terça-feira, 29 de agosto de 2017

Dia de LUTO e LUTA. Lutas?

Luto pelxs companheirxs que lutaram por nós no 30 de agosto de 1988. Luta para honrar a luta que fizeram, com tantos sacrifícios individuais, para garantir-nos alguns direitos, que hoje muitxs de nós achamos naturais. 

Não me lembro de nenhum 30 de agosto em que eu não tenha feito a paralisação. Sempre aderi. Não sei se o curso de história me ajudou a enxergar as coisas dessa forma, ao conseguir olhar pro passado e entender que tudo o que temos hoje é fruto da LUTA de tantxs que já passaram por essa vida. Não sei. Talvez não, pois tenho pouco tempo de formação e trabalho na educação já há mais de 20 anos.

Todas as vezes que paralisei foi convictamente, com a certeza de que era o correto a se fazer. Nos últimos anos tem sido cada vez mais difícil essa data. O debate no interior das escolas tem ficado cada vez mais comprometido pelo clima conservador que paira sobre nós, um clima que tem deixado nossa categoria cada vez com mais medo e temor do futuro.

Medo da falta, do desconto no salário, da dificuldade para se aposentar. Todos esses medos e muitos outros são reflexos de encaminhamentos das políticas governamentais para o serviço público em nosso estado, sob a batuta do Beto Richa. Nossxs colegas tem sido vítimas, a maioria quero crer, dessas políticas de amendrontamento.

Afinal, estamos assistindo o governo retirar gradativamente nossos direitos, ou tentar pelo menos. 

Mas e o sindicato? E a APP, o que tem feito? 

Tem feito muita LUTA nesse último período, muito embate, tem promovido intensos debates, organizado com muita competência a nossa categoria. O embate com esse governo tem sido dos mais duros da história, mas nossa entidade tem respondido à altura os ataques de um governo que não tem nenhum compromisso com a educação. É preciso firmesa para apresentar à categoria a conjuntura do nosso estado com o compromisso assumido de dirigir uma entidade que fez 70 anos esse ano. A APP-Sindicato tem cumprido muito bem esse papel. É preciso entender a conjuntura, regional e nacional, para que façamos uma avaliação do momento sem paixões que nos ofusque o olhar e nos levem acometer o equívoco da análise conveniente e oportunista..

Fui liberado sindical, pelo Núcleo da APP de Apucarana por longos 4 anos. Anos em que me dediquei quase exclusivamente às atividades sindicais, fiz muitos sacrifícios pessoais pela nossa categoria, pelos nossos direitos, pela luta travada em várias frentes, muitos mesmo. Fiz tudo o que fiz, e foi necessário fazer, com a alegria necessária a quem luta pelo certo e pelo justo. 

Não costumo me arrepender de nada do que faço, e não me arrependo.

Não me arrependo dos fins de semana e feriados que perdi com minha família e meus fílhos; das longas e intermináveis viagens encarando todo o tipo de situação; das greves, faltas e descontos lançados (e tenho muitos); das perseguições que sofri e ainda sofro, a exemplo do estapafúrdio processo administrativo que respondo e etc.

Não há arrependimentos.

E os arrependimentos não existem porque aprendi a reconhecer meus erros, cometi muitos. Errei ao ficar tanto tempo na liberação do sindicato, fazendo o trabalho de base, visitando escola, falando com xs professorxs, levando os informes da categoria. Errei. Erro gravíssimo de análise do desgaste, que não foi pequeno, natural que todo esse tempo na linha de frente ocasionaria. Erro grosseiro que hoje ocasiona meu voluntário isolamento, que me maltrata, mas não há arrependimento. 

O erro mais terrível foi, mesmo que involuntário, foi acreditar que as pessoas pudessem ter a mesma visão de mundo que eu. Falta gravíssima. Zero pra mim. Sem arrependimentos aqui também. O sucesso e o fracasso são meus amigos de longa data.

A vida segue. Fiz o que fiz, lutei com as armas que eu tinha e lutei bravamente, me entreguei de corpo, alma e coração e as marcas dessas lutas carregarei até meu último dia de vida, indelevelmente comigo. Seguirei lutando e não apenas nesse 30 de agosto.

