terça-feira, 3 de abril de 2012

Vítima é vítima

Uma adolescente de 17 anos foi estuprada em Kaloré. Um fato desse estampado na primeira página de qualquer jornal causa um grande impacto. As pessoas, muito rapidamente, consideram um crime gravíssimo. O raciocínio é muito simples e pode ser explicado com a nossa tão nobre regra de ouro: “não faça aos outros aquilo que você não quer pra si”. E também nos remeteria a uma compreensão fundamental das regras de conduta tão claramente explicitadas em nossas leis. Estupro é crime e segundo essas mesmas leis, deve ser evitado, prevenido, investigado e punido.

Com sete, dezessete ou com cinqüenta e sete anos, uma mulher estuprada é uma mulher violentada, violada, desrespeitada. A uma mulher vítima de estupro foi negado um direito fundamental que é o direito de decidir sobre seu próprio corpo. Foi negado também o direito de se defender, já que quem sofre tal violência, geralmente, não tem coragem de acusar seu agressor. Foi negado o direito de exercer sua liberdade para ser gente, para exercer sua humanidade.

Em uma cidade pequena um ato como esse toma proporções gigantescas, afinal conhecemos todas as pessoas envolvidas, mesmo que superficialmente, e isso torna a missão de encarar o problema com a necessária imparcialidade muito difícil. Pelo menos é o que dá para analisar num primeiro momento. Há pessoas que se apressam em julgar esse ou aquele padrão comportamento como ideal da sociedade. Escuta-se pelas esquinas e rodas de conversa todo tipo de argumento para defender o lado A ou o lado B da história. Uns mais apaixonadamente outros menos, mas todos têm uma bela opinião sobre o assunto e as mais mirabolantes teses sobre o ocorrido baseados exclusivamente no “achômetro”.

Não podemos e nem devemos acusar ninguém por que o “achômetro” não é um instrumento científico utilizado pelos investigadores e sendo assim, não é confiável. Não podemos apontar o dedo pra esse ou aquele suspeito simplesmente porque achamos. Qualquer argumento a favor ou contra, que defenda ou ataque, que transforme qualquer suposto suspeito em autor do crime é mera especulação de gente desocupada que não tem mais o que fazer. Esse é um dos lados da moeda.

O outro lado é o lado da VÍTIMA. Escrevi em caixa alta porque é para destacar mesmo. Na definição do dicionário Aurélio, vítima significa pessoa torturada, ferida ou que sucumbe a uma desgraça. A definição é clara, límpida e cristalina. A adolescente é uma vítima de violência e não existe argumento no mundo capaz de transformá-la em AGRESSOR, que é aquele que comete ato violento. Viram a diferença? A garota é vítima e não se discute. Esse ponto é inegociável e a sociedade Kaloreense e brasileira tem que compreender isso.

Temos inúmeros exemplos Brasil a fora de casos onde a vítima foi transformada em agressor. Só pra exemplificar tem o caso do filho do homem mais rico do Brasil que atropelou um ciclista, que morreu, e ainda posou de vítima na mídia. Um pouco mais recente tem o caso do STJ que inocentou um homem que estuprou três meninas menores de dozes anos alegando que as meninas eram garotas de programa.

Isso é inadmissível para uma sociedade que tenha pretensões de ser séria. Onde está a justiça para essas pessoas que foram vítimas e não agressores? Essa mesma justiça deveria funcionar para os acusados ou suspeitos desses crimes, para que os casos sejam investigados com competência para não corrermos o risco de condenar um inocente.

No caso aqui de Kaloré, espero que aprendamos algo com o acontecido. Que aprendamos a não julgar as pessoas antes de conhecê-las e quando digo conhecê-las, falo em reconhecer as vítimas das agressões independente de sua orientação sexual, do seu gênero, etnia e religião. Reconheçamos a urgência de perceber que as pessoas são diferentes e que as oportunidades nunca são as mesmas e isso faz a diferença na formação de qualquer indivíduo. O preconceito e a discriminação está em nosso seio e precisamos nos livrar desses males que nos atormentam. Não esqueçam, vítima é sempre

 vítima.

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