quarta-feira, 16 de março de 2011

Armas, mentes e prisioneiros

Estou armado mesmo. Sem porte. Arrisco-me na expressão inteligente das opiniões. As ideias ainda vão me levar à reclusão, prisão que jamais me libertarei sem o sacrifício doloroso de deixar de lado a luta armada pelos ideais.

Descarregar minhas ideologias como se descarrega um revolver e me tornar um simples brinquedo é o que preciso fazer pra  não correr os riscos. Meu revolver ficará sem balas, uma pistola de plástico na mão de um menino brincando de guerra. No final do dia tudo se acaba.

Minha munição não pode ser usada no normal das situações vividas cotidianamente. A diferença entre ter e ou estar armado é o uso que fazemos delas, sabendo que a lei padronizadamente aceita te condena no mesmo instante em que as usa.

Você tem que pagar pela diferença. O que te diferencia é aquilo que vai podar todas as suas liberdades, principalmente de pensamento, como corta-se o galho de uma árvore que periga cair sobre o telhado, e o telhado é de vidro, como corta-se as penas das asas do pássaro na intenção de proibí-los de voar.

Assim sinto-me aqui. Você, sociedade hipócrita, tem me diminuído ano a ano com a inflexível disciplina castradora. Eu estou quase vencido e nem mesmo as mais poderosas armas do intelecto me animam a reagir. 

Sair da sarjeta imunda em que me encontro já não é uma possibilidade concreta diante da liberdade que perdi quando levantei a bandeira branca da desistência e da covardia. Houveram risos e aplausos por parte daqueles que profetizaram o meu triste fim.

Hoje posso entendê-los e até respeitá-los, principalmente quando penso que essas pessoas, talvez, já estiveram armadas também, mas assim como eu, perderam as batalhas e consequentemente a guerra.

Estamos, finalmente, todos presos na mesma gaiola invisível, pérfida e fedorenta da hipocrisia dos valores éticos e morais e cognitivamente inaceitáveis, por algum tempo, por mim e por muitos outros.

Armas inúteis, mortes inúteis, inteligência ofuscada e confundida...