Não estarei na direção da APP de Apucarana na próxima gestão, o que não diminuirá minha crença no poder transformador que só a organização da classe trabalhadora tem. Espero que xs companheirxs que lerem esse enfadonho texto possam compreender e me perdoar caso eu tenha cometido alguma falta nessa longa caminhada, que ainda não acabou.

Aproveito esse texto também pra agradecer a todxs pelo prazer e honra que tive de lutar ao lado. Que venha o 30 de agosto.

Estaremos juntxs novamente!!

terça-feira, 16 de maio de 2017

"Rebeldia".




O que faz de nós rebeldes? Será nata tal característica? 

É ser rebelde perguntar à professora no extinto quinto ano do ensino fundamental por que a letra "J" e o "I" vem acompanhadas de acentos?

É ser rebelde perguntar à professora da catequese como pode uma cobra falar?

É ser rebelde questionar a mãe sobre o horário de dormir e ou tomar banho?

É ser rebelde querer seguir à esquerda quando os demais decidem pela direita do caminho?

É ser rebelde preferir montanha à praia?

É ser rebelde não acreditar no deus em que a maioria acredita?

É ser rebelde não aceitar de cima pra baixo decisões que poderiam ter sido levadas à apreciação da maioria?

É ser rebelde ter cabelos compridos?

É ser rebelde gostar de rock?

É ser rebelde defender os excluidos do capitalismo?

É ser rebelde lutar por um mundo onde mulheres, homossexuais e afrodescendentes tenham seus direitos garantidos?

É ser rebelde não entender como há tão poucos homens donos de tantas terras e tantos homens não ter sequer onde serem enterrados; é ser rebelde lutar contra isso?

É ser rebelde gritar furiosamente contra aqueles que fazem parte do jogo do opressor ao não se manifestarem a favor de sí próprios?



É ser rebelde não aceitar a passividade e a conivência com autoridades que querem e preferem que você se cale convenientemente?

É ser rebelde acreditar, quase cegamente, na construção de um mundo mais justo e com oportunidades iguais pra todos?

É ser rebelde querer que a escola pública finalmente inclua com a tão falada qualidade de educação e que não haja escolas caindo aos pedaços enquanto outras vivem em ilhas de prosperidade?

É ser rebelde acreditar na política como um meio democrático para construir um país mais justo?

É ser rebelde ser contra o golpe institucional que se instalou no país quando uma parte da população nem sabe o que está acontecendo e outra parte acredita que foi constitucional?

É ser rebelde ser contra todas as reformas propostas pelo governo golpista como a salvação da pátria e que o povo mais pobre deve fazer sua parte ao aceitar calado que retrocedamos ao início do século passado?

Há muitos questionamentos a serem feitos sobre rebeldia hoje, muitos e infinitos questionamentos. Concluo esse desabafo num último ato de rebeldia: se sua resposta pra todos esses questionamentos for SIM, então eu sou um REBELDE SEM ARREPENDIMENTOS!!





Edmilson Rodrigues da Silva
43 anos
Professor
Ateu
Comunista
Casado com a Wanderleia
Pai do Wictor e da Walentina
E MUITO REBELDE



quarta-feira, 26 de abril de 2017

Por quem lutamos?

Cheguei em casa hoje um pouco mais tarde do que de costume, pois surgiu um compromisso e acabei me enrolando. Pois bem, entrei em casa, cumprimentei todo mundo como de costume e dirigi-me ao sofá, como também de costume, pra dar aquela relaxada, e eis que surge meu filho mais velho, 15 anos, no corredor com algo em uma das mãos. Ele se aproximou com uma clara expressão de felicidade em seu rosto e me entregou, feliz e satisfeito, aquele objeto. Pra minha surpresa era um documento, era aquele documento de capa azul escrito “Carteira de Trabalho e Previdência Social”.


Emudeci por um momento, olhei pro meu filho, uma criança ainda no corpo de um homem de 1,85 m, e não conseguindo disfarçar, proferi duras, mas reais palavras: “Pra que vai servir esse troço?”. Meu filho não se assustou muito com o que eu disse, pois já está acostumado com esse debate aqui em casa. Fez uma cara de frustração e continuou seus afazeres.

Me ocorreu então escrever sobre o assunto. Surgiu a ideia de escrever sobre o futuro do meu filho, partindo do pressuposto individualista de que as pessoas pensam apenas em si mesmas e nos seus, na sua célula familiar. Com isso na cabeça, resolvi perguntar ao ultra contemporâneo oráculo o que ele acha e elaborei a seguinte sentença: “o futuro d@s jovens e a reforma da previdência”. Como vocês devem saber, o oráculo apresenta “zilhões” de respostas, mas é preciso saber também que as mais acessadas e lidas são aquelas que estão na primeira página de exibição e geralmente as mais importantes são as cinco ou dez primeiras.

Ao ler apenas as chamadas, as manchetes dos sites sugeridos pelo oráculo já deu pena do meu filho, mas nesse ponto também comecei a me preocupar com os filh@s dos outros trabalhadores como eu. 

Como não se assustar com títulos assim? “Denise Gentil: Jovens não terão futuro com a reforma da Previdência e Trabalhista de Temer”. O que assusta, além do impacto da frase, é que a pessoa que formula tal profecia é especialista na área, professora pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Do alto de suas pesquisas é que ela faz tão desalentadora afirmação, que entre outras coisas diz que meu filho de quinze anos não terá futuro se todas essas propostas passarem. Ela afirma categoricamente que todos os planos que fiz para o meu filho, desde sua concepção, até agora foram em vão. Como não se desesperar com isso?

Mas tem mais. Seguindo o oráculo o que aparece em sequencia é o seguinte: “Reforma Trabalhista: golpe certeiro nos jovens brasileiros. Amargando quase 30% de desemprego, os jovens entre 18 e 24 anos serão os mais afetados pela reforma trabalhista e as demais medidas do governo Temer...”. É um dado alarmante e tem o poder de desesperar qualquer pai comprometido com o futuro dos próprios filh@s. E meu filho todo feliz com a carteira de trabalho nas mãos...

No próximo link temos: “Previdência: uma reforma para acabar com o futuro da juventude”. Neste site os autores fazem um apanhado geral sobre os prejuízos que a reforma da previdência trará aos nossos jovens, especificamente à parcela negra dessa juventude que já sofre com as regras atuais e com o racismo brasileiro. Os racistas, pais de filhos brancos, respirarão aliviados, mas não é o meu caso. Sou afro-descendente e meu filho apesar de branco tem plena consciência de onde veio, e tem orgulho disso. O que já é complicado torna-se complicado ao cubo com as novas regras de aposentadoria defendidas.

O site seguinte que entrei dizia entre outras coisas que meu filho, e @s filh@s todos dos brasileiros brasil afora e adentro, deverão investir nas previdência privada se quiserem se aposentar. Mas só farão isso se tiverem um emprego. Leia o título do texto e tire suas próprias conclusões: “Jovens sofrerão impacto na mudança da aposentadoria. Reforma da Previdência obrigará novas gerações a apostar na educação financeira e antecipar contribuição”. Aí eu fico me perguntando: com qual salário eles farão isso se nem educação e muito menos empregos eles terão?

E a última manchete que tive a curiosidade de abrir foi a seguinte: “Reforma pode afastar jovens da Previdência: Se não vou usar, pra que vou pagar”. O que mostra uma total descrença dessa juventude num sistema previdenciário que não os contemplará no futuro, quando precisarem e assim sendo pra que contribuir. Tal conceito trás uma distorção gravíssima, pois fere de morte o principio pelo qual foi criada a previdência, que é o princípio da colaboração. Nossa juventude deixando de contribuir, aqueles que mais precisam não terão o benefício. 

Enfim, é desanimador. É frustrante. Não há saída a não ser a luta. Lutar contra tudo isso que pode acabar com o futuro do nosso país é um dever de tod@s @s cidadãs/ãos, mas é um dever dos pais que se preocupam com suas/seus filh@s e net@s.

