sexta-feira, 30 de abril de 2010

Divindade

O que é Deus? Onde está Deus? Segundo alguns autores, Deus está morto. O matamos. Outros grandes pensadores dizem que foram nós, homens, quem fizemos Deus. Mas Deus está no pensamento humano. O pensamento é Deus. Se o pensamento é Deus, e isso é condição pra nossa existência, então somos deuses. Se a condição de nossa existência não é o pensamento, se nossa existência condiciona o pensamento, então continuamos a ser deuses. Considerar que nascemos com idéias que representam verdades absolutas pode ser arriscado.

A razão nos leva exatamente a um local onde Deus é e está. Está em nós e em nenhum outro lugar. Deus sou eu e você e nenhuma outra pessoa ou ente. Eu fiz Deus à minha imagem e semelhança e não ao contrário. O homem pode se libertar dos grilhões onde ele mesmo se prendeu. A compreensão de liberdade tem que avançar até o ponto em que Deus não mais seja um ente externo ao homem e sim o próprio homem. O mesmo homem que cria é o que destrói. O mesmo homem que ama é o que odeia. O homem é o réu e o juiz. Segundo os conceitos próprios de cada um, o homem deve ser capaz de perceber seus limites e os do outro.

O conhecimento sobre o as coisas deste e de outros mundos não pode torná-lo escravo de seus medos. O medo nesse processo se auto extinguirá, pois o desconhecido obscurece mentes e corações humanos. Será que nosso Deus não quer que conheçamos? Estamos proibidos de investigar o que nos intriga? Não podemos buscar soluções para nossos problemas porque Deus não permite? Deus!!! Deus quer que busquemos sim. Porque somos deuses. Porque nos permitimos viver conforme nossas próprias leis.

E que leis são essas?

Leis que não nos privem de nada. Leis que não escravizem mentes. Leis que libertem, finalmente, o homem da servidão imposta por ele mesmo, e sempre creditada a Deus. O céu e o inferno está longe e perto, sutil e saliente, dentro e fora, animado e inanimado. Céu e inferno são extremos da mesma coisa que se juntam ao final. Céu e inferno são justificativas humanas para culpar o homem de um crime que é divino e também para imputar aos "puros de coração" todas as virtudes sub-divinas que o homem não "possui".

Extingamos tais conceitos de nossa vida, pois eles apenas nos seguram num estágio que obrigatoriamente temos que ultrapassar. Temos que sair das trevas. Temos que nos tornar deuses. Ao encontrarmos Deus em nós mesmos, estaremos finalmente alcançando o objetivo de todas as religiões. Saberemos quem somos.

Ousaremos nos permitir viver sem culpas. Colocaremos nós mesmos como prioridade da vida, sabendo que nós não somos mais indivíduo. A preocupação comigo já não terá validade se ao meu lado alguém sofrer. Se ao meu redor alguém ainda não tiver alcançado tal estagio de compreensão, também eu não terei chegado. Assim, caminhemos rumo ao desconhecido sem medos e superstições. Sem trégua. Sem pausa. A vida nos reserva grandes surpresas e vamos estar preparados. Nossa existência será justificada pelos nosso atos e julgadas pelo grandioso juiz: nossa própria consciência. Se permitirmos, podemos voar. Podemos ser. E sendo, fazemos com que nosso pensamento se volte para o que somos. É um caminho sem volta. Talvez ainda tenhamos que passar por muito fogo e este é o elemento que tudo pode. Destrói, mas de suas cinzas brotam vidas novas. Novo homem. Novo Deus. Realidade diferente.


SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2010.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Todos aqueles

Aquele que sofre calado
Aquele que chora de dor
Aquele que é injustiçado

Naquelas crianças o pavor
Personagens da distração divina
Protaganizam sua própria sina

Homens que são desamor
Mulheres querendo amor
Homens que buscam o caos
Mulheres que não querem paz

Objetos do descanso divino
Resuldados, declínio 

Querem nos fazer acreditar
Isso não é e nunca foi verdade
Só faz parte da nossa vocação
A injustiça é nossa criação

Aquele que se liberta
Aquele que compreende
Aquele que não se exclui
Aquele que não aceita

Todos aqueles são
Personagens da liberdade humana
Protagonizam sua própria história

Ponto final de partida

Enquanto está aí olhando para o tempo que ainda te resta, vários pensamentos gravitam no infinito confuso de sua mente. O que você está fazendo ou o que fez da sua vida? Sua vontade, se é que você pode definir dessa forma um sentimento que não pode explicar, de fugir e largar tudo para trás é uma idéia que martela com insistência permanente sua cabeça e isso te incomoda bastante, pois mostra escancaradamente a você mesmo a insuficiência, incompetência e a covardia que carrega desde quando começou a refletir sobre esse tema.
Você nunca sabe o que é correto fazer, permanece quieto e parado apenas olhando a vida passar e não consegue deixar essa tristeza ir embora, se agarrando cada vez mais forte num silêncio disfarçado nas palavras, muitas vezes incautas, que saem de sua boca.
Tem muito a perder com qualquer decisão que tome no sentido de transformar sua monótona rotina. Mas o que tanto você pode perder? Família? Casa, carro, emprego, amigos? Você não deveria utilizar esses critérios já que nada é realmente seu, a não ser a sua própria essência, e pode ser perigoso quando refletir sobre a vida que tem e aquela que acha que gostaria de ter.
Quando a morte irá te visitar? Ninguém poderá responder, mas isso também é um pensamento que te ocorre com bastante freqüência. Às vezes você tem um falso pressentimento de que chegou a hora e que finalmente irá apagar suas luzes, mas nunca acontece. Isso apenas faz parte de suas loucuras irreais.
Não adianta ficar se perguntando sobre o que será a morte? Será pior do que a vida? Existe morte?  Boas perguntas, assim como todos os outros questionamentos que movimentaram e movimentam o mundo até hoje.
Você tem pressa e busca a morte como se deseja uma bela mulher, porém não tem coragem de se entregar a ela. Prefere envelhecer vagarosamente, e esse vagar é penoso e difícil, à se atirar nos seus braços. Mesmo assim, morrer é o único fato, fator e ou coisa que você não pode desafiar com o peso inútil das suas frouxas palavras.
A grande viagem, a mais esperada por todos, o grande encontro com a divindade, parece a você apenas o ponto final. Você não consegue ou lhe soa bastante imperfeito crer nesses, tão em voga, esoterismos populares, mas acredita na justiça da moral, acredita naquilo que o homem é, acredita naquilo que o transformou e principalmente crê no homem como guia absoluto de suas próprias escolhas.
Dessa forma, fazendo suas malditas escolhas é que busca incessantemente aprender a viver, para que possa um dia compreender os motivos de estar vivo e de ser humano, mesmo sem saber os critérios adotados para que você não tivesse nascido um outro animal qualquer, porém muito mais nobre do que você é agora.
Não consegue fugir, não consegue parar de delirar na imensidão da irrealidade, onde finalmente consegue se despir daquilo que fizeram de você e voltar a ser você mesmo, com todos os seus pecados, todos os seus defeitos e sem nenhuma virtude.
É nessa irrealidade ou realidade ideal para você, que alcança a paz silenciosa e noturna que somente atingiria quando chegasse ao ponto final de partida.

Pedras

Nas margens do rio aquelas pedras permanecem durante muito tempo. Lisas, redondas são aquelas menores que sempre estão em movimento. Mas nas margens dos rios permanecem apenas as maiores, que a força da água não consegue mudar de lugar e são essas que estão completamente revestidas de matéria orgânica, algas e outras coisas. Você é pedra lisa e redonda ou é das maiores inertes nas margens dos rios? De tanto rolar rio abaixo, muitas vezes o que era uma grande pedra acaba por se torna pequena. E cada vez menor se torna, chega até o total desaparecimento. Talvez e somente talvez essa pedra possa morrer feliz por ao menos ter conhecido uma parte do grande rio onde vivia e isso tenha trazido boas e más experiências. Em alguns casos podem ter sido mais más do que boas e em outros, mais boas do que más, mas em todo caso foi uma vida em movimento, ação contínua e paisagens diferentes. 

Dúvidas?

