Tanta gente diz tanta coisa. Tanta coisa por dizer. Tantos ditos malditos. Tantas falas à metade. Tantos juízos em poucas palavras. Tantas mentiras a serem ocultadas. Tanto dinheiro a ser poupado, escondido. Tantas mortes a serem evitadas. Tantas crianças a sorrir. Tanta fome a matar. Tantas mulheres a serem amadas, compreendidas e respeitadas. Tantos preconceitos a serem derrubados. Tantos deuses adorados. Tanta gente libertada. Tanto quanto me espanto com a vida.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Três doses
A-Voz
Papelão
Ideias inúteis invadem o coração
Precisa querer, mesmo sem retribuição
Enganar a pobreza, complexa missão
Almoço preparado em cima do fogão
Pratos encardidos à beira do balcão
Tudo igual ontem, mesma refeição
Correr da miséria, insana convicção
Pobreza, miséria, barraco, papelão
Sinônimos doentes desta imperfeição
Dores e angústias, só uma fração
Parte de um problema sem solução
Tudo que consegue está em sua mão
O trabalho necessário é escravidão
Em casa comem só migalhas de pão
Alegria, transe em frente a televisão
Continua e perpetua sua condição
Algemado sem motivo e sem razão
A vida inteira esperando a salvação
Vai viver sem conhecer o seu patrão
Pobres miseráveis jogados ao chão
Significam doenças da população
Ignorados, são retratos da humilhação
O inferno seria bem melhor condição
segunda-feira, 23 de março de 2009
Jogo de dados
Fale do que você quer, mas diga somente a metade
Seus desejos são simples, nada muito perigoso
Crescer, talvez ser alguém, caminhar, ser orgulhoso
Vejo todo o seu desespero, suas angústias revelam
Você tem que desistir, é o que todo mundo espera
Vai lutar várias guerras e haverá muitas muralhas
Muitos obstáculos o impedirão de vencer as batalhas
Não aceite sua condição, não repita os mesmos erros
Não permita que digam quem você deve ser
Seja aquilo que os outros não querem
Futuro só existe pra quem sobreviver
Há espaço pra poucos no alto e você é condicionado
Ao que aprendeu nos livros, aos números dos dados
As oportunidades concedidas foram todas direcionadas
É o meio onde vive, grau de inclinação da escada
Todo mundo diz "não desista", pois temos liberdade
Onde os direitos são iguais, diferentes na verdade
Quem paga a fatura é você e todos seus descendentes
Repetirão a mesma lição, impostas em suas mentes
Não aceite esse destino, não faça disso seu enterro
Não resista ao chamado do seu próprio ser
Está em sua mente, deixe que se revelem
É um jogo de dados, você tem que vencer
quarta-feira, 18 de março de 2009
Sis t’ema
preso às suas correntes.
Eu te amo e vou chorar
longe de você de repente,
Sofrer e mesmo com dor
terei que desistir de nós.
Você nunca sentiu amor,
você simplesmente me usou
Ainda vai continuar usando,
se eu resolver ficar contigo
Como fez com outros antes
depois também será igual.
Não aguento mais beber coca-cola sem querer,
só porque você me obriga, isso não é amor.
Não posso mais permanecer desejando poder,
que qualquer coisa esteja rápido aos meus pés.
Somente por que você me diz que eu posso
Que eu tenho direito de desejar o que quiser.
Não suporto mais nas tantas vitrines por aí.
Sempre detestei todos os feriados comemorativos,
Estou enojado desses teus impulsos exagerados
Por sua culpa sempre gasto muito mais do ganho.
É loucura, obrigatoriamente não pode ser amor.
E pra me livrar de você eu prefiro morrer,
mas antes disso quero te fazer um pedido:
Por favor não venha chorar no meu velório.
Deve sorrir e no fundo vai estar sorrindo.
Pois você terá muitos motivos pra isso,
com certeza, meu caixão será do melhor
Que o vil metal capitalista pode comprar,
Repleto de lindas, perfumadas e caras flores.
Pestilência infame
O que você vai fazer amanhã?
Se for sair não esqueça do filtro
O guarda chuva de seda não deixe
Mangas compridas e botas também
O sol estará o meio do céu
Saiba que não haverá manhãs
Muito tempo sem pôr-do-sol
Cuide-se pra não se machucar
O asfalto está muito quente
Haverá muita gente nas calçadas
As árvores estarão sem folhas
E nenhuma sombra o protegerá
Não fale com desconhecidos
É proibido olhar diretamente
Há perigo nos restos de palavras
A morte espreita silenciosamente
Morrerá por desrespeitar as leis
Será banido por desobediência
Evite ser notado pela diferença
Os seres estranhos serão fuzilados
Não faça amizades com ninguém
Desconfie de todos ao seu redor
Podem te entregar para o inimigo
Vão te contaminar com o vírus
Pestilência infame que tudo ataca
Destrói e mata os desavisados
Aconselho você a ficar em casa
Lá você pode fingir que está só
Lembrar do tempo que tudo era
Diferente, tranqüilo e sorridente
Pensar que tudo é um equivoco
E que você um dia vai acordar
Desafinado e triste
Fim da noite sombria e sem lua que prende meu coração
Ínfimo intervalo de tempo em que não estarei mais só
Fatídico momento de prece e desespero em meu olhar
Bolero que acaba com uma nota desafinadamente triste
Assim a brisa traiçoeira apaga minha última e inútil vela
Íntimos de quem, ficarão aqueles segredos que carreguei?
Ridículo pensar que todos eles ficarão seguros sem mim
Nunca é uma palavra que deveria ser usada como verbo
Presente é tudo e sempre o que conjugamos no passado
Mas é imperfeita minha mente separada do que já fui
Não posso mais voltar atrás e repensar algumas atitudes
Paro e contemplo a alvura das luzes que chegaram a mim
Cercado por todos os lados, me ofuscam o pensamento
Viajo entre nuvens desafiadoras pra chegar ao meu lugar
Reserva feita com antecedência pelas minhas ausências
Encerro meu trabalho sem dor, sem pudor e sem suor
Energia que nunca quis gastar com tão pouco objetivo
O que fiz, agora percebo que fez quem fui de verdade
O que eu era já não importa se ninguém me vê ou ouve
Organização aleatória
Na noite janelas entre abertas
Entre entregas que desfazem
Nada feito ou desfeito por um
Por um vão se misturando
Multidão que se confunde
Coleção de pobres seres
Comunhão de muitos jogos
Senso insensível e só
Você não é e eu também não
Ninguém é mais do que nada
Simplificação da mesma coisa
Aleatoriamente organizados
Os contentamentos onde estão?
Na mesmice de permanecer igual
Na idiotice das frases feitas
No baile das opiniões compradas
E agora estamos aqui
Sendo questionados sobre tudo
Somos culpados do que não fizemos
E inocentes pelo que pensamos
Refletimos sempre de mãos atadas
E nenhum de nós se conhece
Estamos perdidos e solitários
Num mar de idéias que nos une
Vivos ou mortos, aqui jaz
Dormir ou acordar, satisfaz?
Sorrir ou se coçar, tanto faz
Ouvir ou perguntar, e a paz?
E agora estamos aí
Sendo confundidos sobre o todo
Somos prisioneiros do que sonhamos
E réus primários pelo que omitimos
Tudo acabará como tem que ser
Todos infelizes para sempre
Exceções de sorrisos amarelos
Colhendo aquilo que plantou