sábado, 12 de abril de 2008

Final feliz

À noite, olho o céu
À noite vejo a lua
À noite penso no sol
Pássaros voam na noite
Meu pensamento se desfaz
E se refaz numa agonia
A solidão me açoita
É pesada a tortura
De dia olho o céu
Só vejo escuridão
Não vejo muita coisa
As flores estão todas abertas
O mundo se movimenta
O movimento é continuo
É dinâmica a vida
Energia que alimenta
Os sonhos de anteontem
Os amores de depois de amanhã
Os sabores que o vento traz
Os odores que sempre ficam
As dores que atormentam
A tristeza que acompanha
A morte não é estranha
Mas viver é bem pior
Olho tudo o que gosto
Interessa-me as formigas
Os cachorros, os gatos e os besouros
O que me interessa
Admiro, admito
Adjetivos não encontro
Pois quero levar tudo comigo
Não importa pra onde for
Talvez nem vá, fique
Mas não quero ficar
A tortura esgota
O desgosto apavora
Assim não há descanso
Não há paz no silencio
No escuro só haverá choro
Medos de criança
A chuva molha a casa
A água entra por todos os lados
Nas frestas e buracos
No escuro ninguém vê
Ela escorre e encharca
Os vapores se dissipam
As lembranças afloram
O vento e a chuva
A noite e o sol
A lua e os besouros
Fazem muito bem
Mesmo fazendo mal



SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2007.

Nenhum comentário: