segunda-feira, 16 de maio de 2016

Indigne-se

Não sei exatamente como iniciar esse texto, mas gostaria de falar sobre indignação. Mais especificamente, sobre a falta, a ausência de indignação. O Brasil, com a atual conjuntura política, vive um momento muito turbulento. Poderíamos enumerar muitos aspectos para ilustrar a nossa situação. Mas nos atenhamos à quebra total e despudorada da nossa já tão frágil e recente democracia, aos grandes riscos que isso significa e principalmente à promessa que se apresenta como alternativa para tirar o país do caos econômico em que se enfiou com os anos de desgoverno, segundo os golpistas e demais cúmplices travestidos de patriotas, do PT. Que alternativa é essa afinal? Temer e os sete anões de posse do documento norteador deste governo iniciam o que as esquerdas já apelidaram de muitas coisas. Ponte para o inferno, ponte para o passado, pinguela para o abismo, pinguela para a morte, enfim... os adjetivos são muitos na tentativa de demonstrar o quanto este documento é perigoso para a população brasileira, especificamente para a classe operária.
Não tenho a intenção de esgotar o tema, mas gostaria de contribuir com algumas reflexões sobre o perigo que nos ronda e que não tem conseguido despertar a indignação do povo. Olho para os meus companheiros de trabalho e não consigo enxergar neles a necessária indignação, aquela explosiva e revolucionária, capaz de colocá-los novamente nas ruas pra protestar pelos seus direitos, que estão prestes a serem destruídos.
Tentarei ser didático o suficiente pra que haja a compreensão dos poucos que lerão esse texto e não vou destrinchar o documento inteiro, me aterei apenas a alguns pontos mais cruciais para a nossa vida e que virão a galope com o governo golpista.

São eles:

1 - O fim da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e os Planos de Carreira
A direita brasileira vem a décadas combatendo a CLT e pregando aos quatro ventos que é preciso flexibilizar as leis do trabalho com o único objetivo, muitas vezes escamoteado, de que a CLT engessa a geração de empregos e as iniciativas empreendedoras. Na verdade esse discurso mal disfarça a sede e a fome da classe empresarial brasileira por maiores lucros e isso só se dá se sucatearmos as relações de trabalho ao acabarmos com as leis e dificultar a existência dos sindicatos. Esses empresários já berram há muitos anos sobre o negociado sobre o legislado. Na prática isso significa que as negociações coletivas sobreporão o teor das leis trabalhistas. Atualmente isso já é possível, a diferença é que a lei somente poderá ser desconsiderada se a negociação for mais vantajosa para a categoria em questão. Esse dispositivo deverá ser extinto com o fim da CLT. No caso da educação, nós teremos nosso plano de carreira destruído num curto espaço de tempo.

2. Previdência
Serei direto neste ponto. A proposta é que as mulheres se aposentem com 60 anos e os homens com 65 e também prevê o fim da indexação de todos os benefícios previdenciários com o salário mínimo. Oras, as aposentadorias, bem sabemos, que em muitos casos já não suprem todas as necessidades dos beneficiários, imaginem se os reajustes não forem pelo salário mínimo? Teríamos um achatamento desses valores que prejudicaria a qualidade de vida das pessoas.

3. Fim da política de valorização do salário mínimo
Nos últimos 10 anos com essa política tivemos um aumento real no salário mínimo de 76,5%. Esse índice foi de AUMENTO REAL, assim mesmo, em caixa alta, pois foi esse aumento real que proporcionou o aumento do consumo das pessoas, que significou na prática mais comida na mesa, mais conforto, mais inclusão. Afinal numa sociedade capitalista é de dinheiro que estamos falando. O fim dessa política compromete e fere de morte também os aposentados citados no item anterior.

4. Precarização da legislação ambiental
O Brasil tem em suas mãos uma das mais exuberantes naturezas do planeta. As leis ambientais atuais já são insuficientes para conter a ânsia por lucro dos nossos amados latifundiários do agronegócio. O atual código florestal, por exemplo, já é fruto do acordo conveniente do agronegócio com os políticos que eles financiam no congresso nacional. Essa mesma trupe de exploradores querem a flexibilização das leis bem como o sucateamento das instituições que fazem o pouco controle que temos das irregularidades cometidas por essa turma. Sem falar que quase todo o trabalho escravo, essa vergonha nacional, que ainda temos em nosso território é feito pelas mãos dos mesmos latifundiários que dominam uma grande fatia da política brasileira.

5. Fim das vinculações orçamentárias obrigatórias para saúde e educação
Atualmente no Brasil há um mínimo de investimento, estabelecido na legislação, para saúde e educação. Uma porcentagem do orçamento que deve financiar a saúde e a educação que significa que os entes federados (municípios, estados e união) são obrigados a gastar aquele dinheiro nessas duas áreas. O dinheiro carimbado, pra esse fim, deveria garantir a maior eficácia nos gastos e na maior qualidade dos serviços prestados ao cidadão. Mesmo com essa vinculação, com esse mínimo, o que vemos já é um desgoverno com a saúde e a educação. No caso da educação, especificamente, no estado do Paraná já temos e vivemos escândalos atrás de escândalos e notadamente agora por último a Operação Quadro Negro tem investigado desvios milionários na construção de novas escolas no Estado. Aí eu pergunto, e se retirássemos esse "carimbo", o que aconteceria? Os gestores, de modo geral alegam que o tal "carimbo" engessa a administração, mas essa esse suposto engessamento não tem impedido nossos honestos governantes de surrupiarem o dinheiro dos cidadãos.

6. Privatizações
Aqui temos um grande problema. Nos anos 1990 já tivemos uma péssima experiência nesse campo e, sinceramente, não gostaria de reviver. Naquele período entregamos valioso capital estatal à iniciativa privada a preço de banana, literalmente. As empresas estatais são financiadas pelo dinheiro público, do contribuinte integralmente. Essas empresas investem bilhões em pesquisa e desenvolvimento para tornarem-se de interesse estratégico de qualquer país sério e comprometido com o seu povo. FHC entregou tudo de bandeja para o capital internacional, com foco expressivo no caso da Vale do Rio Doce (esse era o nome à época) sob a justificativa de que o estado não tinha competência pra gerir tal empresa. Oras, o desastre de Mariana hà poucos meses é obra da competência da Vale (esse é o nome atual)? A Ponte para o Futuro de Temer prevê a privatização do que restou. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobrás e etc. A Petrobrás já vem sofrendo o mesmo processo de desmonte midiático sofrido pela Vale do Rio doce e é provável que já haja os possíveis compradores. Afinal, o golpe foi uma compra de porteiras fechadas não é mesmo?

Acho que 6 pontos já são mais que suficientes por hoje. Leiam, duvidem, investiguem, pesquise, busque informações mais aprofundadas sobre esses temas. Não fique repetindo feito idiota o que a grande mídia brasileira tem dito pra você acreditar. Entre no site do PMDB, aqui, baixe a Ponte para o Futuro, aqui, leia, releia e tire suas próprias conclusões. Mas faça um favor a sí mesmo: indigne-se, demonstre um pouco de insatisfação. A vida não é bela e é preciso lutar pra manter o que temos, conquistado a muito custo. Não é feio se arrepender e se for o caso arrependa-se de ter vestido a camisa da CBF e ido às ruas gritar "Fora Dilma". Ainda dá tempo de reverter, mas pra isso você precisará acordar do transe em que se encontra.

Indigne-se!!

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