terça-feira, 24 de agosto de 2010

Amélias feministas?

Ao chegar em casa hoje me deparei com uma cena totalmente comum, mas que me suscitaram alguns questionamentos a respeito da formação do consciente e subconsciente feminino. Minha filha de um ano e meio estava felizmente distraída com um brinquedo novo que havia ganhado de sua madrinha. Era uma miniatura de um carrinho de bebê, com todas as similaridade possíveis de um carrinho de tamanho normal. E lá estava minha filhota em pé, empurrando pra frente e pra trás aquele brinquedo, com um boneco dentro, embrulhado por uma frauda. Ah! E que felicidade! E ainda balbuciava um esboço de uma cantiga de ninar.

Achei interessante aquela cena, principalmente porque é o início da formação das mulheres Amélias. Será? Por mais que as mulheres tenham lutado e conseguido sua independência elas ainda carregam traços de um machismo irreversível em nossa sociedade. O carrinho de neném de brinquedo é um exemplo de como os padrões socialmente aceitos estão sedimentados em nosso inconsciente. Meninas têm que brincar de boneca. São mães de brinquedo numa simulação perniciosa de uma situação desejada, não sei por quem, num futuro não muito longínquo.

Nessas brincadeiras temos todos os aspectos de uma casa real, com requintes de crueldade, principalmente quando acontece de haver um menino na brincadeira. Tem hora pra fazer comida, hora pra trocar frauda, dar mamadeira, fazer dormir e coisas do gênero. A tortura fica por conta do menino, quando ele faz de conta que está chegando do trabalho e a menina corre para atender suas mais prementes necessidades.

Por que não enxergamos essas coisas? Por que continuamos a presentear nossas meninas com brinquedos desse tipo? Joguinhos de panela, carrinhos de bebês, bonecas que falam, choram, fazem xixi e etc. Nossas meninas crescerão, serão adolescentes, chegarão à idade adulta, algumas conseguirão se libertar dos grilhões que as prendem aos caprichos castradores de uma sociedade imperfeita. Outras porém, e nesse caso acredito que sejam a maioria, perpetuarão uma submissão imposta sem nunca ter tido chance de realizar outra escolha, já que fizeram, desde pequenas todas as lições necessárias  em sua própria casa.

E os meninos? Qual o seu papel nisso? Exatamente igual ao das meninas, ou seja, manterem-se no mesmo lugar e com as mesmas condições. Representarão fielmente o papel que aprenderam desde pequenos juntamente com as meninas.

E a sociedade dá vivas a isso, afinal tudo vai continuar como está por um longo, longo tempo. Ninguém vai se incomodar com isso, já que inverter esses padrões é algo muito difícil e complexo e jamais será necessário caminhar nessa direção. O mercado agradece. A masculinidade agradece. Algumas mulheres também agradecem, principalmente por que as fizeram pensar que lugar de mulher é realmente dentro de casa, cuidando de filhos e lavando cuecas e fazendo comida.

Ótimo então, temos um lindo panorama. E o movimento feminista? Onde se encaixa nessa história? Boas questões não é mesmo? Em alguns momentos penso que o movimento feminista também é injusto, onde o discurso dos direitos iguais apenas tem prejudicado as mulheres ao longo dos anos. Elas tiveram que abandonar seus filhos e família pra combater os males da modernidade junto com os homens. Por que foi necessário isso? Quem são os responsáveis por essa mudança? Será que foi uma escolha voluntária ou as mulheres foram induzidas e conduzidas a esse resultado? 

Mais perguntas que não consigo responder com exatidão e talvez nunca consiga passar nem perto das respostas, mas que posso refletir e considerar alguns pontos importantes: a mudança do conceito de família na modernidade e principalmente na contemporaneidade; a necessidade de sustentar a prole; as exigências da sociedade de consumo; o fato do homem sozinho não mais dar conta de cuidar materialmente da família; etc....

Enfim, já não sei se termino esse texto da forma como planejei no início. As meninas brincam de donas de casa, de ser mães e os meninos de chefes de família, mas a vida na idade adulta já não tem muito espaço pra famílias com essa tradicional formação, pois tudo muda e as famílias, infelizmente ou felizmente, já não são as mesmas.

Mas os brinquedinhos continuam sendo os de sempre e minha filha adora!!!!

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