quarta-feira, 26 de abril de 2017

Por quem lutamos?

Cheguei em casa hoje um pouco mais tarde do que de costume, pois surgiu um compromisso e acabei me enrolando. Pois bem, entrei em casa, cumprimentei todo mundo como de costume e dirigi-me ao sofá, como também de costume, pra dar aquela relaxada, e eis que surge meu filho mais velho, 15 anos, no corredor com algo em uma das mãos. Ele se aproximou com uma clara expressão de felicidade em seu rosto e me entregou, feliz e satisfeito, aquele objeto. Pra minha surpresa era um documento, era aquele documento de capa azul escrito “Carteira de Trabalho e Previdência Social”.


Emudeci por um momento, olhei pro meu filho, uma criança ainda no corpo de um homem de 1,85 m, e não conseguindo disfarçar, proferi duras, mas reais palavras: “Pra que vai servir esse troço?”. Meu filho não se assustou muito com o que eu disse, pois já está acostumado com esse debate aqui em casa. Fez uma cara de frustração e continuou seus afazeres.

Me ocorreu então escrever sobre o assunto. Surgiu a ideia de escrever sobre o futuro do meu filho, partindo do pressuposto individualista de que as pessoas pensam apenas em si mesmas e nos seus, na sua célula familiar. Com isso na cabeça, resolvi perguntar ao ultra contemporâneo oráculo o que ele acha e elaborei a seguinte sentença: “o futuro d@s jovens e a reforma da previdência”. Como vocês devem saber, o oráculo apresenta “zilhões” de respostas, mas é preciso saber também que as mais acessadas e lidas são aquelas que estão na primeira página de exibição e geralmente as mais importantes são as cinco ou dez primeiras.

Ao ler apenas as chamadas, as manchetes dos sites sugeridos pelo oráculo já deu pena do meu filho, mas nesse ponto também comecei a me preocupar com os filh@s dos outros trabalhadores como eu. 

Como não se assustar com títulos assim? “Denise Gentil: Jovens não terão futuro com a reforma da Previdência e Trabalhista de Temer”. O que assusta, além do impacto da frase, é que a pessoa que formula tal profecia é especialista na área, professora pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Do alto de suas pesquisas é que ela faz tão desalentadora afirmação, que entre outras coisas diz que meu filho de quinze anos não terá futuro se todas essas propostas passarem. Ela afirma categoricamente que todos os planos que fiz para o meu filho, desde sua concepção, até agora foram em vão. Como não se desesperar com isso?

Mas tem mais. Seguindo o oráculo o que aparece em sequencia é o seguinte: “Reforma Trabalhista: golpe certeiro nos jovens brasileiros. Amargando quase 30% de desemprego, os jovens entre 18 e 24 anos serão os mais afetados pela reforma trabalhista e as demais medidas do governo Temer...”. É um dado alarmante e tem o poder de desesperar qualquer pai comprometido com o futuro dos próprios filh@s. E meu filho todo feliz com a carteira de trabalho nas mãos...

No próximo link temos: “Previdência: uma reforma para acabar com o futuro da juventude”. Neste site os autores fazem um apanhado geral sobre os prejuízos que a reforma da previdência trará aos nossos jovens, especificamente à parcela negra dessa juventude que já sofre com as regras atuais e com o racismo brasileiro. Os racistas, pais de filhos brancos, respirarão aliviados, mas não é o meu caso. Sou afro-descendente e meu filho apesar de branco tem plena consciência de onde veio, e tem orgulho disso. O que já é complicado torna-se complicado ao cubo com as novas regras de aposentadoria defendidas.

O site seguinte que entrei dizia entre outras coisas que meu filho, e @s filh@s todos dos brasileiros brasil afora e adentro, deverão investir nas previdência privada se quiserem se aposentar. Mas só farão isso se tiverem um emprego. Leia o título do texto e tire suas próprias conclusões: “Jovens sofrerão impacto na mudança da aposentadoria. Reforma da Previdência obrigará novas gerações a apostar na educação financeira e antecipar contribuição”. Aí eu fico me perguntando: com qual salário eles farão isso se nem educação e muito menos empregos eles terão?

E a última manchete que tive a curiosidade de abrir foi a seguinte: “Reforma pode afastar jovens da Previdência: Se não vou usar, pra que vou pagar”. O que mostra uma total descrença dessa juventude num sistema previdenciário que não os contemplará no futuro, quando precisarem e assim sendo pra que contribuir. Tal conceito trás uma distorção gravíssima, pois fere de morte o principio pelo qual foi criada a previdência, que é o princípio da colaboração. Nossa juventude deixando de contribuir, aqueles que mais precisam não terão o benefício. 

Enfim, é desanimador. É frustrante. Não há saída a não ser a luta. Lutar contra tudo isso que pode acabar com o futuro do nosso país é um dever de tod@s @s cidadãs/ãos, mas é um dever dos pais que se preocupam com suas/seus filh@s e net@s.

Meu filho/net@s e @s filh@s/net@s dos leitores desse texto terão que trabalhar até a idade mínima de 65 anos para se aposentar. O detalhe sórdido é que a proposta nivela a idade mínima para homens e mulheres, então nesse caso é necessário fazer a devida flexão de gênero.

Meu filho terá que trabalhar 49 anos ininterruptos para se aposentar integralmente. Esse tempo de contribuição dá a ele apenas mais um ano para estudar, pois nos próximos quarenta e nove ele terá apenas que se preocupar com o trabalho. Com sorte quem sabe ele consiga chegar com saúde, física e mental, aos 65.

Não sei o que dizer a ele. Aliás, sei sim. 

Dia 28/04 é dia de luta. 

E estaremos lá dizendo um grande não essas reformas todas. Gritando em alto e bom som que não queremos nossos filhos tornando-se escravos do capital, que é o único beneficiado por essas reformas. Falando a plenos pulmões que não queremos retroceder ao período da revolução industrial. Venceremos essa guerra, com toda a dor e sofrimento que ela possa causar, mas venceremos. E venceremos por que não lutaremos apenas por nós mesmo, e sim por que é por nossos filhos e filhas, netos e netas, por que é pelas futuras gerações que seremos vencedor@s.