quarta-feira, 23 de abril de 2008

A praça

Triste e alegre. A praça com seus pequenos bancos, sempre colocados perto das árvores. Durante o dia as árvores dão sombra ao descanssante, durante a noite fornecem bocados de escuridão aos amantes.

Os bancos da praça, com seus encostos e assentos, decorados com propagandas do comércio e de políticos locais, presenciam inúmeras histórias. Ouvem silenciosamente os passantes passando em frente, no leve passeio à tardinha. Alegram se contagiosamente com a alegria contagiosa dos meninos.

Os bancos ouvem suas alegrias e tristezas, as dos passantes, passeantes. Pronunciam-se silenciosamente a favor da reconciliação dos enamorados. Propõem trégua, diante das guerras travadas acirradamente pelos meninos que ali por perto brincam. Percebem o choro, embalado em muita tristeza, de um ou outro, quando por algum motivo não o deixam brincar. Aconselham os pais nos momentos de reflexão culpada pelo muito excesso rigor como trataram seus filhos, suas vidas, seus amores.

Os bancos da praça, as árvores da praça, os passeios na praça.

O menino, pequeno que era, já brinca na praça. O homem, já velho, que hoje apenas contempla sua vida passando, passeia na praça. Olha os meninos com suas bicicletas, bolas e correrias e reconhece a praça. Ele também já a fez. Ele já foi ela e agora vê os seus meninos construindo o que já, há muito, foi feito por ele. Passa o tempo, passa o vento e a praça não vai a lugar algum além daquilo que significa pros homens e meninos que a fizeram.

Todas as brincadeiras brincadas com sinceridade honesta fazem parte da sua história, da praça. Cada árvore plantada com mãos juvenis foram percebidas por ela. Todas as emoçoes, adultas ou infantis, ainda estão lá, na praça. Cada sorriso exposto no rosto de qualquer menino, homem talvez, que brincava por ali, faz parte dela. Todos os pensamentos que os homens deixaram gravados nos bancos e cascas das árvores também fizeram com que a praça se tornasse a praça. O sol e a chuva de todas as estações do tempo regaram e fizeram crescer a vida em seus canteiros. Permitiram que tudo pudesse ser sonhado, ali. Ela sonhou. Ela se tornou gente. Ou ente? Eis a praça, que sabe todos os segredos. Que conhece os homens que ali brincaram de gente grande. Que sabe dos sonhos dos meninos, que brincam brincadeiras de ser gente grande. Eis a praça. Viva.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

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