sábado, 12 de abril de 2008

Divindade

O que é Deus? Onde está Deus? Segundo alguns autores, Deus está morto. O matamos. Outros grandes pensadores dizem que foram nós, homens, quem fizemos Deus. Mas Deus está no pensamento humano. O pensamento é Deus. Se o pensamento é Deus, e isso é condição pra nossa existência, então somos deuses. Se a condição de nossa existência não é o pensamento, se nossa existência condiciona o pensamento, então continuamos a ser deuses. Considerar que nascemos com idéias que representam verdades absolutas pode ser arriscado.


A razão nos leva exatamente a um local onde Deus é e está. Está em nós e em nenhum outro lugar. Deus sou eu e você e nenhuma outra pessoa ou ente. Eu fiz Deus à minha imagem e semelhança e não ao contrário. O homem pode se libertar dos grilhões onde ele mesmo se prendeu. A compreensão de liberdade tem que avançar até o ponto em que Deus não mais seja um ente externo ao homem e sim o próprio homem. O mesmo homem que cria é o que destrói. O mesmo homem que ama é o que odeia. O homem é o réu e o juiz. Segundo os conceitos próprios de cada um, o homem deve ser capaz de perceber seus limites e os do outro.

O conhecimento sobre o as coisas deste e de outros mundos não pode torná-lo escravo de seus medos. O medo nesse processo se auto extinguirá, pois o desconhecido obscurece mentes e corações humanos. Será que nosso Deus não quer que conheçamos? Estamos proibidos de investigar o que nos intriga? Não podemos buscar soluções para nossos problemas porque Deus não permite? Deus!!! Deus quer que busquemos sim. Porque somos deuses. Porque nos permitimos viver conforme nossas próprias leis.

E que leis são essas?

Leis que não nos privem de nada. Leis que não escravizem mentes. Leis que libertem, finalmente, o homem da servidão imposta por ele mesmo, e sempre creditada a Deus. O céu e o inferno está longe e perto, sutil e saliente, dentro e fora, animado e inanimado. Céu e inferno são extremos da mesma coisa que se juntam ao final. Céu e inferno são justificativas humanas para culpar o homem de um crime que é divino e também para imputar aos "puros de coração" todas as virtudes sub-divinas que o homem não "possui".

Extingamos tais conceitos de nossa vida, pois eles apenas nos seguram num estágio que obrigatoriamente temos que ultrapassar. Temos que sair das trevas. Temos que nos tornar deuses. Ao encontrarmos Deus em nós mesmos, estaremos finalmente alcançando o objetivo de todas as religiões. Saberemos quem somos.

Ousaremos nos permitir viver sem culpas. Colocaremos nós mesmos como prioridade da vida, sabendo que nós não somos mais indivíduo. A preocupação comigo já não terá validade se ao meu lado alguém sofrer. Se ao meu redor alguém ainda não tiver alcançado tal estagio de compreensão, também eu não terei chegado. Assim, caminhemos rumo ao desconhecido sem medos e superstições. Sem trégua. Sem pausa. A vida nos reserva grandes surpresas e vamos estar preparados. Nossa existência será justificada pelos nosso atos e julgadas pelo grandioso juiz: nossa própria consciência. Se permitirmos, podemos voar. Podemos ser. E sendo, fazemos com que nosso pensamento se volte para o que somos. É um caminho sem volta. Talvez ainda tenhamos que passar por muito fogo e este é o elemento que tudo pode. Destrói, mas de suas cinzas brotam vidas novas. Novo homem. Novo Deus. Realidade diferente.



SILVA, Edmilson R. Textos Sobre Assuntos Aleatórios, Mas Sem Importância Alguma. Edição Única. Kaloré: Liberdade, 2010.

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