terça-feira, 20 de agosto de 2013

A Flor

Agarrada ao rochedo, ao sabor do vento, de frente para o sol da manhã, lá estava ela. Uma flor como nunca havia visto antes. Linda, livre e sorrindo pra mim o tempo todo. Eu de passagem, perdido em outros mundos, nos meus próprios mundos, quase não a percebi. Queria não ter percebido. Quando a vi, naquela ranhura da pedra, sobre um gigantesco abismo, o primeiro pensamento que veio à mente foi tirá-la de lá, o mais rápido possível. Uma flor como aquela deveria ser minha e eu a desejei desde o primeiro instante. Eu correria todos os riscos para alcançá-la, pra tê-la só pra mim. Primeiro eu apenas observei, contemplando admirado toda a sua beleza. E era uma beleza exótica, ao mesmo tempo que ela sorria ao sol, parecia entristecer por estar ali tão sozinha, ela e sua pedra. Eu a quis. Acho que não compreendi muito bem o que aquela pequena flor estava me dizendo e me arrisquei no abismo para alcançá-la. Estiquei meus braços, pulsos e mãos. Fiquei na ponta dos pés. Me agarrei também em qualquer coisa que pudesse me dar segurança para arrancá-la de lá. Fiz muita força e esforço e quase caí. Quase morri. Teria colocado tudo a perder se tivesse insistido. Todos os mundos que habitam minha cabeça ruiriam, viriam a baixo. Num último esforço desesperado aquela florzinha conseguiu me explicar tudo. Ela não queria sair de lá, ela era feliz ali. Se eu tentasse provavelmente eu conseguiria arrancá-la de lá, mas apenas para deixá-la morrer presa a um vaso numa varanda qualquer. Sem o vento dos dias frios, sem o nascer e o pôr-do-sol ela morreria também. Compreendi isso. Isso ficou muito claro pra mim e me afastei. Olhei pra ela uma última vez e me despedi, insatisfeito confesso, mas com a plena certeza e felicidade de guardá-la em minhas mais profundas memórias. A flor que nunca vi antes, que me fez quase arriscar minha vida, ensinou-me mais uma lição. E como estamos sempre aprendendo, salve a flor. Salve a minha flor, que jamais esquecerei!

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