Meu filho/net@s e @s filh@s/net@s dos leitores desse texto terão que trabalhar até a idade mínima de 65 anos para se aposentar. O detalhe sórdido é que a proposta nivela a idade mínima para homens e mulheres, então nesse caso é necessário fazer a devida flexão de gênero.

Meu filho terá que trabalhar 49 anos ininterruptos para se aposentar integralmente. Esse tempo de contribuição dá a ele apenas mais um ano para estudar, pois nos próximos quarenta e nove ele terá apenas que se preocupar com o trabalho. Com sorte quem sabe ele consiga chegar com saúde, física e mental, aos 65.

Não sei o que dizer a ele. Aliás, sei sim. 

Dia 28/04 é dia de luta. 

E estaremos lá dizendo um grande não essas reformas todas. Gritando em alto e bom som que não queremos nossos filhos tornando-se escravos do capital, que é o único beneficiado por essas reformas. Falando a plenos pulmões que não queremos retroceder ao período da revolução industrial. Venceremos essa guerra, com toda a dor e sofrimento que ela possa causar, mas venceremos. E venceremos por que não lutaremos apenas por nós mesmo, e sim por que é por nossos filhos e filhas, netos e netas, por que é pelas futuras gerações que seremos vencedor@s. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Benefícios aos alunos? Ahan


A secretária de educação afirma que os alunos terão mais tempo com seus professores. Mais das mentiras que o governo vem espalhando no estado do Paraná. Tal afirmação está fundamentada em uma distorção crônica e mentirosa do conceito de hora-aula.

A fala dessa criatura reflete a verdadeira face de um estado que não dá a mínima para a educação. É uma tentativa clássica de manipular a opinião pública no sentido de estimular a aceitação de medidas não debatidas e que tem consequências gravíssimas para a educação do estado.
Há tempos que este governo prega o sucateamento dos serviços públicos paranaenses e diminuir a hora atividade é exatamente isso, mas da forma que o estado fala na grande mídia a impressão que se tem é que será o melhor dos mundos. Infelizmente não é tão simples assim.

A análise do estado fica apenas na questão econômica disfarçado de um discurso retoricamente pedagógico. Não haverá aumento de tempo com alunos e sim aumento de alunos para o professor atender. Num cálculo simples qualquer pessoa descobrirá que na prática haverá diminuição do tempo com os alunos.

Para exemplificar cito o caso fictício de um professor que tenha um padrão de 20 horas na disciplina de história . Pelas regras anteriores ele deveria pegar 5 turmas, atendendo uma uma média de 150 alunos. Com as novas regras o mesmo professor terá que pegar 6 turmas, o que aumentará para 180 o número de alunos atendidos. Apenas esse exemplo já desmonta a tese do governo, mas tem muitas outras análises que são possíveis de se fazer. Basta ter conhecimento e vivência de sala de aula, o que esta mulher, a secretaria de educação, não deve ter.

Outro exemplo possível, que desmascara a mentira apregoada pelo desgovernador em relação à hora-relógio, é o seguinte: Imaginemos um outro professor fictício que tenha um padrão de 40 horas. Muito bem, esse professor, independente se é pela resolução de 2016 ou de 2017, inicia sua jornada de trabalho do período da manhã às 7:30h e encerra o período às 12:00h, num total de 4 horas e 30 minutos. À tarde inicia o trabalho às 13:00h e encerra às 17:30, totalizando mais 4 horas e 30 minutos. Neste raciocínio simples, onde desprezei algumas variáveis, nosso professor fictício trabalha 9 horas por dia, imaginemos que ele tenha aulas apenas 4 dias da semana, logo 9 x 4 = 36. 

Esse número mostra o tamanho do desprezo do governador com a educação e com os educadores, já que sobra muito pouco para a preparação das aulas. E isso vai obrigar o nosso professor a levar trabalho pra casa, e este trabalho não é remunerado. É isso que o desgovernador quer, que trabalhemos em casa por amor, mas amor não paga nossas contas.

Obs: O número acima tem como média 30 alunos por turma... mas existem turmas que ultrapassam 35 alunos facilmente. Em Apucarana tem muitas....