quinta-feira, 12 de maio de 2016

Golpe e Azar

O azar da nação brasileira não será concretizado numa sexta-feira 13. Qualquer acontecimento na próxima sexta-feira 13 será bem vindo perto do que estamos vivendo nos últimos dias, semanas e meses. O desfecho que se deu hoje às 06:34 da manhã não é ainda definitivo apenas por uma questão de tempo, mas também não é resultado de um processo de impedimento puro e simples, por acusação de crimes de responsabilidade da presidenta da república com os famigerados decretos presidenciais não autorizados pelo congresso. Há que se constatar que tivemos nesses últimos 14 anos apenas um lapso da hegemonia da direita brasileira, da elite nacional. Foram 502 anos da pior elite mundial no comando de um país. Uma gente que jamais admitiu e jamais admitirá que a classe operária brasileira alcance direitos que façam com que questionem os privilégios, de castas, estabelecido ao longo dos cinco séculos de dominação elitista. 

Não há azar maior no mundo que nascer em um país com uma elite dessa iguala. Nenhuma sexta-feira 13, por pior que ela seja, pode suplantar tal azar. Os políticos de plantão, que representam a nacão brasileira, são reflexo fiel de uma sociedade que aprendeu, ao longo do tempo, a ser medíocre, hipócrita, egoísta, demagoga, esnobe. A meritocracia é a alma dos negócios do nosso povo. Fez por merecer, merece, não fez, foda-se. Não há injustiça social, decorrente da estrita falta de oportunidade, que faça esses arautos da ética olhar para a base da pirâmide. Não existe meios de fazer essa turma entender que quando não há oportunidades iguais não pode haver mérito no esforço individual.

Um país que consegue, em pouco mais de 120 anos de república, viver raros espasmos democráticos, não pode ser levado a sério. A mídia estrangeira tem acertado em cheio nesse ponto. Nosso país vive de golpes, nossa frágil democracia é forjada e temperada a ferro frio de golpes. Em cada dia 15 de novembro comemoramos a proclamação da república que na verdade foi o primeiro golpe de estado brasileiro. Em 1930 mais um golpe de estado, quando o então presidente Washington Luiz foi deposto por militares, que na sequencia entregaram o poder a Getúlio Vargas. Em 1938 o Plano Cohen fez mais uma vez com que o Golpe entrasse em cena e então dá-se início ao Estado Novo, contando com o medo que o povo tinha do fantasma "comunista". Em 1954 o Golpe tem a cara e a voz do lacerdismo incendiando o país e o primeiro corpo de um presidente, democraticamente eleito, como resultado do golpismo. 10 anos depois, no afamado 31 de março de 1934, mais um Golpe, dessa vez resultaria em 21 anos de obscurantismo no Brasil, repressão, tortura e morte.

São muitos golpes. Em todos eles a história não perdoou aqueles que não tomaram o lado do povo. Em todos eles o povo foi o que mais sentiu e sofreu, pois ao final e ao cabo da festa, quem paga a conta é só o povo. Não vou nem citar o fato de que ao final da ditadura tivemos ainda uma lei de anistia que inocentou todos os torturadores do período, numa clara manifestação de golpe dentro do golpe, já que o Brasil é o único país que não puniu os criminosos do período. Em todos esses movimentos golpistas sempre tivemos o estrelato de uma burguesia faminta por privilégios e também a sanha do capital internacional em manter o nosso país sob controle.

Agora não é diferente. Dilma cometeu muitos erros em seu governo. Isto está bem claro pra todos nós. Mas será que se fosse homem teria sido deposto dessa forma? Não acredito. Eis o azar mais uma vez não é mesmo: nascer mulher numa sociedade altamente machista como a nossa. Azar que nada. Dilma é a única presidenta que não se acovardou e nem vai. Permanecerá de pé, honradamente, até o fim desse processo e, com certeza, entrará pra história pela coragem e altivez que só as mulheres podem ostentar quando são inocentes. Nossa primeira presidenta. 

Azar é dos pobres iludidos defendendo bandeiras que não são suas. Azar é dos pobres brasileiros que terão seus poucos direitos arrancados na mão grande. Azar é dos pobres, sempre é deles, conscientes ou não de seu papel, o azar é sempre deles em todo o processo golpista.

E o PMDB? O que dizer de um partido que nunca conseguiu ter um candidato a presidente com reais chances de se eleger, mas que já tem 3 presidentes emplacados na nossa triste república? Acho desnecessário comentar sobre o oportunismo e o golpismo deste partido e daqueles que dançam nesta ciranda!

Em um último desabafo, ainda sobre o azar, quero apontar meus dedos todos para o judiciário brasileiro. Quem faz o controle social dessa rapaziada de toga? Temos inúmeros casos de erros na ação do judiciário brasileiro ao longo da história e sabemos também qual é a origem desses dignos homens da justiça brasileira. Sabemos de onde vem e a quem servem. O judiciário brasileiro representa um muro inexpugnável e que jamais será alcançado pela classe trabalhadora. O que esperar de uma classe dessas? Nada além da omissão conveniente, aquela que trará o cumprimento de todos os seus desejos. 

Não acredito na reversão do quadro! Desculpem o realismo... Acredito na luta que faremos, no esforço monumental para a manutenção dos poucos direitos que conquistamos nesse arremedo de democracia que tivemos, mas Dilma não voltará a assumir suas funções no executivo nacional. Mais que isso, teremos um longo tempo pela frente pra emplacarmos novamente um presidente do campo da esquerda, e isso apenas se dará na falência do modelo que ora se apresenta, liderado pelo golpista Temer.

Para o azar da maioria e a "sorte" de poucos.

Que venham mais 500 anos!

Nenhum comentário: