitos e muitos dias em que Ziul I, o grande, o maioral, foi o manda chuva daquele lugar. O Reino de Maharba se acabou, definhou como um enfermo, como um moribundo à beira da morte. Morreu mesmo. Ali nada mais acontecia. Era uma pasmaceira danada, onde ninguém tinha coragem pra nada. O reino ficou entregue aos ratos e baratas. Não se fazia nada, por que Ziul I o grande, o maioral,direta ou indiretamente, não deixava. Ou porque o medo de serem enredados nas teias de intrigas dos súditos maiores, paralisa os súditos menores. Os próprios súditos maiores eram os que mais fomentavam a mediocridade do reino, com seus eternos e gigantescos egos, onde só cabiam a satisfação de seus próprios interesses.

E Maharba se tornou então título de histórias como essa. Triste e deprimente, mas ao mesmo tempo cômica e alegre.Fim


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Abstrações e Psicologismos

Sonegação negando a certeza
Patologias que adoecem pra vida
Saudades querendo não ver
Semelhanças que lembram o diverso

Abstrações de mentes perturbadas
Psicologismos de gentes equivocadas
Perdição como face dos sonhos
Pesadelos como cena do crime

O fogo acalmando o espírito
Virtudes que escondem o proibido
Ódios sentindo tesão
Esconderijos que revelam o que são

Brasas como gelo no whiski
Lama como apoio aos medos
Verbos como inicio de tudo
Provérbios como provas do mundo

Inimigos tecendo o perdão
Ironias que querem dizer
Palavras soando em vão
Promessas que fingem fazer

Sonhos como vidas sem ar
Respiração como incentivo ao fim
Manhãs como inicio e fim
Finais como alegrias e dores

Problemas durando a morte
Mentiras que cheiram a sorte
Rancores valendo a razão
Alianças que trincam na mão

Estranhos como querem lá fora
Mentiras como são no sermão
Caminhos como guerra agora
Guerras como acordo de então


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2007.

Oração

Eu te procuro em todos os lugares
Nos cantos escuros do meu silêncio
Respostas ditas apenas a mim
Minha busca se faz sem sentido
Ser imaginário
Eu sou imaginário
Pensamentos que nunca se encontram
Idéias e loucuras distantes
Viagem ao redor do meu mundo
O que sinto não me diz nada
Pra onde vou não me acho

Estrelas caindo de todos os céus
Voltando pra casa enfim
O vento soprando sempre ao contrário
Amores que não significam amor
Ódios são desejos
A beleza está em toda a parte
Mas procuro em lugar nenhum
Quando os milagres acontecem
Estou distante e perplexo
Perceber como tudo acontece
Não é o mais importante
Pois ele não é nada pra mim
Ele não vive na minha realidade
Estou bem sem tudo isso
Quando tudo é mal
Ainda assim vejo algum signo

Agora acabou a prece
Desacredito que ele ainda ouça
Não acredito em verdade no que foi escrito
E as proezas descritas
Quem sabe?
Resolver todos os problemas
Um dilema, teorema
Ou pura invenção
No principio de tudo
Fez-me
E eu me vingo
Reconstruindo o que era pra ser seu
Eterno, imutável e intransponível
Ser imaginário


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Final feliz

À noite, olho o céu
À noite vejo a lua
À noite penso no sol
Pássaros voam na noite
Meu pensamento se desfaz
E se refaz numa agonia
A solidão me açoita
É pesada a tortura
De dia olho o céu
Só vejo escuridão
Não vejo muita coisa
As flores estão todas abertas
O mundo se movimenta
O movimento é continuo
É dinâmica a vida
Energia que alimenta
Os sonhos de anteontem
Os amores de depois de amanhã
Os sabores que o vento traz
Os odores que sempre ficam
As dores que atormentam
A tristeza que acompanha
A morte não é estranha
Mas viver é bem pior
Olho tudo o que gosto
Interessa-me as formigas
Os cachorros, os gatos e os besouros
O que me interessa
Admiro, admito
Adjetivos não encontro
Pois quero levar tudo comigo
Não importa pra onde for
Talvez nem vá, fique
Mas não quero ficar
A tortura esgota
O desgosto apavora
Assim não há descanso
Não há paz no silencio
No escuro só haverá choro
Medos de criança
A chuva molha a casa
A água entra por todos os lados
Nas frestas e buracos
No escuro ninguém vê
Ela escorre e encharca
Os vapores se dissipam
As lembranças afloram
O vento e a chuva
A noite e o sol
A lua e os besouros
Fazem muito bem
Mesmo fazendo mal



SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2007.

