quinta-feira, 17 de abril de 2008

Beira de estrada

Sentado na beira de uma estreita estrada de terra, bem pertinho de um pequeno riozinho ele morava. Sozinho ele morava ali naquela solitária casa na beira da estrada. A casa feita de madeira, peroba da boa, de corte rude. Nobre árvore escondia do frio e da chuva aquele homem. Às vezes dava pena de ver, fazia triste figura olhar daquela maneira, ele acocorado, sobre uma pedra sentado, à beira da estrada.

Fumando enrolado o seu cigarrinho de palha, acendido com o binga derramando de querosene. Acompanhado dos muitos mosquitos juntos, ladeado de pequenas pedrinhas que tentava contar inutilmente. Quem passava por ali, já via não o homem, mas apenas a figura que atrás da fumaça do cigarro existia. O que fazia ele ali? Dias todos ali? Onde ele estava? Perguntavam quem passava, os homens outros. Dias que ele não estava lá no lugar costumeiro, estranhavam. Aquele homem vivia só. Sua casa, sua estrada e seu cigarro. Suas coisas. Seu mundo? O sujeito estranho era.

Não sorria, não falava quase, mas em seus olhos, algo dizia que bom era. Levantava bem cedo, ainda com o cheiro doce da enluarada lua. Um pouco de lenha, fogão aceso e logo a casa toda impregnada pela presença da visita diária que saia do fogo. A amiga fumaça. Com a sábia paciência, devagar colocava no fogo a água pro café. Enquanto fervia a água ele podia, apaticamente, lavar o rosto. Antes de aparecer os raios primeiros do sol da manhã, lá ele estava, caminhando sem pressa pela estrada sua.

Café tomado, roupa vestida, rosto lavado e limpa alma, lá ia. Passos seus um após o outro, com paciente insistência. Pra onde caminhava com firmeza tanta e exagerada tal homem? O homem ia, apenas, olhar o que seu era. As pedras da estrada lhe davam passagem. As flores, o mato, as árvores e os bichos lhe compreendiam. Ele ia só.

Mas longe não ia de sua casa, seu mundo nunca deixava. Às vezes queria sair, mas não conseguia fugir do seu esconderijo. A vida daquele pobre rico homem era a rotina de qualquer um invejada. De muitos que querem tê-la com coragem ou covardia. Mas ele não, medo não tinha.

Pensava que poderia ter casado e filhos talvez tivesse tido. Em seguida logo pensava mais nisso não. Uma mulher aceitaria contrariada, viver a sua vida. Ele também contrariado viveria dividindo a sua com ela. E com os filhos.

Vivia só, mais facilmente.

Preferia a tristeza alegre da solidão, onde ele era realmente feliz. Esquecia-se de tudo, todos os pensamentos esvaziados de sua mente. Voltava a ser novamente o homem. Só, em sua casa, com as coisas suas. Seu cigarro, sua companhia com a estrada e o rio.

SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2008.

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