O trabalho é um privilégio ou é uma tortura?
Os filhos são dádivas?
O amor é para sempre?
E se não for?
Falando de amor, ele existe mesmo?
O sonhos não pagam imposto?
Somente os impostos são impostos?
A vida é curta ou longa?
A noite é escura?
O dia é claro?
A terra gira em torno do sol?
Por que?
Existe vida depois da morte?
Jesus cristo era humano ou divino?
Qual é a verdadeira função da igreja?
Você é contra o aborto?
O que acha de clonar você mesmo?
A fé move montanhas?
Quem tem boca chega a algum lugar?
Todos os caminhos levam ao paraíso?
E no inferno, você acredita?
Quem será salvo?
Ter ou ser, qual é a diferença?
Você prefere ser ou ter?
Qual é a utilidade do microondas?
 E o celular, como você usa?
Pra que trocentos canais de televisão?
Qual é o motivo de tantos times de futebol?
Será que não existem modalidades esportivas demais?
As músicas que você ouve são originais?
Sete notas musicais, sete dias da semana, sete cores do arco-íris, será que tem alguma ligação?
O que é esoterismo?
O que é ciência?
Pra que história, matemática, português ou física?
Onde estão os profetas?
Cadê as verdades?
Quem nunca ouviu mentiras?
Por que tantas promessas?
Por que tanta fome?
Por que tanta miséria?
Por que tanta morte?
Você acredita na justiça?
Acredita na injustiça?
Você é bom ou mau?
E tem onde dormir?
Você já almoçou hoje?
Salmão ou caviar, o que foi?
Banana?
O que foi feito dos seus ideais?
Você nunca foi idealista?
Existe corrupção?
Mensalão?
Dinheiro na cueca, na mala ou na meia?
Quem serão os candidatos?
Aquele bom rapaz?
Talvez o bom agricultor?
Um senador?
Um prefeito?
E o professor?
Como fica nessa história?
E os alunos?
Terão finalmente educação?
E no hospital?
Quando será atendido?
Quando morrer?
Terá um caixão?
Ou será direto no chão?
Terá uma grande lápide?
Ou só um monte de terra?
De onde viemos?
Pra onde iremos?
Deus existe mesmo ou é invenção humana?
Acredita ou não no aquecimento global?
E a globalização, fato ou boato?
E o holocausto?
E a viagem à lua?
Evoluímos do macaco?
Ou somos filhos de adão?
E a Internet?
Dúvidas?

sábado, 3 de abril de 2010

Palavras ao tempo

Enquanto estive fora pude perceber o tempo escapar sutil por minhas mãos. O tempo que tive à minha disposição foi desaproveitado quando tentei, em vão, olhar pela janela, outras janelas, que nada me dizia. Mudas ficaram também todas as palavras que disse ao sabor do vento e estas, mesmo num sussurro, voltavam aos meus ouvidos como um apelo silencioso. Calei-me então. De minha boca apenas o sorriso enigmático dos olhares que encontram a palavra certa, a ocasião oportuna, onde os sonhos podem ser reais. E vivo posso realizá-los. Vivo nesse instante pra perceber-me longe e encontrar em mim a falta de tudo que deixei calado e esquecido no subsolo das palavras que não consegui dizer. 

Melhor esquecer!

Terror


Quando o sol, vermelho como sangue, desapareceu no horizonte, a calma e a paz desceu à terra como um manto. Não havia vento, nem mesmo uma brisa, leve que fosse. A escuridão que estava por vir fazia com que o medo tomasse conta de todas as almas ali presentes. Ninguém falava nada, os pensamentos todos voltados à espera de algum milagre que os transportassem daquele local. Mas no fundo todos sabiam que nada ia acontecer além do mesmo terror da noite anterior. Os ruídos já haviam começado e dessa vez mais cedo, dando pra sentir o medo nas expressões das pessoas. Todos os olhares pediam perdão pelos seus pecados. Todos os gestos eram uma tentativa inútil de se defender e ninguém conseguia encarar de frente aquele destino. 
O homem mais corajoso se entregava covardemente à morte como um animal indefeso. Aumentaram os ruídos na mesma proporção em que a sala se tornou tão escura como uma noite sem lua. Um a um começaram a cair os homens, indefesos e inertes diante daquela situação, com os olhos cheios de medo, dor e arrependimentos. A noite foi tranquila como um passeio no parque com a morte cumprindo seu papel messiânico fielmente. Não sobrara uma só alma ali. Eu, que escrevo esse obscuro texto, só escrevo porque estava presente como protagonista dos fatos e tudo o que escrevi, vi em todos os olhares das pessoas que assassinei.