segunda-feira, 4 de julho de 2011

Crônica de um dia de Vitória

Ontem trabalhei como fiscal da coligação o dia inteiro na seção 68, na APAE. Naquele cárcere voluntário, cego, surdo e mudo, não pude presenciar o clima durante o dia da eleição. As informações que eu obtinha eram todas duvidosas, já que não havia dados reais que embasassem as opiniões do tipo: “está muito bom para nós” ou “essa já é nossa” e muitas outras opiniões parecidas, tanto de um lado como de outro. Me restou apenas confiar no duro trabalho bem feito que toda a equipe de coordenação havia feito. Foram dias difíceis, duros mesmo. O cansaço somente se dissiparia ao final do dia de ontem já com os votos somados extra oficialmente. Mas tudo bem, agüentei firme no meu posto, já que não restava outra alternativa. Atento a tudo e a todos, aos pequenos sinais dados, involuntariamente, pelas pessoas durante todo o dia. O sorriso escondido atrás do medo, o brilho no olhar, um gesto de confiança, eram minhas únicas ferramentas para tentar decifrar o enigma que foi o dia de ontem.

Mas o dia finalmente chegara ao fim e nessa hora passei para a derradeira tensão que foi a quase eterna espera da emissão dos relatórios de votação. Confesso que aqueles longos minutos mexeram comigo. Quando a presidente da seção leu em voz alta o resultado, fui discreto para não externar minha imensa satisfação. Aquele resultado fez valer todo o esforço, apesar de saber que ainda era preciso saber das outras seções, mas pra mim foi muito importante aquilo. Os mesários cumpriram o seu papel brilhantemente e com a imparcialidade necessária ao processo eleitoral. Também preciso lembrar do fiscal da outra coligação que foi sensato durante todo o dia e isso fez com que o clima dentro da seção fosse muito tranqüilo e amigável.

Mas havia acabado. Saí da seção e já havia pessoas no pátio da escola comemorando. Umas rindo, outras chorando de emoção. E aquela emoção também era minha. Havíamos conseguido eleger nosso candidato e todos os que eu olhava, apertava a mão e abraçava me diziam, sem palavras, que havia valido a pena. Pessoas que acreditam em uma cidade melhor, em uma cidade onde o povo possa a voltar ser amigos. Numa cidade em que o povo possa ser a prioridade única da administração municipal.

Aqui eu abro um parêntesis para dizer que é necessário que o povo saiba qual é o seu papel e conscientemente cobre e exija dos representantes mais respeito e responsabilidade com o dinheiro público e se isso não acontecer que sejamos unidos para exigir de maneira organizada nossos direitos, e a oportunidade ideal para isso são as eleições.

Voltando ao dia de ontem. Esperei um bom tempo pra me juntar aos amigos e companheiros que aguardavam o relatório para a soma, por que deu problema numa das urnas e foi preciso um técnico da justiça desmonta-la para depois montar novamente, para depois os relatórios saírem. Somente aí saí do colégio. Ao entrar no carro encontrei um amigo que veio ao meu encontro com os olhos cheios de lágrimas e nos abraçamos numa comemoração calorosa. Isso também contribuiu para que eu começasse a entender melhor aquilo que estava sentindo naquele momento, a dimensão daquele resultado e o quanto era importante para nossa cidade  aquela conquista.

Mas era só o começo. Daquele momento em diante a emoção cresceu numa velocidade vertiginosa. Os gritos de comemoração, a palavras amigas que recebi, e que humildemente distribui faziam com que a vitória ficasse ainda maior e mais importante. Não vou me atrever a listar as pessoas que eu gostaria de agradecer e parabenizar pessoalmente para não correr o risco de esquecer de alguma e assim cometer uma injustiça. Todos estão de parabéns, mas o responsável pela eleição do Edmilson e do Washington é o povo de Kaloré, que reconheceram nesta dupla a realização de uma cidade melhor pros seus filhos. Uma cidade melhor para o futuro.

Se alguma pessoa que estiver lendo esse texto agora e estiver se perguntando. “E se a administração deles for muito ruim?” Tudo bem, é uma dúvida bastante pertinente, já que tivemos péssimas experiências nos últimos mandatos. Nesse caso quero deixar bem claro que somente o povo tem o poder de dizer não para as péssimas administrações. Por isso lutamos com todas as nossas forças para a realização das eleições. Por que o povo tem o direito decidir o seu destino. O povo tem o direito de escolher pra quem dar o poder de conduzir o município. E se não conduzir direito, o povo e somente o povo pode e deve retira-lo do seu cargo. Nas urnas, através do voto.

Saí do escritório da Kassimélia e fui para a avenida. Eu tremia, não sei se era de emoção ou de frio, o fato é que parecia que tinha levado um choque, tamanha era a felicidade em ver o povo de Kaloré na manifestação pura e cristalina de alegria. O choro e o riso eram figurinha fácil nos rostos. Jovens, crianças, adultos, idosos, todos ali, naquele frio, expondo suas emoções.

Encostei o carro e fui me misturar aquele turbilhão de calor humano que havia se transformado a comemoração da vitória. Música, foguetes e gritos, num barulho que confundia os sentidos, mas que ao mesmo tempo era a mais pura demonstração de alegria sincera. Os abraços e apertos de mãos se multiplicaram e eu já não tremia mais. A ficha havia caído finalmente.

Ao encontrar minha família também pude sentir o quanto tinha valido a pena me dedicar a essa missão como me dediquei. Abracei minha esposa, declarei meu amor por ela, beijei minha filhinha. Abracei minha irmã que também estava por ali, apesar de estar ainda de recuperação de uma cirurgia. Mas ao ver e abraçar minha velha mãe eu pude entender o valor do desejo e da vontade. Minha mãe sussurrou em meus ouvidos: “Eu consegui votar meu filho”. Já havia algumas eleições que ela não votava porque ela sempre ficava nervosa e anulava o voto. Mas não dessa vez. Dessa vez ela, já com quase setenta anos, percebeu a importância de mudar nossa cidade pra melhor, de transformar nossa realidade e fez o esforço necessário pra que isso acontecesse através do seu solitário, mas importante, voto.

Chorei. Chorei o choro mais alegre de toda minha vida naquele momento. Muitas pessoas me rotulam de várias coisas, já me acostumei, mas nunca vou me acostumar com o determinismo, tão presente em nossa sociedade, de algumas pessoas ao afirmar que as coisas nunca vão mudar. Isso não pode ser verdade. Isso, definitivamente não é verdade, pois somos responsáveis pelas nossas escolhas. A liberdade de escolha é um fardo que temos que carregar. Seria muito mais confortável se alguém escolhesse, mas não é assim que as coisas acontecem. O que não podemos nos esquecer é que escolhas tem conseqüências e conseqüências influenciam diretamente nas escolhas futuras que faremos.

Depositamos nossa confiança, nesse domingo, no Edmilson e no Washington, essa foi nossa escolha. As conseqüências desse ato nos dirão se faremos a mesma escolha no futuro.

Que tenhamos mais que 12 meses de alegria verdadeira com eles no comando da nossa cidade.

Obrigado a todos o que trabalharam comigo nesses dias. Também peço desculpas aquelas pessoas que por um motivo ou outro não consegui dar a merecida atenção. Obrigado ao Edmilson e Washington que acreditaram em mim. E principalmente, obrigado à todas as pessoas que sonharam junto comigo e contribuíram para que o nosso sonho se tornasse realidade.

Anonymous - Guerra contra o sistema - fase 1