Evolução

Estamos todos perdidos no mesmo mundo de ilusões.
Tudo é engano e as pessoas desenganam.
A evolução do homem busca a tragédia.
Estamos condenados e o fim já se aproxima.
Apaixonamos-nos por nós mesmos.
Mais triste torna-se o nosso futuro.
Mais um engano sem solução.
Pra onde estamos indo não há volta.
Nem percebemos que estamos errados.
Cegos, permanecemos amarrados.
Aos nossos interesses individuais.
Somos suficientes apenas a nós mesmos.
Nós só precisamos olhar pra frente.
Pois não existe mais ninguém.
E nada nos faz desviar do nosso destino.
Ansiedade de termos alguma coisa.
Pra que sermos alguma coisa?
Não percebemos que não somos o mundo.
Sozinhos não somos nada.
O universo conspira contra nós.
E nós somos seu principal auxiliar.
Tudo vai acabar como começou.
O nada será para nós uma recompensa.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Atitudes

Acorde
Levante
Desperte
Observe

Perceba
Reflita
Considere
Conclua

Aja
Movimente-se
Ajude
Participe

Reclame
Bote a boca no mundo
Exponha
Sugira

Mexa-se
Não espere
Faça
Ouça

Desconfie
Acredite

Não pare

Entenda
Conserte
Viaje
Volte

Não abandone
Queira
Mude
Leia

O mundo


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Lente

Precisamos
De uma lente
Que aumente
Totalmente
As virtudes
Da gente

Mas que pena
Tal lente é pequena
É como antena
Sem receptor
E sempre camufla
O velhor feitor

A gente
Compreende
Entende até
O que ignoramos
Se pudéssemos saber
Seria pior

Ou seria melhor?
Ou seria igual?
Ou ainda, banal?
Ou mesmo frugal?

Quem sabe um dia
A lente de aumento
Exista enfim
Enquanto isso
Seguimos usando
A de diminuir

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Todos iguais?

Depende do que sabemos. Mas não, não afirmo isso categoricamente. Podemos conhecer sem ser iguais. Às vezes ignoramos completamente e somos muito mais iguais do que os outros. Assim, diante desse exercício reflexivo, podemos considerar que a igualdade não é exatamente aquilo que sabemos. Os iguais muitas vezes podem ser diferentes e muitas e muitas outras vezes é necessário ser igual para que possamos nos tornar diferentes.

Há ainda momentos em que somos tão diferentes que nos tornamos impossíveis de identificar, tal a semelhança com os outros. Nestes momentos a única coisa que nos difere da massa não é apenas o que sabemos, mas principalmente o que fazemos, construímos e buscamos com o nosso conhecimento.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Pedido

O arrependimento é um sentimento muito triste e deprimente. O ditado diz que nos arrepender do que fazemos é melhor do que não fazer. Mas hoje não mais posso crer nesse dito. Vejo claramente que fiz tudo errado. Preferia mil vezes não ter feito. Posso compreender agora que não podemos perder as amizades que conquistamos gratuitamente e que só percebemos que nos faz falta quando as perdemos. Não há justificativas para um ato tão impensado. Impensado. Quando olho pra trás, entendo, agora, que não somos e não estamos sozinhos.

Nossa vida tem que ser construída sobre bases sólidas e essa base, pude constatar que só se edifica com fortes relações de amizade entre as pessoas. Sempre te admirei e isso se deu de forma natural. Tudo deu certo, tudo se encaixou. Eu joguei tudo fora e me sinto o pior dos homens. Ao mesmo tempo tenho que te agradecer, pois você me mostrou exatamente o que estava precisando ver. O mundo não gira em torno de mim e das minhas opiniões. As pessoas não vivem em função de mim.

