sexta-feira, 23 de agosto de 2013

30 de agosto. Questão de consciência!

Sou professor há pouco tempo. Me formei em história. Acho que ainda estou longe de ser um bom professor, mas tenho consciência disso, e não negando isso busco aprender a ser o profissional que preciso e quero ser. 
Comecei a trabalhar em escolar em 1993, como técnico administrativo. Trabalhei inicialmente em uma escola pequena, de interior, depois me transferi para Curitiba, onde trabalhei na SEED e depois no Colégio Estadual do Paraná. 
No ano de 2000 eu encerrei o famigerado contrato do paranáeducação, já tendo passado pela igualmente famigerada ADEJA. Rodei sem rumo por uns anos pra descobrir que o meu lance era escola mesmo, não sabia fazer outra coisa. 
Voltei pra a rede pública no início de 2006, após ser aprovado no concurso de 2005 para Agente Educacional II. Nessa função, mais especificamente como auxiliar de biblioteca, eu fiquei até no ano passado, quando eu ainda estava com 60 horas no colégio, por conta de ter acumulado a carga horária do administrativo com as 20 horas do magistério, assumido após aprovação no concurso de 2007.
Neste ano de 2013, meio forçado, mas conveniente pra mim, eu optei apenas pelo cargo de professor e cá estou escrevendo esse texto. 
Bom, quando fui exonerado do cargo de agente educacional eu já havia garantido todas as promoções possíveis como curso superior e pró-funcionário. A carreira bem encaminhada, a questão financeira razoavelmente resolvida e uma vida pacata numa pequena cidade de interior, com um custo/qualidade de vida admirável e invejável para um cidadão com a minha origem social. 
Mas já não bastava, eu precisava de mais. Há alguns anos eu já vinha participando das atividades da APP e a minha participação somente se qualificaria se eu desse um passo adiante. E dei esse passo. 
O curso de graduação proporcionou a compreensão que eu não tinha sobre a luta de classes, capitalismo, comunismo, direita e esquerda, ideologia, enfim, deu-me um ferramental básico para entender minimamente como funciona a nossa sociedade. 
Porém, foi o sindicato que deu a sintonia fina na minha formação e tem dado ainda. As atividades, as formações, assembleias, conferências, seminários e principalmente a conversa direta com quem já faz militância há bastante tempo e que tem muito a nos ensinar. 
Eu tenho tentado aprender o mais que posso com esses ilustres professores. Entre eles, o ator principal desse video, que coincidentemente também é professor de história. 
Todo esse texto enjoativo e repetitivo para dizer que nada que temos atualmente como professoras/es foi nos dado gratuitamente. Houve muita batalha, guerra, sangue, negociação, recuos, avanços. Negar toda a trajetória da categoria das/os professoras/es é negar que vivamos em sociedade e que todos os direitos que temos hoje foram conquistados por uma sociedade organizada. 
Muitas/os professoras/es novatas/os , outras/os nem tão novatas/os assim, se negam a enxergar essa verdade. Tudo bem, é direito de cada uma/o não ser sindicalizada/o, nem querer participar das atividades do sindicato, mas negar a história da humanidade é muita falta de informação, pra não adjetivar de outra forma. 
Esse dia 30 de agosto será grande. Mesmo não tendo vivido aquele de 1988 eu sei, porque aprendi, dar os créditos àquelas pessoas que lutaram, não apenas naquela data, por tudo o que temos hoje. 
As/os professoras/es que assumiram após 2003 não sabem o que é não eleger os diretores de suas escolas. Não sabem o que é e o que significa pra saúde e pro moral trabalhar 40 horas semanais estritamente em sala de aula. Essas/es professoras/es desconhecem o que é trabalhar sem ter um plano de carreira que garanta promoção e progressão através de uma tabela salarial. 
As/os funcionárias/os mais novas/os também desconhecem o que é trabalhar com um contrato precário, a exemplo dos que eu já citei anteriormente, pois já gozam dos resultados de luta alheia por concursos públicos. E mais, há funcionárias/os que ignoram que antes de 2008 não havia plano de carreira para esses profissionais da educação.
Todas/os as/os profissionais da educação, especificamente os novatos, não sabem o que é trabalhar sem a garantia de ter ao menos a reposição da inflação do período. Alguns ainda tentam esquecer, convenientemente, que estamos numa batalha de anos para garantir a equiparação salarial com os agentes profissionais do estado. Enfim, foram muitas as conquistas, avançamos demais, apesar de ainda não ser suficiente, mas negar isso é falta de conhecimento, ética e consciência de categoria e de classe.
Que esse 30 de agosto sirva para avançarmos naquilo que hoje eu considero de suma importância, que é a construção da consciência coletiva de nossa classe, das/os professoras/es. Essa é a maior pauta dentre todas as outras que aí estão e que são muito importantes também. É o que eu espero dessa mobilização e é por esse motivo que trabalho duro e me dedico ao sindicato e à categoria, pra que eu possa dar minha pequena contribuição a exemplo daqueles que vieram antes de mim.

A essas/es bravas/os guerreiras/os meus sinceros agradecimentos. De minha parte seguirei aprendendo com quem sabe, pois quem luta faz acontecer!!



terça-feira, 20 de agosto de 2013

A Flor

Agarrada ao rochedo, ao sabor do vento, de frente para o sol da manhã, lá estava ela. Uma flor como nunca havia visto antes. Linda, livre e sorrindo pra mim o tempo todo. Eu de passagem, perdido em outros mundos, nos meus próprios mundos, quase não a percebi. Queria não ter percebido. Quando a vi, naquela ranhura da pedra, sobre um gigantesco abismo, o primeiro pensamento que veio à mente foi tirá-la de lá, o mais rápido possível. Uma flor como aquela deveria ser minha e eu a desejei desde o primeiro instante. Eu correria todos os riscos para alcançá-la, pra tê-la só pra mim. Primeiro eu apenas observei, contemplando admirado toda a sua beleza. E era uma beleza exótica, ao mesmo tempo que ela sorria ao sol, parecia entristecer por estar ali tão sozinha, ela e sua pedra. Eu a quis. Acho que não compreendi muito bem o que aquela pequena flor estava me dizendo e me arrisquei no abismo para alcançá-la. Estiquei meus braços, pulsos e mãos. Fiquei na ponta dos pés. Me agarrei também em qualquer coisa que pudesse me dar segurança para arrancá-la de lá. Fiz muita força e esforço e quase caí. Quase morri. Teria colocado tudo a perder se tivesse insistido. Todos os mundos que habitam minha cabeça ruiriam, viriam a baixo. Num último esforço desesperado aquela florzinha conseguiu me explicar tudo. Ela não queria sair de lá, ela era feliz ali. Se eu tentasse provavelmente eu conseguiria arrancá-la de lá, mas apenas para deixá-la morrer presa a um vaso numa varanda qualquer. Sem o vento dos dias frios, sem o nascer e o pôr-do-sol ela morreria também. Compreendi isso. Isso ficou muito claro pra mim e me afastei. Olhei pra ela uma última vez e me despedi, insatisfeito confesso, mas com a plena certeza e felicidade de guardá-la em minhas mais profundas memórias. A flor que nunca vi antes, que me fez quase arriscar minha vida, ensinou-me mais uma lição. E como estamos sempre aprendendo, salve a flor. Salve a minha flor, que jamais esquecerei!