Sempre tentei me policiar, confesso, mas foi preciso que eu perdesse a sua amizade para que eu fosse encontrar as respostas que eu buscava, e que sozinho não estava conseguindo encontrar. Acredite no que estou dizendo, você é muito importante pra mim e sei que vou precisar muito ainda da sua sabedoria e experiência. Mas isso não é tudo. Você me mostrou, mesmo sem palavras ou gestos, o caminho a ser seguido. E eu vou carregar pro resto da minha vida essa tão grande lição de humildade que você me ofereceu. Humildade hoje é uma palavra muito difícil pra mim, mas pude perceber finalmente, e a tempo, seu fiel significado.

Humildade pra mim, a partir de agora, significa paz. Paz de consciência, de coração. E é por essa paz, que eu perdi, que peço humildemente seu perdão. Você pode não me perdoar, por enquanto, eu entenderei, mas isso não vai me fazer desistir da nossa amizade. Um outro ditado diz que a amizade é como um cristal que quando trinca ou quebra não dá mais pra consertar. Mas se assim for, também não posso acreditar nesse dito. Farei tudo o que tiver ao meu alcance e o impossível pra reparar nossa amizade e não vou me contentar em perdê-la.

Você foi colocada em meu caminho e não foi por acaso, por isso pode ter certeza que não vou desperdiçar a chance que os deuses me deram pra consertar minha bússola ainda a tempo de mudar de rumo e encontrar o meu norte.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

Santa Ignorância

Ao entrar num estabelecimento de educação público, notei que os garotos eram bastante indisciplinados, então perguntei se eles nao gostavam da escola e de estudar e qual era o motivo do desinteresse.Um dos garotos me respondeu da seguinte forma: "Ah!!! Eu vou bagunçar mesmo, pois o colégio é público mesmo! Além do mais, sei que vou passar!!". Esse é apenas um exemplo da maneira de como o brasileiro trata o seu dinheiro, sem falar no problema pelo qual passa nosso sistema de educação.Bem, mas isso já é uma outra crítica.

Mal sabem nos nossos cidadãos brasileiros que eles teriam uma realidade diferente se soubessem pra onde realmente vai o seu dinheiro. A grande maioria da população ignora os seus direitos, seus deveres e isso, podemos primariamente, imputar a uma questão cultura, mas o certo é que no Brasil e principalmente em pequenas cidades as pessoas não dão a mínima importância a essas questões. Não sabem que no nosso país a carga tributária é exageradamente grande e que a tributação está disposta de maneira inversa, onde beneficia a classe de maior poder aquisitivo em detrimento da maioria trabalhadora.

As pessoas ao se ausentarem das questões públicas, tais como a do exemplo acima, ignoram que pagam imposto em tudo o que consomem. Ignoram que ao acender uma lâmpada, comprar cigarros, combustíveis, alimentos, etc., estão pagando uma alta porcentagem de impostos. Só pra exemplificar, ao comprar um pacote de arroz estamos pagando mais ou menos 40% de impostos e esta taxa varia de estado pra estado. Isso quer dizer que se o arroz custa R$ 6,00, o preço real é exatamente R$ 3,6 e o restante vai para os cofres públicos.

Sendo assim meus amigos cidadãos, o significado do termo público deveria ser revisto, passando a representar algo que pagamos e bem caro. Que grande idiotice é achar que o público é de graça!! Muitas pessoas acreditam realmente que a população não contribui em nada para a arrecadação, seja municipal, estadual ou nacional, a não ser o IPTU e alguns outros impostos. Há pessoas, pobres ignorantes, que crêem que a CPMF, só é cobrada dos ricos, pois pobre não tem conta corrente. Mas essas mesmas pessoas se esquecem dos inúmeros outros impostos que estão imbutidos nos produtos que consumimos.

Não vou listá-los aqui pra não tornar o texto mais chato ainda. Nos países da Europa e até mesmo em alguns países da América Latina a carga tributária se dá de maneira mais aguda na renda das pessoas. Já no nosso brasilsão, o consumidor final é quem paga a conta. Na França do final do século XVIII e início do XIX, o povo, ao se sentir explorado pelo sistema, rebelou-se, ocasionando uma grande revolução. Fazendo uma comparação entre a França ou até mesmo a Argentina, onde ocorreram movimentos populares por mudanças, e o Brasil de hoje, conclui-se que nós não sabemos a força que temos e talvez nunca saibamos. Enquanto isso os “poderosos” comemoram nossa ignorância.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.